Quinta-feira , 31 de Dezembro DE 2009

ANO NOVO!

Ano Novo! Ano Bom!

Para quantos, aí, esta exclamação equivalerá ao “Terra! terra!” gritado pelo gajeiro que, outrora, no cesto de gávea da nau acossada pelo temporal, vigiava, ansioso, terra onde se abrigassem!

Para quantos ele traduz a única esperança longínqua, como para um misero náufrago que se debate na agonia da morte, entre o mar e o céu, agarrado a um frágil destroço do seu navio, a asa branca de uma vela perdida no esfumado plúmbeo do horizonte, representa a salvação! Para quantos, meu Deus, para quantos!

Ano Novo! Finda hoje o ano velho. A humanidade pára e olha para trás. Toma fôlego nesta carreira incessante e desordenada da vida. Reflete, rememora e chora ou sorri, consoante a marcha feita. Por cada um que sorri ao lembrar-se de alegrias que gozou, de felicidades que fruiu, quantos chorarão amarguradamente ao recordarem bens que perderam, felicidades que se esvaíram, dores que lhe pungiram o ser?

A quantos a saudade torturará nas suas algemas aveludadas, a quantos matará com o doce veneno dos seus filtros?

Quantos olharão para este ano que se vai e cerrarão desesperadamente os punhos, invectivando-o, insultando-o, maldizendo-o, porque não trouxe senão desenganos, porque lhes não deu senão sofrimentos? Meu Deus! Nem eu sei!

Ao olharmos para aí, não vemos senão gritos de blasfêmia ou de aflição! Há risadas de doidos, que são acusações, há sorrisos de resignação que equivalem a sombrias tragédias de dor.

Uns choram entes que lhes fugiram nas asas da morte, para o campo desconhecido; outros, pessoas que se ausentaram para longe, acossadas pelo aguilhão da necessidade, guiadas pela ambição ou pela fome! Outros olham vagamente para o infinito, através de entristecida lente de saudades e lágrimas, como querendo ver, lá, muito longe, o Deus do seu amor, que lhes dê esperanças, que lhes dê forças! E, depois, o pensamento, que acompanhou o fito melancólico do olhar, baixa e rasteja pela terra na busca dolorida dos pais velhinhos que têm, muito longe, perdidos na sua aldeia pobrezinha, dos filhos amados, da esposa, dos amigos, aqui e ali perdi­dos, como pedaços da sua vida de párias, de expatriados!

E esse pensamento os encontra, envolve, acaricia docemente, enquanto os olhos deixam correr lágrimas, como que derretendo, em gotas, o turvo cristal por onde conduzia ao coração as imagens amadas desses que o pensamento via nas regiões distantes!

Por cada um que diga hoje entristecidamente: “mais um ano” - quantos dirão, em soluçada amargura, com o coração apertado e a alma escurecida - “ainda só mais um”.

Aqueles têm pesar pelo que perdem; estes têm medo pelo que ainda terão de passar aí, e olham para o termo da jornada em que se arrastam, cansados, lacerados, pungidos, como o marinheiro perdido em navio desarvorado olha para o farol, que na costa distante brilha através da cerração e da tempestade, como que gritando-lhe na sua insistência luminosa: Coragem! coragem! que aqui está a salvação! E eles, os desgraçados, lá vão remando, lá vão lutando, em choros convulsos, em gemidos fundos, a braços com a dor, com a fome, com as perseguições, com as calúnias, com a tristeza, com as saudades, olhar fito numa esperança, pensamento elevado ao Deus de misericórdia, suplicando-lhe ânimo para chegarem ao termo da jornada com a consciência de quem cumpre rigorosamente um dever.

Por cada onda mais alterosa que ameaça tragar-lhes o barco, eles supõem perdido o norte com o perderem de vista o farol; mas a onda baixa, o barco passa e eles voltam a ver a luz, já mais perto, já mais acariciadora!

Estes são os tristes! São nossos irmãos, são nossos companheiros na amargura.

Não cogito de saber quantos espíritos fortes, quantas almas de aço, finamente temperadas, acharão piegas o que digo. Se à rijeza da sua têmpera corresponder à pureza das suas consciências e a beleza das suas almas, poderão estranhar esta linguagem, como um feliz da vida estranhará a lamúria aflitiva de quem esmola por ter fome, mas certamente se apiedará desses a quem nem sequer é dado rastejar por sob as mesas onde gozam de seu festim.

Não conhecerão a tristeza das almas compassivas, que choram as suas desditas e as desditas alheias, que se torturam na amarga contemplação dos sofrimentos que aí alanceiam infelizes a quem se não pode levar socorro e a quem nenhum socorro bastaria; não conhecerão as cavernas pavorosas das almas onde tumultua o mal, o negrume daquelas onde vive a dor, a aflição daquelas onde esgarça a saudade. Mas, porque as não conhecem, elas não deixam de existir. Se não podem dar aos tristes um pouco da alegria que lhes sobra, não pensem mal dos que vivem nas gemônias da vida, sofrendo por si ou sofrendo pelos outros.

Nós, tu e eu, cá estamos na paragem costumada, desde que nos conhecemos. Olhamos ambos para mais um ano aí passado e nem tu nem eu podemos sorrir, se não bem pela mágoa das coisas próprias, pela mágoa das coisas alheias.

Quanta desolação vemos estendida como escuro lençol a cobrir o cadáver do ano findo!

Para qualquer parte do mundo que se olhe, vêem-se lágrimas, sofrimentos, maldades. Ë o que há. Não há coração que não tenha sido atingido, no espaço decorrido desde a nossa outra paragem; não há alma que não tenha sido provada. E por cada uma que resiste à prova, quantas sucumbem!

E se com a vista procuramos os lugares simpáticos ao nosso espírito, onde a nossa saudade nos prende e que o nosso amor consagra, então que doloroso pungir! Que fundo pesar, por nós e pelos que vemos! Almas esmagadas, consciências torcidas, afetos partidos! Por toda a parte a desordem e a inquietação; por toda a parte ruínas de caracteres, destroços de vidas! Ruem reputações e ruem os templos! Ardem relíquias seculares, destroem-se belezas artísticas! Aniquilam-se liberdades que foram cimentadas em sacrifícios heróicos, anulam-se conquistas de gerações de santos, de mártires ou de valentes! Arrancam-se esperanças aos corações e substituem-se por confrangedoras agonias; desunem-se parentes e amigos; partem-se convivências, espancam-se crianças que eram o lenitivo e o conforto de infelizes; perseguem-se os homens como quem monteia feras; espalha-se o ódio; a denúncia e a espionagem elevam-se à categoria de virtudes; o saque arvora-se em direito, o arbítrio em Lei, a perseguição em lema! Não mais poder pensar livremente, senão no recesso íntimo de cada cérebro; não mais poder falar livremente, sem receio de que sobre as palavras e sobre quem as pronunciar corram os ferrolhos das casamatas das fortalezas! E para quê? Que tétrica ilusão desvaira aí tanta gente! Mas para que tudo isso, se a Morte espreita constantemente os homens e a cada mo­mento ceifa impiedosamente senhores e escravos, grandes e humildes, perseguidores e vítimas, ricos e miseráveis, triunfa-dores e vencidos!

Parece que um temporal de vesânia se desencadeou sobre a nossa terra! Parece um triste hospital de loucos, onde cada habitante apresenta uma loucura nova! Tudo isso nos lega como lúgubre herança o ano que finda! E, ai de nós! que não vemos que o que vem nascendo, envolto no arrebol dourado da primeira manhã de janeiro, traga, nas suas faixas, promessas de dias mais consoladores! Aqui e ali luzem esperanças como fúlgidas centelhas; mas, são quase sempre tristes ilusões que se esvaem, criadas pelo nosso desejo, alimentadas pelo nosso anseio. Surgem e vão-se, como fogos-fátuos, deixando cada uma mais uma mágoa a assinalar o lugar onde a nossa alma as acalentou!

A vida, aí, é assim! Quem dera que pudéssemos rir dela, como o Eça!

Rir! E ele ri? Crês que ele ria? Atenta! Escuta e ouvirás, no fim de cada casquinada dele, um soluço de dor a estrangular-lhe a alma! Ele ri como um Rigoleto! Ri para os outros, que se encantam com a música dos seus risos; mas, chora, chora lágrimas de sangue vivo, arrancado pela tortura à sua alma de triste!

E quantos rirão assim, aí? Meu amigo, o ano vai findar. Tu dirás, talvez, “ainda só um”!...

Não sei se o poderás dizer com razão, ante a justiça absoluta. Ante a justiça relativa, a que se vê, não posso deixar de reconhecer que a tens. Ë um mal que já passou. Não deixes, porém, que a tua fantasia te abra o coração a novas esperanças cor de rosa. Olha que essas esperanças, como as rosas de que vestem a cor, presto murcham e, ou secam, deixando em nossa vida a amarga saudade dos sonhos lindos, desfeitos, ou apodrecem e dão à nossa sensibilidade a repugnância das coisas que despertam nojo!

Há esperanças que são como os virginais corpos das namoradas: apetecem-se e amam-se, enquanto têm vida; fedem e repugnam depois de mortos!

Não te deixes fascinar pela miragem. Aceita a vida como ela é aí: apanágio da dor, laboratório do aperfeiçoamento.

Se assim o fizeres, não irás chocar, a cada passo, com obstáculos que te farão desesperar.

Segue como tens vindo. Deixa-te guiar pela Consciência, que ainda é o melhor moço que Deus prestou à tua cegueira.

Não prestes ouvidos ao vozear dos outros. Ouve só os que choram, para consolá-los; os que sofrem, para os aliviar.

Não te deixes vencer pelo desalento, nem pelo desespero. Em cada hora Deus põe uma felicidade; e temos, às vezes, mais próxima, aquela que nos cabe, do que podemos imaginar, ainda nas mais fagueiras esperanças a que a nossa fantasia dê vida.

Não olhes mais para trás, senão para tirar lição e para enviar os teus sorrisos e as tuas saudades às recordações boas que o tempo deixou cair na tua vida triste e amargurada.

As tuas afeições, as tuas alegrias, as tuas crenças, as pessoas que amas, não as deixes no passado: - nem os que morreram, nem os que aí tens. Trá-las contigo, prende-as a ti, por modo que para todas haja sempre o presente, ante a tua vista, ou ante o teu pensamento.

Não deixes caída na vala do esquecimento senão a ingratidão dos outros. Os teus próprios atos ou pensamentos maus ante o teu olhar, para emenda e repulsa; os atos dos outros para te apiedares, para perdoares a eles e para os evitares em ti.

E nesta altura da vida, montanha escabrosa e íngreme para ti, onde te tenho vindo acompanhando - ai de mim! - sem te ter prestado auxílio eficaz nem valedor, vou deixar-te, por agora. Olhemos mais uma vez para trás: não para contemplarmos o quadro desolador, efetivamente desolador, que se desenrola à nossa vista; mas, para nos alegrarmos ao ver a distância enorme, eficaz e utilmente percorrida, na ascensão desse Calvário.

Está vista? Toma a tua cruz e segue avante.

Coragem, meu amigo; coragem, meu irmão!

(Transcrito do livro “Do País da Luz”, Fernando de Lacerda,

vol. IV, pags. 211 a 217, 2.a ad. FEB.)

Fonte: Reformador - Janeiro, 1975

Julio Diniz

 

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Domingo , 27 de Dezembro DE 2009

AS PROVAÇÕES

 

           Habituamo-nos a considerar a dor em qualquer modalidade como conduto punitivo ou bitola disciplinante para a nossa alma, quando enclausurada na carne. E graças a essa conceituação injusta, condicionamos a dificuldade, o sofrimento e a pobreza ao crivo de provações lamentáveis, sob o impiedoso jugo da nossa própria revolta.
            Todavia, as provações mais rudes não são as que se manifestam como abençoado látego de correção.
            Há provações ignoradas que muitos disputam, por desconhecer-lhes os perigos e a gravidade.
            O homem economicamente livre, de burras recheadas de moedas de ouro, responderá pelo uso que faça das disponibilidades monetárias.
            O industrial possuidor de longa folha de empregados dirá da própria conduta, na direção de tantos destinos.
            O agricultor poderoso com dezenas de agregados apresentará contas de como utilizou a dependência alheia nas glebas da terra de sua propriedade.
            O governante será convidado a informar quanto ao uso dos dinheiros públicos e a respeito da felicidade do povo.
            O médico, o advogado, o odontólogo, o obstetra serão convocados à prestação dos serviços realizados sob a benção do título universitário.
            Igualmente o portador da beleza física, da inteligência brilhante, da palavra escorreita e pena formosa conduzem responsabilidades consigo que representam severas provações...
            Foi por esta razão, e com muita propriedade, que o Mestre, lamentando a posição moral do jovem rico, afirmou ser difícil, aos abastados de qualquer natureza, entrarem no Reino dos Céus, vinculados como se encontram aos bens da Terra.
            Em verdade, temos o que damos, somos o que fazemos o que fazemos e possuímos o que dilatamos em favor dos outros.
            Convertamos nossa dificuldade, nossa limitação, nossa dor, em sublimação evangélica no roteiro da libertação espiritual.
            Quem se suponha feliz, amparado pela fortuna fácil ou pela comodidade social, pelo título honroso ou pela situação privilegiada, resguarde-se na vigilância. Normalmente, os vencidos aparentemente, triunfam porque, não tendo para quem se dirigir voltam-se para Aquele que é a Vida e a Consolação, enquanto os que se encontram muito atarefados com os favores imediatos perecem longe do despertamento para os bens efetivos da experiência planetária.

            Utilizemos, portanto, das nossas disponibilidade evolutivas à luz da Doutrina Espírita, sublimando as provações do caminho de lutas, a fim de alcançarmos a posição ideal de servos felizes, conservando a consciência tranqüila onde a lâmpada da fé imortalista brilhe, bendita, norteando-nos até o fim dos tempos.

João Cléofas  

(FRANCO, D. P. Intercâmbio Mediúnico. Pelo Espírito João Cléofas. Salvador, BA: LEAL, 1986, cap. 56)

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Domingo , 20 de Dezembro DE 2009

PERDA É UMA UTOPIA: NUNCA PERDEMOS NINGUÉM

 

 
"Escrevo essas linhas para que meus familiares compreendam que não pode haver ódio em seus corações. As grandes dores sempre nos tornam mais fortes, na medida em que compreendemos que tudo passa pelas Leis Divinas e somos sempre responsáveis por nossos atos, cumprindo-se assim a Lei de Causa e Efeito.
 

 
Toda 'perda' é uma utopia, não perdemos ninguém, pois estamos unidos não pela aparência física, mas pelos laços eternos do amor, e o reencontro para aqueles que acreditam é inevitável.

Não há em mim marcas ou dores, apenas cicatrizes, que nada significam, pois compreendi as lições que espíritos amigos me ensinaram.

Hoje vivo no auxílio daqueles que precisam encontrar o caminho Divino do amor e assim sou eternamente feliz.

Façam o mesmo, recuperemos os que pelas ruas andam perdidos, levantem os caídos, auxiliem os que choram e viram em cada um deles, minha presença em agradecimento eterno. Com todo meu amor e minha paz!"
 
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Sábado , 19 de Dezembro DE 2009

NATAL E ESPIRITISMO

 

 

Sérgio Biagi Gregório  

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Nascimento de Jesus: 4.1. A Manjedoura; 4.2. Anúncio Profético; 4.3. Uma Nova Luz. 5. A Simbologia do Natal: 5.1. Papai Noel; 5.2. O Espírito do Natal; 5.3. Numa Véspera de Natal. 6. A Mensagem do Cristo através do Espiritismo: 6.1. Um Conquistador Diferente; 6.2. O Espiritismo como Revivescência do Cristianismo; 6.3. Festa de Natal para os Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
De onde vem o termo Natal? Por que 25 de dezembro? Desde quando se comemora nesta data? Qual o espírito do Natal? Qual o significado dos presentes, das árvores e do Papai Noel? Tencionamos desenvolver este assunto analisando o nascimento de Cristo, o espírito natalício e os subsídios oferecidos pelo Espiritismo, para uma melhor interpretação da sua simbologia.
2. CONCEITO
Natal - Do latim natale significa nascimento. Dia em que se comemora o nascimento de Cristo (25 de dezembro). 
3. HISTÓRICO
As Igrejas orientais, desde o século IV, celebravam a Epifania (“aparição” ou “manifestação”), em 6 de janeiro, cujo simbolismo referia-se ao mistério da vinda ao mundo do Verbo Divino feito homem. Em Roma, desde o tempo do Imperador Aureliano (274), o dia 25 de dezembro (solstício de Inverno, no calendário Juliano) era consagrado ao Natalis Solis Invicti, festa mitríaca do “renascimento” do Sol. A Igreja romana não tardou em contrapor-lhe a festa cristã do Natale de Cristo, o verdadeiro “sol de justiça”. Esta festa pronto se estendeu por todo o Ocidente, não tardando também em ser adotada por todas as igrejas orientais. (Enciclopédia luso-Brasileira de Cultura)
O nascimento de Cristo sempre esteve envolvido em controvérsias. Para uns, seria 1.º de janeiro; para outros, 6 de janeiro, 25 de março e 20 de maio. Pelas observações dos chineses, o Natal seria em março, que foi quando um cometa, tal qual a estrela de Belém, reluziu na noite asiática no ano 5 d.C. Como data festiva, é um arranjo inventado pela Igreja e enriquecida através dos tempos pela incorporação de hábitos e costumes de várias culturas: a árvore natalina é contribuição alemã (século VIII); o Papai Noel (vulgo São Nicolau) nasceu na Turquia (século IV); os cartões de natal surgiram na Inglaterra, em meados do século XIX. (Estado de São Paulo, p. D3)
4. NASCIMENTO DE JESUS
4.1. A MANJEDOURA
Conta-se que Jesus nascera numa manjedoura, rodeado de animais. Um monge diz que isso não é verdade, pois como a casa de José era pequena para abrigar toda a sua família, o novo rebento deu-se no estábulo. Em termos simbólicos, a manjedoura revela o caráter humilde e simples daquele que seria o maior revolucionário de todos os tempos, sem que precisasse escrever uma única palavra. Os exemplos de sua simplicidade devem nortear os nossos passos nos dias que correm. De nada adianta dizermo-nos adeptos de Cristo e agirmos de modo contrário aos seus ensinamentos.
4.2. ANÚNCIO PROFÉTICO
O nascimento de Jesus fora anunciado pelos profetas da antiguidade, nos seguintes termos: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus convosco)”. Na época predita veio ao mundo o arauto, o Salvador, aquele que tiraria os “pecados” do mundo.  Os judeus, contudo, não entenderam a grande mensagem do Salvador: esperavam-no na condição de rei, de governador. Ele, porém, dizia ser rei, mas não deste mundo. Enaltecendo a continuidade desta vida, vislumbrava-nos a expectativa da vida futura, muito mais proveitosa e sem as dificuldades materiais da vida presente.  
4.3. UMA NOVA LUZ 
O nascimento de Jesus coincide com a percepção de uma nova luz para a humanidade sofredora. Os ensinamentos de Jesus devem servir para transformar não apenas um homem, mas toda a Humanidade. Numa simples visão de conjunto, observamos o que era planeta antes e no que se transformou depois de sua vinda. O Espírito Emmanuel, em Roteiro, diz-nos que antes de Cristo, a educação demorava-se em lamentável pobreza, o cativeiro era consagrado por lei, a mulher aviltada qual alimária, os pais podiam vender os filhos etc. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Iluminados pela Divina influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes; Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados; instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular etc. (Xavier, 1980, cap. 21)  
5. A SIMBOLOGIA DO NATAL 
5.1. PAPAI NOEL 
Papai Noel, símbolo do Natal, é usado pelos comerciantes, a fim de incrementar as vendas dos seus produtos no final de cada ano. O espírito do natal, segundo a propaganda, está relacionado com a fartura da mesa, a quantidade de brinquedos e outros produtos que o consumidor possa ter em seu lar. À semelhança dos reflexos condicionados, estudados por Pavlov, há repetição, intensidade e clareza dos estímulos à compra, dando-nos a entender que estamos comemorando o renascimento de Cristo. Se não prestarmos atenção, cairemos na armadilha do consumismo exacerbado, dificultando a meditação e a reflexão durante esta data tão especial para a Humanidade.  
5.2. O ESPÍRITO DO NATAL 
O espírito do Natal deve ser entendido como a revivescência dos ensinos de Cristo em cada uma de nossas ações. Não há necessidade de esperarmos o ano todo para comemorá-lo. Se em nosso dia-a-dia estivermos estendendo simpatia para com todos e distribuindo os excessos de que somos portadores, estaremos aplicando eficazmente a “Boa-Nova” trazida pelo mestre Jesus. “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. A perfeição moral exige distinção entre espírito e matéria. A riqueza existe para auxiliar o homem no seu aperfeiçoamento espiritual. Se lhe dermos demasiado valor, poderemos obscurecer nossa iluminação interior. Útil se torna, assim, conscientizarmo-nos de que somos usufrutuários e não proprietários dos bens terrenos.  
5.3. NUMA VÉSPERA DE NATAL 
Conta-nos o Espírito Irmão X que Emiliano Jardim, cujas noções materialistas estragavam-lhe os pensamentos, viera a sofrer uma dor de paternidade, ao ver o seu filho arrebatado pela morte. Abatido pela dor, começa a se interessar pelo Catolicismo. Porém, repelia veemente todos os que pensavam de forma diferente a respeito do Cristo. Do Catolicismo passa para o Protestantismo, mas sem que o Mestre penetrasse no seu interior. Depois de longa luta, Emiliano sente-se insatisfeito e ingressa nos arraiais espiritistas. Emiliano, como acontece à maioria dos crentes, vislumbra a verdade dos ensinamentos de Jesus, anseia por vê-lo nos outros homens, antes de senti-lo em si mesmo.  
Com o passar do tempo, teve outros revezes. 
Numa véspera de Natal, em que o ambiente festivo lhe falava da ventura destruída do coração, Emiliano quis por termo à própria vida.  
Na hora amargurada em que o mísero se dispunha a agravar as próprias angústias, uma voz se fez ouvir no recôndito de seu espírito:
“— Emiliano, há quanto tempo eu buscava encontrar-te; mas sempre me chamavas através dos outros, sem jamais me procurar em ti mesmo! Dá-me tua dor, reclina a cabeça cansada sobre o meu coração!... Muitas vezes, o meu poder opera na fraqueza humana. Raramente meus discípulos gozam o encontro divino, fora das câmeras do sofrimento. Quase sempre é necessário que percam tudo, a fim de me acharem em si mesmos”.
Emiliano estava inebriado. E a voz continuou:
“— Volta ao esforço diário e não esqueças que estarei com os meus discípulos sinceros até ao fim dos séculos! Acaso poderias admitir que permaneço em beatitude inerte, quando meus amigos se dilaceram pela vitória de minha causa? Não posso estacionar em vãs disputas, nem nas estéreis lamentações, porque necessitamos cuidar do amoroso esclarecimento das almas. É por isso que estou, mais freqüentemente, onde estejam os corações quebrantados e os que já tenham compreendido a grandeza do espírito de serviço. Não te rebeles contra o sofrimento que purifica, aprende a deixar os bonecos a quantos ainda não puderam atravessar as fronteiras da infância. Não analises nunca, sem amar. Lembra-te de que quando criticares teu irmão, também eu sou criticado. Ainda não terminei minha obra terrestre, Emiliano! Ajuda-me, compreendendo a grandeza do seu objetivo e entendendo a fragilidade dos teus irmãos”. (Xavier, 1982, p. 40) 
6. A MENSAGEM DO CRISTO ATRAVÉS DO ESPIRITISMO 
6.1. UM CONQUISTADOR DIFERENTE 
A história está repleta de conquistadores: Sesóstris, em seu carro triunfal, pisando escravos e vencidos, em nome do Egito sábio; Nabucodonosor, arrasando Nínive e atacando Jerusalém; Alexandre, à maneira de privilegiado, passa esmagando cidades e multidões; Napoleão Bonaparte, atacando os povos vizinhos. A maioria desses homens fizeram as suas conquistas à custa de punhal e veneno, perseguição e força, usando exército e prisões, assassínio e tortura.
“Tu, entretanto, perdoando e amando, levantando e curando, modificaste a obra de todos os déspotas e legisladores que procediam do Egito e da Assíria, da Judéia e da Fenícia, da Grécia e de Roma, renovando o mundo inteiro. Não mobilizaste soldados, mas ensinaste a um punhado de homens valorosos a luminosa ciência do sacrifício e do amor. Não argumentaste com os reis e com os filósofos; entretanto, conversaste fraternalmente com algumas crianças e mulheres humildes, semeando a compreensão superior da vida no coração popular”. (Xavier, 1978, cap. 49, p. 261) 
6.2. O ESPIRITISMO COMO REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO 
De acordo com os princípios doutrinários do Espiritismo, Jesus foi o personificador da segunda revelação da lei de deus, pois a primeira viera com Moisés, no monte Sinai, onde recebera a tábua dos Dez Mandamentos. Como Moisés misturou a lei humana com a lei divina, Jesus veio para retificar o que de errado havia, como é o caso de transformar a lei do “olho por olho” e a do “dente por dente” na lei do amor e do perdão. A sua pregação da boa nova veio ensinar ao homem a lei de causa e efeito e da justiça divina, quer seja nesta ou na outra vida, ou seja, a vida futura. Allan Kardec, com o auxílio dos Espíritos superiores,  deu continuidade a esta grande obra de elucidação dos caminhos da evolução. 
6.3. FESTA DE NATAL PARA OS ESPÍRITAS 
Na noite em que o mundo cristão festeja a Natividade do Menino Jesus, os espíritas devem se lembrar de comemorar o nascimento da Doutrina Espírita, entendida como a terceira revelação, um novo marco no desenvolvimento espiritual da humanidade, em que todos os problemas, todas as dúvidas, todas as dores serão explicadas à luz da razão e do bom senso. Dentro deste contexto, a lei da reencarnação é um dos princípios fundamentais para o perfeito entendimento do sofrimento e da dor. De acordo com a reencarnação ou a diversidade das vidas sucessivas, temos condições de melhor vislumbrar o nosso futuro, que nada mais é do que uma continuidade daquilo que estivermos fazendo nesta vida. Optando pela prática do bem, teremos uma vida futura feliz; escolhendo o mal, teremos que sofrer as suas conseqüências, no sentido de nos adaptarmos à lei do progresso, que é inexorável.  
7. CONCLUSÃO 
Jesus, através de seus emissários, está sempre falando conosco, no sentido de nos incentivar a amar cada vez mais o nosso próximo, independentemente de como este esteja nos tratando. Pergunta-se: que vantagem há em amarmos os que nos amam?  
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 
ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]
ESTADO DE SÃO PAULO. 21/12/1996
XAVIER, F. C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
XAVIER, F. C. Reportagens de Além-Túmulo, pelo Espírito Irmão X. 6. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1982.
XAVIER, F. C. Pontos e Contos, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1978.
 
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Segunda-feira , 07 de Dezembro DE 2009

RENOVA-TE TAMBÉM

 

 
 
...Neste Natal, por algum momento, pacifica a tua alma para receber as vibrações de amor que te falam de um tempo excepcionalmente afortunado à Humanidade...
...Distante de formalidades e comemorações exteriores, medita no significado real desta data e começa a trabalhar na renovação da forma que te é própria de saudar o Natal.
...Esquece, por momentos, acepipes e licores, vestes e presentes, sons e ornamentos, e interiorizando-te, deixa que uma luz maior te banhe o entendimento te levando para um lugar à parte, distante de todas frivolidades, para falar de alegrias que realmente importam ao teu progresso espiritual.
...Como te encontras, desde o último Natal?
...Olhando em torno sentirás tristeza, por certo, porque o mundo prossegue envolto em sombras, malgrado todas as esperanças de um tempo mais íntegro, melhor.
...Isso porque não bastam súplicas e desejos; necessário é trabalhar na edificação da paz almejada.
...Renova, por esta razão, teu modo de apresentar-se à grande festa da Luz.
...Envolve-te ricamente, porém nas vestes do amor e do bem; alimenta-te fartamente, mas de bom ânimo e coragem; bebe em abundância apenas do licor da alegria e da esperança; presenteia sem erro paz e harmonia ao teu próximo e roga para ti os mimos imorredouros do aperfeiçoamento, como lembrança preciosa e definitiva.
...Paciência - para as dificuldades.
...Tolerância - para as diferenças.
...Benevolência - para os equívocos.
...Misericórdia - para os erros.
...Perdão - para as ofensas.
...Prudência - para as ilusões.
...Equilíbrio - para os desejos.
...Sensatez - para as escolhas.
...Sensibilidade - para os olhos.
...Delicadeza - para as palavras.
...Discernimento - para os ouvidos.
...Resignação - para a escassez.
...Responsabilidade - para a fartura.
...Coragem - para as provas.
...Fé para as conquistas.
...Amor - para todas as ocasiões.
...Somente assim viveremos de Natal a Natal conforme a orientação cristã do Espiritismo, que nos recomenda raciocinar para compreender, amar para engrandecer e trabalhar para realizar. (Mensagem ditada por André Luiz).
em reunião do Instituto André Luiz,
em 22/12/2002.)
 
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Sábado , 05 de Dezembro DE 2009

EXISTÊNCIAS PASSADAS

 

Publicada no "Reformador", de novembro de 1959).


"No esquecimento das existências anteriormente transcorridas, sobretudo quando foram amarguradas, não há qualquer coisa de providencial e que revela a sabedoria divina?".
Gravíssimos inconvenientes teria os nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em certos casos, humilhar-nos-ia sobremaneira. Em outros, nos exaltaria o orgulho, peando-nos, em conseqüência, o livre-arbítrio. Para nos melhorarmos, dá-nos Deus exatamente o que nos é necessário e basta: a voz da consciência e os pendores instintivos. Priva-nos do que nos prejudicaria. Acrescentamos que, se nos recordássemos dos nossos precedentes atos pessoais, igualmente nos recordaríamos dos outros homens, do que resultariam talvez os mais desastrosos efeitos para as relações sociais. Nem sempre podendo honrar-nos do nosso passado, melhor é que sobre ele um véu seja lançado “. (Allan Kardec –” O Livro dos Espíritos “, Q. 394).
Há uma tendência especial, entre certos adeptos pouco avisados da Doutrina Espírita, para investigarem sobre o próprio passado espiritual, a ver se descobrem o que foram e o que fizeram em existências pregressas. Certamente que, já com um século de Codificação e em plena florescência da Revelação, vem chegando o tempo de os Espíritos encarnados sentirem em si mesmos, através das emersões da subconsciência, ativadas pelas inquietações da mediunidade, os enredos em que se comprometeram outrora.
Os códigos da Terceira Revelação, ou Espiritismo, muito criteriosamente esclarecem o meio de a criatura saber, com segurança, quem foi, o que fez e onde viveu antes da presente existência. Dedicando-se ao estudo sério e à meditação e consultando o próprio íntimo e suas tendências, sem se deixar levar pelos arrastamentos do orgulho e da vaidade, necessariamente terá as faculdades predispostas às irradiações da própria mente. As recordações, embora veladas, discretas, as reminiscências que jazem ocultas nos recessos do seu ser, evoluirão o necessário para que ela se aposse de algo a respeito de si mesma. Será, portanto, uma faculdade da alma, que se desenvolverá com o cuidadoso cultivo moral e mental.
Se, com a devida atenção, se dessem ao estudo da Doutrina, teriam compreendido, desde muito, esse ponto essencial e melindroso da mesma, sem os riscos das mistificações tão comuns nas consultas feitas aos médiuns.
Vemos, então, mediante tais consultas, uma multidão de Espíritas a se julgarem antigos fidalgos europeus reencarnados, príncipes, duques, heróis de guerras e de grandes batalhas em revoluções celebres, e até reis e rainhas! Existem mesmo, aos montes, Catarinas de Médicis, Marias Antonietas, Neros, Napoleões Bonapartes, Tiradentes e tantos outros vultos do passado.
Não diremos que tais migrações sejam impossíveis, pois que a nobreza mundial é milenária e esses nobres teriam de reencarnar em alguma parte, visto que e reencarnação é lei invariável para todos. Todavia, à luz mesma da Terceira Revelação, convirá se faça um reparo sensato sobre aquela possibilidade, ou seja, de serem os caros aprendizes do Espiritismo, ou não aprendizes, fidalgos reencarnados. Ainda que o sejam, não deverão esquecer, logo ao primeiro exame, que é possível já tenham vivido como escravos africanos ou não africanos, depois de haverem sido fidalgos; que já esmolaram pelas ruas, chagados e miseráveis, como expiação urgente das inconseqüências da nobreza que aviltaram, e que já sucumbiram no fundo de prisões infectas ou tombaram sob a ignomínia de um ferro assassino, porque assim o exigiu a consciência própria, em ânsias de dolorosas, mas remissores resgates! Não deverão, outrossim, esquecer de que reis, rainhas, príncipes, duques e heróis, não obstante testas coroadas, foram igualmente tiranos, celerados, homicidas, rapinadores, incendiários, perseguidores, perjuros, adúlteros, hipócritas, falsos crentes tripudiando sobre os Evangelhos!
Se, portanto, vivestes na Idade Média e ali fostes condestáveis, por exemplo, ficai certos de que também levantastes fogueiras cruéis para incinerarem criaturas frágeis e indefesas, vossas irmãs de Humanidade!
Se vivestes na bela e decantada Espanha, aí ocupando solares soberbos e poderosos tronos, lembrai-vos de que estes mesmos grãos-senhores que os ocuparam se tornaram responsáveis pelos crimes da Inquisição, que por períodos seculares ali assumiu proporções estarrecedoras.
Se na aristocrática Inglaterra vivestes, ou na belicosa Alemanha, não percais de vista que nos países anglo-saxões a intolerância da Reforma cometeu atrocidades contra os míseros católico-romanos, idênticas às que nos países latinos, cometeu contra míseros luteranos a intolerância católico-romana, e que vós lá estivestes, entre ambas, cometendo insultos contra Deus na pessoa do vosso próximo!
Se, na França gloriosa e tão amada, participastes do famigerado governo da Rainha Catarina de Médicis, lembrai-vos dos dias trágicos de São Bartolomeu, quando andastes matando pobres defensores do Evangelho, para satisfação de torpes paixões alheias, as quais bajulastes servindo-vos do nome de uma religião como ignóbil desculpa e não justa realidade!
Se, nos dias sombrios do terror, na França ainda, cargos importantes exercestes, tendo em mente que ajudastes a mover a guilhotina para decapitar inocentes subjugados pelo furor de muitos, e também que fostes regicidas ímpios, trucidadores de mulheres e até crianças!
E se, na Roma dos Césares, fostes tribunos ou patrícios, envergando peplos elegantes e mantos solenes e vistosos..., recordai os uivos dos leões nos circos, leões que açulastes contra os defensores do Cristianismo nascente, os quais morreram para que o mundo herdasse as virtudes do perdão, da esperança e do amor, recomendados pela Suprema Lei!
Assim sendo, meus caros amigos, vós, que vos julgais reis, rainhas, príncipes e heróis reencarnados, não vos esqueçais de que, com esta remota glória de tronos e mantos, de espadas e coroas, arrastais também, ainda na presente existência, a conseqüência deprimente de crimes e abusos vergonhosos e inomináveis! Não olvideis que fostes grandes criminosos a quem Jesus de Nazaré enviou as bênçãos do Consolador como auxílio para que vos reergais do tremendal de trevas em que o fausto mergulhou o vosso Espírito!
Agora vos cumpre esquecer esse passado que para nada vos valeu, senão para vos infelicitar a alma e o destino, a fim de que, através dos conselhos e da misericórdia do Alto, possais entrar, finalmente, nas sendas do Dever, de que vos afastastes nos passados tempos, passado esse do qual tanto vos envaideceis ainda!

Paz!
Ignácio Bittencourt
 
(Página recebida pela médium Yvonne A. Pereira, em 02.09.59, no Rio de Janeiro).
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 21:09
Quinta-feira , 03 de Dezembro DE 2009

TEMOR DA MORTE

 

 
Causas do temor da morte
 
1 - O homem, seja qual for a escala de sua posição social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuição que a morte não é a última fase da existência e que aqueles cuja perda lamentamos não estão irremissivelmente perdidos.
A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele crêem apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por quê?
 
2. - Este temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma conseqüência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento.
Assim é que, nos povos primitivos, o futuro é uma vaga intuição, mais tarde tornada simples esperança e, finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego à vida corporal.
 
3 . - A proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim calma, resignada e serenamente. A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às idéias, outro fito ao trabalho; antes dela nada que se não prenda ao presente; depois dela tudo pelo futuro sem desprezo do presente, porque sabe que aquele depende da boa ou da má direção deste.
A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as relações que tivera na Terra, de não perder um só fruto do seu trabalho, de engrandecer-se incessantemente em inteligência, perfeição, dá-lhe paciência para esperar e coragem para suportar as fadigas transitórias da vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a que deve existir na Terra, onde a fraternidade e a caridade têm desde então um fim e uma razão de ser, no presente como no futuro.
 
4. - Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma idéia tão exata quanto possível, o que denota da parte do Espírito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se da matéria.
No Espírito atrasado a vida material prevalece sobre a espiritual. Apegando-se às aparências, o homem não distingue a vida além do corpo, esteja embora na alma a vida real; aniquilado aquele, tudo se lhe afigura perdido, desesperador.
Se, ao contrário, concentrarmos o pensamento, não no corpo, mas na alma, fonte da vida, ser real a tudo sobrevivente, lastimaremos menos a perda do corpo, antes fonte de misérias e dores. Para isso, porém, necessita o Espírito de uma força só adquirível na madureza.
O temor da morte decorre, portanto, da noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e o receio da destruição total; igualmente o estimula secreto anseio pela sobrevivência da alma, velado ainda pela incerteza.
Esse temor decresce, à proporção que a certeza aumenta, e desaparece quando esta é completa.
Eis aí o lado providencial da questão. Ao homem não suficientemente esclarecido, cuja razão mal pudesse suportar a perspectiva muito positiva e sedutora de um futuro melhor, prudente seria não o deslumbrar com tal idéia, desde que por ela pudesse negligenciar o presente, necessário ao seu adiantamento material e intelectual.
 
5. - Este estado de coisas é entretido e prolongado por causas puramente humanas, que o progresso fará desaparecer. A primeira é a feição com que se insinua a vida futura, feição que poderia contentar as inteligências pouco desenvolvidas, mas que não conseguiria satisfazer a razão esclarecida dos pensadores refletidos. Assim, dizem estes: "Desde que nos apresentam como verdades absolutas princípios contestados pela lógica e pelos dados positivos da Ciência, é que eles não são verdades." Daí, a incredulidade de uns e a crença dúbia de um grande número.
A vida futura é lhes uma idéia vaga, antes uma probabilidade do que certeza absoluta; acreditam, desejariam que assim fosse, mas apesar disso exclamam: "Se todavia assim não for! O presente é positivo, ocupemo-nos dele primeiro, que o futuro por sua vez virá"
E depois, acrescentam, definitivamente que é a alma? Um ponto, um átomo, uma faísca, uma chama? Como se sente, vê ou percebe? E que a alma não lhes parece uma realidade efetiva, mas uma abstração.
Os entes que lhes são caros, reduzidos ao estado de átomos no seu modo de pensar, estão perdidos, e não têm mais a seus olhos as qualidades pelas quais se lhes fizeram amados; não podem compreender o amor de uma faísca nem o que a ela possamos ter. Quanto a si mesmos, ficam mediocremente satisfeitos com a perspectiva de se transformarem em mônadas. Justifica-se assim a preferência ao positivismo da vida terrestre, que algo possui de mais substancial.
É considerável o número dos dominados por este pensamento.
 
6. - Outra causa de apego às coisas terrenas, mesmo nos que mais firmemente crêem na vida futura, é a impressão do ensino que relativamente a ela se lhes há dado desde a infância. Convenhamos que o quadro pela religião esboçado, sobre o assunto, é nada sedutor e ainda menos consolatório.
De um lado, contorções de condenados a expiarem em torturas e chamas eternas os erros de uma vida efêmera e passageira. Os séculos sucedem-se aos séculos e não há para tais desgraçados sequer o lenitivo de uma esperança e, o que mais atroz é, não lhes aproveita o arrependimento. De outro lado, as almas combalidas e aflitas do purgatório aguardam a intercessão dos vivos que orarão ou farão orar por elas, sem nada fazerem de esforço próprio para progredirem.
Estas duas categorias compõem a maioria imensa da população de além-túmulo. Acima delas, paira a limitada classe dos eleitos, gozando, por toda a eternidade, da beatitude contemplativa. Esta inutilidade eterna, preferível sem dúvida ao nada, não deixa de ser de uma fastidiosa monotonia. É por isso que se vê, nas figuras que retratam os bem-aventurados, figuras angélicas onde mais transparece o tédio que a verdadeira felicidade.
Este estado não satisfaz nem as aspirações nem a instintiva idéia de progresso, única que se afigura compatível com a felicidade absoluta. Custa crer que, só por haver recebido o batismo, o selvagem ignorante - de senso moral obtuso -, esteja ao mesmo nível do homem que atingiu, após longos anos de trabalho, o mais alto grau de ciência e moralidade práticas. Menos concebível ainda é que a criança falecida em tenra idade, antes de ter consciência de seus atos, goze dos mesmos privilégios somente por força de uma cerimônia na qual a sua vontade não teve parte alguma. Estes raciocínios não deixam de preocupar os mais fervorosos crentes, por pouco que meditem.
 
7. - Não dependendo a felicidade futura do trabalho progressivo na Terra, a facilidade com que se acredita adquirir essa felicidade, por meio de algumas práticas exteriores, e a possibilidade até de a comprar a dinheiro, sem regeneração de caráter e costumes, dão aos gozos do mundo o melhor valor.
Mais de um crente considera, em seu foro íntimo, que assegurado o seu futuro pelo preenchimento de certas fórmulas ou por dádivas póstumas, que de nada o privam, seria supérfluo impor-se sacrifícios ou quaisquer incômodos por outrem, uma vez que se consegue a salvação trabalhando cada qual por si.
Seguramente, nem todos pensam assim, havendo mesmo muitas e honrosas exceções; mas não se poderia contestar que assim pensa o maior número, sobretudo das massas pouco esclarecidas, e que a idéia que fazem das condições de felicidade no outro mundo não entretenha o apego aos bens deste, acoroçoando o egoísmo.
 
8. - Acrescentemos ainda a circunstância de tudo nas usanças concorrer para lamentar a perda da vida terrestre e temer a passagem da Terra ao céu. A morte é rodeada de cerimônias lúgubres, mais próprias a infundirem terror do que a provocarem a esperança. Se descrevem a morte, é sempre com aspecto repelente e nunca como sono de transição; todos os seus emblemas lembram a destruição do corpo, mostrando-o hediondo e descarnado; nenhum simboliza a alma desembaraçando-se radiosa dos grilhões terrestres. A partida para esse mundo mais feliz só se faz acompanhar do lamento dos sobreviventes, como se imensa desgraça atingira os que partem; dizem-lhes eternos adeuses como se jamais devessem revê-los. Lastima-se por eles a perda dos gozos mundanos, como se não fossem encontrar maiores gozos no além-túmulo. Que desgraça, dizem, morrer tão jovem, rico e feliz, tendo a perspectiva de um futuro brilhante! A idéia de um futuro melhor apenas toca de leve o pensamento, porque não tem nele raízes. Tudo concorre, assim, para inspirar o terror da morte, em vez de infundir esperança.
Sem dúvida que muito tempo será preciso para o homem se desfazer desses preconceitos, o que não quer dizer que isto não suceda, à medida que a sua fé se for firmando, a ponto de conceber uma idéia mais sensata da vida espiritual.
 
9. - Demais, a crença vulgar coloca as almas em regiões apenas acessíveis ao pensamento, onde se tornam de alguma sorte estranhas aos vivos; a própria Igreja põe entre umas e outras uma barreira insuperável, declarando rotas todas as relações e impossível qualquer comunicação. Se as almas estão no inferno, perdida é toda a esperança de as rever, a menos que lá se vá ter também; se estão entre os eleitos, vivem completamente absortas em contemplativa beatitude. Tudo isso interpõe entre mortos e vivos uma distância tal que faz supor eterna a separação, e é por isso que muitos preferem ter junto de si, embora sofrendo, os entes caros, antes que vê-los partir, ainda mesmo que para o céu.
E a alma que estiver no céu será realmente feliz vendo, por exemplo, arder eternamente seu filho, seu pai, sua mãe ou seus amigos?
 
 
Por que os espíritas não temem a morte
 
10. - A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as rases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Eis aí por que os espíritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus últimos momentos sobre a Terra. Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardam-na com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança decorrem, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordância desses fatos com a lógica, com a justiça e bondade de Deus, correspondendo às íntimas aspirações da Humanidade.
Para os espíritas, a alma não é uma abstração; ela tem um corpo etéreo que a define ao pensamento, o que muito é para fixar as idéias sobre a sua individualidade, aptidões e percepções. A lembrança dos que nos são caros repousa sobre alguma coisa de real. Não se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao pensamento, porém sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres viventes. Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas relações, assistindo-se mutuamente.
Não mais permissível sendo a dúvida sobre o futuro, desaparece o temor da morte; encara-se a sua aproximação a sangue-frio, como quem aguarda a libertação pela porta da vida e não do nada.
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 17:26
Terça-feira , 01 de Dezembro DE 2009

DATAS ESPÍRITAS DEZEMBRO

 

DIA 02
1868 – Desencarna, em Paris, o livreiro e editor Didier, membro da Sociedade Espírita de Paris desde sua fundação; responsável pela primeira edição dos livros de Allan Kardec.
1886 – Nasce, no Estado da Bahia, José Florentino Seria, conhecido como José Petitinga. Comerciante, poeta, foi destacado espírita naquele Estado.
1886 – Nasce em Milevsko, Tchecoslováquia, Frederico Figner. Estabeleceu-se como industrial no Brasil e atuou em vários setores da FEB. Pela mediunidade de Chico Xavier ditou, do além, a obra "Voltei", usando o pseudônimo de Irmão Jacob.
DIA 04
1935 – Data do desencarne do criador da metapsíquica, Charles Richet.
DIA 05
1934 – Desencarna, no Rio, Humberto de Campos, escritor, deputado estadual, membro da Academia Brasileira de Letras (1920). Ditou diversas obras espíritas através do médium Chico Xavier, algumas com pseudônimo "Irmão X".
DIA 07
1953 – A polícia invade a sede da Federação Espírita Portuguesa, em Lisboa; confisca todos os bens e destrói a biblioteca, com 12.000 volumes.
DIA 10
1835 – Nasce, em Sevilha, na Espanha, Amália Domingo Soler. Fundou o jornal "La Luz del Porvenir". Escreveu "Reencarnação e Vida", "Perdoa-me" e "Memórias do Padre Germano".
1874 – Data do nascimento de um dos maiores tribunos espíritas: Manuel Vianna de Carvalho.
1911 – Inaugurada, no Rio de Janeiro, a sede própria da FEB, por Leopoldo Cirne.
1944 – É fundada a Cruzada dos Militares Espíritas, divulgadora da Doutrina dentro das corporações militares.
DIA 11
1761 – Data de nascimento de Joanna Angélica, em Salvador, Estado da Bahia. São bastante conhecidas suas obras trazidas através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, sob o nome de Joanna de Angelis.
1847 – A família Fox transfere-se para Hydesville, passando a morar na casa que seria palco dos memoráveis fenômenos de efeitos físicos.
1855 – Allan Kardec recebe a revelação mediúnica de que Zéfiro era seu espírito protetor.
DIA 15
1859 – Nasce Lázaro Luiz Zamenhof, o criador do Esperanto.
DIA 16
1945 – Fundada a Sociedade Espírita Santo Agostinho, por Jésus Gonçalves, no Hospital-Colônia para hansenianos de Pirapitingui.
DIA 18
1903 – Data do desencarne de Augusto Elias da Silva, fundador da revista Reformador e um dos fundadores da FEB.
DIA 19
1998 – Dia do Movimento Você e a Paz, em Salvador/Ba. idealizado pelo médium Divaldo Pereira Franco.
DIA 24
1872 – Data de nascimento do esperantista Francisco Waldomiro Lorenz.
1900 – Data do nascimento de Yvonne do Amaral Pereira em Rio das Flores - RJ.
DIA 25
0000 – O mundo rende graças pelo nascimento de Jesus Cristo.
1893 – Nasce na Província de Sagre, Itália, Francisco Spinelli. Veio para o Brasil com 18 anos, trabalhando como alfaiate, depois como advogado. Convertido ao Espiritismo, tornou-se um de seus líderes.
1915 – É fundada a Federação Espírita do Estado da Bahia.
DIA 27
1996 – Instituí-se 18/04 como o dia dos espíritas, lei 9471, projeto de lei do Deputado Alberto Calvo
 
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:18

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