Sexta-feira , 22 de Janeiro DE 2010

Lei de Ação e Reação NÃO é Lei de Causa e Efeito

 

 
 
 
            O primeiro procedimento adotado por Allan Kardec na abertura da gigantesca obra da Codificação foi se preocupar com as questões filosóficas, desta forma, o mestre inaugura a Doutrina dos Espíritos em seu primeiro parágrafo: Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. L.E -  Introdução.
          Pode-se notar que evitar ambigüidades era uma das tarefas a ser cumpridas.
 Para minha surpresa, ao pesquisar para este artigo, não encontrei, formalmente,  em nenhuma parte da Codificação ou na Revista Espírita a definição Lei de causa e efeito. Encontramos o axioma (*): para todo efeito existe uma causa e não há causa sem efeito. Essa máxima vulgarizada nas obras do mestre como um princípio, foi transformada em lei por espíritos pós-codificação, isto é, a partir deste axioma se torna, facilmente, dedutível a lei implícita. A Lei de causa e efeito, ensinada por alguns espíritos tem um caráter moral e também físico; ao agirmos no universo, cada ato tem uma conseqüência, cada gesto, cada pensamento se reflete no universo micro e macro cósmico.  O fato de refletir não traz a idéia de uma reação imediata e implacável, por exemplo, quando alguém deseja um mal, o objeto receptor, não tem a obrigação de devolver o mal na mesma moeda, desta forma, uma ação pode desencadear infinitas possibilidades de conseqüências.
         Confunde-se a 3ª Lei de Newton, que é uma restrita lei física, já que as leis de Newton não valem nos limites quânticos nem relativísticos, com o princípio de causa e efeito. Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da Ação e reação: A qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos. Se um dedo aperta uma pedra, a pedra apertará o dedo, se um cavalo puxa uma corda, a corda puxará o cavalo. Aplicado ao pé da letra, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; como exemplo, se uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação, logo, o mal nunca poderia anular o bem.
          O princípio de causa e efeito, ensinado pelos espíritos, diz que quando há abuso do livre-arbítrio, a causa e o efeito estão na pessoa; quando se faz o bem, a causa está em na pessoa, e o efeito também. Quando afirma-se: Aquilo que plantar, isso mesmo irá colher. O que significa colher? Sofrer as conseqüências do ato, sendo este bom ou mau. Sabemos da misericórdia Divina que perdoa e ensina, não sendo necessário que uma pessoa que matou tenha que morrer nas mesmas circunstâncias. Mesmo se fosse, não seria uma aplicação da lei de ação e reação, sendo a lei de Talião, proclamada por Moisés, mais próxima deste princípio.
        
Causa e efeito material: Poderia usar infinitos exemplos, porém, contentar-me-ei apenas com um: se uma pessoa de tez branca ficar exposta à irradiação solar, sem proteção alguma, por horas e horas, ela estaria sujeita a dois tipos de efeitos possíveis: os efeitos determinísticos que são os que aparecem imediatamente, como queimadura e insolação, e os efeitos estocásticos que podem se manifestar ou não, como o câncer.
 
         Causa e efeito moral: sabemos que os efeitos estocásticos podem estar relacionados com os problemas morais, pois somos seres trinos (espírito, perispírito, corpo-físico). Uma pessoa que matou não tem a necessidade de morrer, podendo passar por dificuldades e saldar sua dívida. Quando alguém nos deseja o mal, podemos anular os efeitos, em nós, pela oração e prática no bem, mas os efeitos no agente cabe, a ele mesmo, minimizá-lo pela reforma interior.
 
            Lei do Carma: Alguns espíritos espíritas, como Bezerra de Menezes, utilizaram essa  expressão, mas não é um termo do vocabulário Kardequiano, visto que o codificador conhecia a expressão, mas não utilizou devido às suas formas de serem interpretadas.   Ensina-nos Herculano Pires: A palavra carma (em sânscrito karma ou karman e em pali kamma) utilizada na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em primeira instância “ação”, “trabalho” ou “efeito”. No sentido secundário, o efeito de uma ação, ou se preferirmos, a soma dos efeitos de ações (vidas) passadas se refletindo no presente.
         Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos os atos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos. (2)
         A lei do carma aproxima-se da interpretação da Lei de ação e reação, porém, mesmo essa “lei”, nunca será igual à lei Newtoniana.
 
Nós, espíritas brasileiros, temos facilidade em aceitar conceitos novos e sofrermos influência das novidades ou tendência a agregar a nossa cultura a termos estrangeiros ou alienígenas à codificação. Esse é um erro que cometemos, muitas vezes repetimos frases de efeito, máximas e nem nos detemos em reflexões, para após essas reflexões e um estudo baseado na codificação tirarmos conseqüências. Mesmo que esses termos sejam velhos como a história, devemos ter cuidado. O cuidado não significa um vão preciosismo, sendo um zelo sem sectarismo.
A Lei de causa e efeito é totalmente conforme o Espiritismo, já a lei de ação e reação está totalmente disforme aos princípios que o Espiritismo veio proclamar. Fujamos dos modismos e abracemos a simplicidade, para, desta forma, errarmos menos.
 
 
 
 
(*) O termo axioma é originário da palavra grega αξιωμα (axioma), que significa algo que é considerado ajustado ou adequado, ou que tem um significado evidente. A palavra axioma vem de αξιοειν (axioein), que significa considerar digno. Esta, por sua vez, vem de αξιος (axios), significando digno. Entre os filósofos gregos antigos, um axioma era uma reivindicação que poderia ser vista como verdadeira sem nenhuma necessidade de prova
 
_Lei, no sentido cientifico, é uma regra que descreve um fenômeno que ocorre com certa regularidade.
 
 _Princípio: Lei fundamental.

 
 
 
 
Referências bibliográficas
 
1. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, O que é o espiritismo, A Gênese, O Livro dos médiuns, O Céu e o Inferno, Obras póstumas, o Evangelho segundo o espiritismo.     
O principiante espírita, Manual prático de médiuns e evocadores, O espiritismo na sua mais simples expressão, Revista Espírita -  12 volumes.
2. O Verbo e a carne - Herculano Pires
3. Sabedoria doEvangelho - 8 volumes - Carlos Torres Pastorino.
4. Física básica - Lucie, Pierre. Editora Campus Ltda.
5. SIR Isaac Newton - Os pensadores.  Editora abril cultural.
6. Ação e reação -  André Luiz FEB.
8. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%28ci%C3%AAncias%29
 
 
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 20:15

TODOS NÓS SEREMOS SALVOS?

 

Deus é amor... (1Jo 4,16)
         Apesar do equívoco dos teólogos que sempre dizem que somente os adeptos de sua  religião irão salvar-se, acreditamos que sim, ou seja, todos nós seremos salvos.
         Algumas passagens bíblicas deixam isso evidente aos que querem ver. Vejamo-las:
Mt 5,43-48: "Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!' Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu."
         Se o Pai, que está no céu, faz nascer o sol sobre maus e bons e chover sobre justos e injustos é porque não estabelece qualquer tipo de discriminação entre as pessoas. Exato, pois “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34). Certamente, seremos responsabilizados pelos nossos atos uma vez que “a cada um segundo suas obras” (Mt 16,27). Entretanto, como “Deus é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno” (Sl 103,8), consequentemente Ele “não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira” (Sl 103,9), daí Ele “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades” (Sl 103,10), podemos esperar seu amor agindo a nosso favor, dando-nos oportunidades de progresso espiritual. Se Ele nos recomenda amar até mesmo os inimigos, como poderá agir de forma contrária?
Mt 7,7-11: "Peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. Quem de vocês dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe pedirem."
         Essa comparação de Jesus é o tiro de misericórdia para matar de vez a idéia de pena no inferno eterno, pois obviamente Deus, sendo um Pai infinitamente muito melhor que nós, não daria algo ruim a um de seus filhos. Quer coisa pior que “assar” eternamente no inferno, sem possibilidade de recuperação, nós que ainda somos crianças, espiritualmente falando? Aonde a justiça de formos condenados com pena superior ao tempo que gastamos para infringir a lei? Isso é tão absurdo que ficamos boquiabertos diante daqueles que admitem tal barbaridade.
Mt 21,28-32: "O que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Ele foi ao mais velho, e disse: 'Filho, vá trabalhar hoje na vinha'. O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois arrependeu-se, e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho, e disse a mesma coisa. Esse respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O filho mais velho." Então Jesus lhes disse: "Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu. Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não acreditaram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram nele. Vocês, porém, mesmo vendo isso, não se arrependeram para acreditar nele."
         Imagine que nessa parábola de Jesus esse filho que não atende prontamente o Pai sejamos nós, o que não seria ilógico afirmar. Devemos observar que, na seqüência, ele acaba por ir trabalhar, significando, que também nós ainda faremos o mesmo, várias oportunidades nos serão dadas, não diferente do que aconteceu com os trabalhadores da última hora, que, mesmo quase ao final do dia, ainda se entregaram ao trabalho, porquanto foram também chamados (Mt 20,1-16).
         É tempo de os teólogos reformularem seus conceitos de justiça divina, para abraçar o conceito baseado numa visão cósmica das coisas, de modo a não amesquinharem a Deus como o fazem com suas interpretações, para vê-Lo, não como um Deus tribal, mas como o Criador do Universo. Somente assim é que poderão vislumbrar um Deus de amor, cuja justiça, mesmo escapando à nossa compreensão, não é pior que a justiça humana, que, apesar de colocar os infratores da lei em cadeias, dá plena chance de recuperação a todos, de forma a que possam voltar ao convívio social, após terem pago pelo seus erros.
 
 
 
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Dez/2006.
 
tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 02:31

mais sobre mim

pesquisar

 

Janeiro 2010

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
13
15
16
17
31

posts recentes

últ. comentários

mais comentados

arquivos

tags

subscrever feeds

blogs SAPO


Universidade de Aveiro