LEMBRANÇA DA TERRA E DE JOANA D'ARC
Denis defendeu o Espiritismo nas tribunas e nos livros, mas nunca deixou de ser um homem do seu tempo, atento a tudo que o cercava.Era um nacionalista. Amava a França, particularmente a região de Lorena, onde nasceu. Sua terra natal tinha algo especial, que o fascinava: lá vivera Joana d'Arc, a heroína francesa que recebera, tanto quanto ele, a influência da cultura céltica.Desta vez, o francês Léon Denis nos traz lembranças de paisagens e pessoas da região de Lorena, onde nasceu:"Toda a minha infância foi embalada pelo relato das depredações causadas pelos exércitos inimigos. À sua aproximação, os habitantes das aldeias, levando o que tinham de mais importante, fugiam para os confins dos bosques, onde erguiam barracas, às pressas. (...) De todos esses fluxos e refluxos de exércitos, desses cercos e choques violentos, a Lorena sofreu mais do que qualquer outra província francesa. Isso motivou um patriotismo ardente que persiste através dos séculos."Muitos críticos apressados não entendem o patriotismo ardente de Denis. Após o relato acima, apenas perguntaríamos: como não ser um nacionalista, tendo passado a infância em tal lugar e sendo marcado por tais vivências?Continuemos a acompanhá-lo, agora que descreve detalhes da paisagem de sua terra:"Andei, frequentemente, por essas cristas e esses planaltos encrespados de carvalhos, de faias e negros abertos entre os rochedos de arenito vermelho e de ruínas de velhos burgos, pousados como ninhos de águia sobre os cumes".Que sensações experimentava o andarilho em meio a tal paisagem?"Quando um tremor passa sobre as massas de verde e faz ondular o cume das grandes árvores da floresta, quando a voz das torrentes e das cascatas se eleva do fundo dos vales, a alma iniciada compreende melhor a beleza eterna, a suprema harmonia das coisas e vibra em uníssono com a vida universal. É o que senti não somente sobre as alturas de Saint Odile, mas também sobre a maior parte dos cumes dos Vosges."Se a natureza remete Denis às lembranças desta vida, os monumentos, por sua vez, lhe trarão à memória vidas anteriores, passadas entre os celtas:"Pessoalmente pude observar em Lorena muitas dessas rochas arrumadas em altares, com cavidades circulares, espécie de pias de água-benta druídicas. (...) Preferimos os velhos altares em plena floresta, onde os romanos nunca entravam, ficando nas cidades e nos grandes vales abertos às rotas comerciais. Eu admiro os rochedos antigos na floresta onde nós, celtas, nos sentimos mais em casa."Quem era Léon Denis? Um ermitão, vivendo nas alturas, longe dos homens do seu tempo? Claro que não. Voltando a Lorena, através do seu relato, descobrimos algumas curiosidades."Gostava de conversar com os lenhadores e os carvoeiros da floresta de Vosges e constatei que se reencontra entre eles tudo o que caracteriza a raça céltica, a elevada estatura, a alegria, a hospitalidade, o amor à independência".Mas de todas as lembranças, a que mais emocionará Denis, em seus passeios e meditações, será sempre a de sua amada Joana d'Arc:"Mas é, sobretudo, o vale de Meuse que faz voltar minhas lembranças e afetos. Minha cidade natal, o lugar de meu último nascimento, está separado de Vancouleurs por uma floresta; minhas excursões a Domremy são incontáveis. Uma atração poderosa me reconduz a ela. A colina de Bermont, com os bosques densos, as fontes sagradas, a velha capela onde Jeanne d'Arc ia sempre orar, conservou todo seu encanto poético".Léon Denis evoca muitas dessas tradições para explicar a personalidade de Joana e o contexto em que ela viveu e cumpriu sua missão. Nas exaustivas pesquisas, recorreu também ao historiador Henri Martin, de quem colheu informações que lhe permitiram completar sua pesquisa sobre a influência céltica na vida de Joana.Assim descreve os arredores onde viveu a heroína francesa:"Próximo à casa de Joana, subia o outeiro, a cujo cimo, coberto de mata, era dado o nome de Bois Chesnu. À meia encosta, de sob grande faia isolada, borbotava uma fonte. Em suas águas claras, buscavam a cura os enfermos. Seres misteriosos, o gênios das águas, das pedras e dos bosques, as senhoras fadas frequentavam a cristalina fontes e a faia secular, que se chamava o Belo Maio".E acrescenta: "Ao entrar a primavera, vinham as donzelas dançar embaixo da árvore de Maio, bela como os lírios, e pendurar-lhe nos galhos, em honra das fadas, grinaldas que desapareciam durante a noite, segundo a voz geral".Léon Denis não se comentava com a leitura de biógrafos de Joana d'Arc. Ele voltou aos lugares onde ela viveu, a fim de deixar aflorar experiências mais sutis:"Como Joana, eu gostava de visitar os bosques, as fontes sagradas, as árvores seculares em volta das quais se desenvolvia o 'círculo das fadas'. Que eram essas fadas de que se trata um pouco por todas as partes de Lorena Sem dúvida, uma vaga e longínqua lembrança das druidisas de vestidos brancos, celebrando seu culto sob os raios prateados da lua."Antes que alguém estranhe, esclareço que as fadas fazem parte das tradições célticas do povo francês.Os relatos deste artigo estão no livro "O Gênio Céltico e o Mundo Invisível", de Léon Denis, traduzido por Cícero Pimentel e editado, pela primeira vez no Brasil, pelo Centro Espírita Léon Denis.