Terça-feira , 19 de Janeiro DE 2010

DÊ UMA CHANCE A VOCÊ MESMO.

Talvez você já tenha feito perguntas como estas:
De onde vim ao nascer? Para onde irei depois da morte? O que há depois dela?

 

Por que uns sofrem mais do que outros? Por que uns têm determinada aptidão e outros não?

 

Por que alguns nascem ricos e outros pobres? Alguns cegos, aleijados, débeis mentais, enquanto outros nascem inteligentes e saudáveis? Por que Deus permite tamanha desigualdade entre seus filhos?

 

Por que uns, que são maus, sofrem menos que outros, que são bons?

 

No entanto, a maioria das pessoas, vivendo a vida atribulada de hoje, não está interessada nos problemas fundamentais da existência. Antes se preocupam com seus negócios, com seus prazeres, com seus problemas particulares. Acham que questões como "a existência de Deus" e "a imortalidade da alma" são da competência de sacerdotes, de ministros religiosos, de filósofos e teólogos. Quando tudo vai bem em suas vidas, elas nem se lembram de Deus e, quando se lembram, é apenas para fazer uma oração, ir a um templo, como se tais atitudes fossem simples obrigações das quais todas têm que se desincumbir de uma maneira ou de outra. A religião para elas é mera formalidade social, alguma coisa que as pessoas devem ter, e nada mais; no máximo será um desencargo de consciência, para estar bem com Deus. Tanto assim, que muitos nem sequer alimentam firme convicção naquilo que professam, carregando sérias dúvidas a respeito de Deus e da continuidade da vida após a morte.

 

Quando, porém, tais pessoas são surpreendidas por um grande problema, a perda de um ente querido, uma doença incurável, uma queda financeira desastrosa - fatos que podem acontecer na vida de qualquer pessoa - não encontram em si mesmas a fé necessária, nem a compreensão para enfrentar o problema com coragem e resignação, caindo, invariavelmente, no desespero.

 

Onde se encontra a solução?

 

Há uma doutrina que atende a todos estes questionamentos. É o Espiritismo.

 

O conhecimento espírita abre-nos uma visão ampla e racional da vida, explicando-a de maneira convincente e permitindo-nos iniciar uma transformação íntima, para melhor.

 

Mas, o que é o Espiritismo?

 

O Espiritismo é a doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, através de médiuns, e organizada (codificada), no século XIX, por um educador francês, conhecido por Allan Kardec.

 

O Espiritismo é, ao mesmo tempo filosofia, ciência e religião.

 

Filosofia, porque dá uma interpretação da vida, respondendo questões como "de onde eu vim", "o que faço no mundo", "para onde irei depois da morte". Toda doutrina que dá uma interpretação da vida, uma concepção própria do mundo, é uma filosofia.

 

Ciência, porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais. Todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, têm explicação científica. Não existe o sobrenatural no Espiritismo.

 

Religião, porque tem por objetivo a transformação moral do homem, revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo, na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor. Uma religião simples sem sacerdotes, cerimoniais e nem sacramentos de espécie alguma. Sem rituais, culto a imagens, velas, vestes especiais, nem manifestações exteriores.

 

E quais são os fundamentos básicos do Espiritismo?

 

A existência de Deus que é o Criador, causa primária de todas as coisas. A Suprema Inteligência. É eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom.

 

A imortalidade da alma ou espírito. O espírito é o princípio inteligente do Universo, criado por Deus, para evoluir e realizar-se individualmente pelos seus próprios esforços. Como espíritos já existíamos antes do nascimento e continuaremos a existir depois da morte do corpo.

 

A reencarnação. Criado simples e sem nenhum conhecimento, o espírito é quem decide e cria o seu próprio destino. Para isso, ele é dotado de livre-arbítrio, ou seja, capacidade de escolher entre o bem e o mal. Tem a possibilidade de se desenvolver, evoluir, aperfeiçoar-se, de tornar-se cada vez melhor, mais perfeito, como um aluno na escola, passando de uma série para outra, através dos diversos cursos. Essa evolução requer aprendizado, e o espírito só pode alcançá-la encarnando no mundo e reencarnando, quantas vezes necessárias, para adquirir mais conhecimento, através das múltiplas experiências de vida. O progresso adquirido pelo espírito não é somente intelectual, mas, sobretudo, o progresso moral.

 

Não nos lembramos das existências passadas e nisso também se manifesta a sabedoria de Deus. Se lembrássemos do mal que fizemos ou dos sofrimentos que passamos, dos inimigos que nos prejudicaram ou daqueles a quem prejudicamos, não teríamos condições de viver entre eles atualmente. Pois, muitas vezes, os inimigos do passado hoje são nossos filhos, nossos irmãos, nossos pais, nossos amigos que, presentemente, se encontram junto de nós para a reconciliação. A reencarnação, desta forma, é a oportunidade de reparação, assim como é, também, oportunidade de devotarmos nossos esforços pelo bem dos outros, apressando nossa evolução espiritual. Pelo mecanismo da reencarnação vemos que Deus não castiga. Somos nós os causadores dos próprios sofrimentos, pela lei de "ação e reação".

 

A comunicabilidade dos espíritos. Os espíritos são seres humanos desencarnados e continuam sendo como eram quando encarnados: bons ou maus, sérios ou brincalhões, trabalhadores ou preguiçosos, cultos ou medíocres, verdadeiros ou mentirosos. Eles estão por toda parte. Não estão ociosos. Pelo contrário, eles têm as suas ocupações. Através dos denominados médiuns, o espírito pode se comunicar conosco, se puder e se quiser.

 

A pluralidade dos mundos habitados. Os diferentes mundos, disseminados pelo espaço infinito, constituem as inúmeras moradas aos Espíritos que neles encarnam. As condições desses mundos diferem quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridades dos seus habitantes.

 

Como o Espiritismo interpreta o Céu e o Inferno?

 

Não há céu nem inferno. Existem, sim, estados de alma que podem ser descritos como celestiais ou infernais. Não existem também anjos ou demônios, mas apenas espíritos superiores e espíritos inferiores, que também estão a caminho da perfeição - os bons se tornando melhores e os maus se regenerando.

 

Deus não se esquece de nenhum de seus filhos, deixando a cada um o mérito das suas obras. Somente desta forma podemos entender a Suprema Justiça Divina.

 

Por que o Espiritismo realça a Caridade?

 

Porque fora dos preceitos da verdadeira caridade, o espírito não poderá atingir a perfeição para a qual foi destinado. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e qualquer que seja a forma pela qual adorem o Criador, eles se estendem as mãos, se entendem e se ajudam mutuamente.

 

Por que fé raciocinada?

 

A fé sem raciocínio não passa de uma crendice ou mesmo de uma superstição. Antes de aceitarmos alguma coisa como verdade, devemos analisá-la bem. "Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade."- Allan Kardec.

 

E onde podemos encontrar mais esclarecimentos sobre o Espiritismo?

 

Começando pela leitura dos livros de Allan Kardec:

 

O LIVRO DOS ESPÍRITOS. O livro básico da Doutrina Espírita. Contém os princípios do Espiritismo sobre a imortalidade da alma, a natureza dos espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida futura e o porvir da humanidade.

 

O LIVRO DOS MÉDIUNS. Reúne as explicações sobre todos os gêneros de manifestações mediúnicas, os meios de comunicação e relação com os espíritos, a educação da mediunidade e as dificuldades que eventualmente possam surgir na sua prática.

 

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. É o livro dedicado à explicação das máximas de Jesus, de acordo com o Espiritismo e sua aplicação às diversas situações da vida.

 

O CÉU E O INFERNO, ou "A Justiça Divina Segundo o Espiritismo". Oferece o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual. Coloca ao alcance de todos o conhecimento do mecanismo pelo qual se processa a Justiça Divina.

 

A GÊNESE. Destacam-se os temas: Existência de Deus, origem do bem e do mal, explicações sobre as leis naturais, a criação e a vida no Universo, a formação da Terra, a formação primária dos seres vivos, o homem corpóreo e a união do princípio espiritual à matéria.

 

Você poderá ler, ainda, os livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne Pereira, José Raul Teixeira, etc. e os livros de Léon Denis, Gabriel Delanne e de tantos outros autores, encontrando-se entre eles estudos doutrinários, romances, poesias, histórias e mensagens de alento. Depois desta simples leitura, você poderá ter dúvidas e perguntas a fazer. Se tiver, é bom sinal. Sinal que você está procurando explicações racionais para a vida. Você as encontrará lendo os livros indicados acima e procurando um Centro Espírita seguramente doutrinário e indiscutivelmente Espírita.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 03:48
Segunda-feira , 18 de Janeiro DE 2010

ESPIRITISMO, COISA DE DEMÔNIO ?

 

Sou espírita. Respeito todas as religiões que têm Deus como o Pai maior. Vejo os integrantes das demais religiões como diletos irmãos. Nem poderia ser diferente. Se somos filhos do mesmo Deus por que o fato de professarmos diferentes religiões impediria vermo-nos como irmãos?

E como irmão do caro leitor, aproveito desta oportunidade para trazer à tona alguns conceitos - ou preconceitos - equivocados em relação ao espiritismo.

Caro irmão-leitor, não tenho o intuito de convertê-lo ao espiritismo. Se você se encontrou no catolicismo ou no protestantismo para que mudar de religião?

Nós, espíritas, muito valorizamos o catolicismo. Podemos dizer que o catolicismo é a religião-mãe. Se não fossem a força, a coragem, a fé e a determinação dos primeiros católicos as palavras do nosso Mestre Jesus não teria chegado aos nossos dias. A humanidade muito deve ao catolicismo.

Também respeitamos e valorizamos o protestantismo. Quando o homem ficou mais preocupado com a religião externa, isto é, mais valorizava a forma do que o conteúdo, foi o protestantismo que chacoalhou uma situação de inércia e reavivou as palavras do Mestre.

Mas por que alguns - não todos - católicos e protestantes, nossos diletos irmãos, insistem em dizer que o “o espiritismo é coisa do demônio”?

Jesus disse “Pelos frutos conhecereis a árvore”.

Os espíritas, como outros religiosos, têm como sua principal meta procurar seguir, com as limitações próprias da natureza humana, os preceitos de Jesus em sua máxima “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Que demônio é este que inspira aos espíritas o amor a Deus e ao próximo?

Os espíritas, como outros religiosos, acreditam na realidade maior da vida: “fora da caridade não há salvação”.

Que demônio é este que inspira aos espíritas fazer a caridade ao próximo?

Os espíritas têm por princípio a valorização e o respeito às demais religiões, todas consideradas como diferentes ferramentas idealizadas pelo mesmo Arquiteto.

Que demônio é este que inspira aos espíritas a fraternidade e a solidariedade entre integrantes de religiões muitas vezes sustentadas em dogmas ou em faces da verdade conflitantes entre si?

Que demônio é este que, onde há divergência de opiniões, procura unir em vez de semear a discórdia?

Os verdadeiros espíritas, aqueles que seguem os preceitos máximos da doutrina, tem como rotina em sua vida o esforço pela sua transformação moral. Isto é, conhece-se o verdadeiro espírita pelo seu contínuo esforço em transformar-se moralmente.

Que demônio é este que inspira aos espíritas constante preocupação com sua elevação moral?

Caro irmão-leitor, reflitamos:

Que demônio é este que fala em amor, caridade, solidariedade, fraternidade e em transformação moral?

Só não vê, como disse nosso Mestre Jesus, quem não tem olhos para ver.

Por favor, não entenda que o objetivo deste artigo é a sua conversão. Se é você um bom católico, continue a sê-lo. Se você professa uma das diversas religiões protestantes, continue na sua convicção. Mas se você é dos que dizem que “o espiritismo é coisa do demônio” procure - sem abandonar sua religião - pelo menos estudar alguns livros espíritas. A critica gratuita, sem análise, sem profundo estudo, não deve fazer parte de nossos atos. Dê a si mesmo o direito de conhecer melhor o seu objeto de crítica. Estude.

É importante dizer que a denominação “espiritismo” assumiu conotações que não correspondem à real essência da doutrina codificada pelo educador Allan Kardec, e que se sustenta no evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo.

No espiritismo não há queima de vela, incenso, “trabalhos”, magias, imagens ou outros rituais. Muitas pessoas, não espíritas, muitas pessoas mesmo, imaginam - sem antes pesquisar - que o espiritismo manifesta-se por tudo que nele não existe, como os exemplos citados ( queima de vela, incenso, “trabalhos”, magias, culto a imagens, rituais, etc. ).

Muitas religiões que se autodenominam Espiritismo, não o são de fato.

O templo do espiritismo é o templo do estudo, do amor e da caridade.

Outras pessoas, como você, também não acreditavam ou tinham uma opinião deformada do espiritismo.

William Crookes, o extraordinário pai da Física contemporânea, o homem que descobriu o tálio, a matéria radiante, a quem se deve os pródomos da Física Nuclear da atualidade chegou a dizer textualmente:

“Eu era um materialista absoluto e, depois de investigar em profundidade científica os fenômenos mediúnicos, eu afirmo que eles já não são possíveis: eles são reais!”

César Lombroso, depois de examinar a mediunidade de Eusápia Paladino disse estas palavras:

“Quando me lembro do que eu e meus colegas zombávamos daqueles que acreditavam no Espiritismo, coro de vergonha, porque hoje eu também sou espírita! A evidência dos fatos dobrou a minha convicção negativa”.

E ainda Cronwell Varley, o que lançou sobre o mundo as linhas da telegrafia e da telefonia internacional, os cabos transoceânicos, teve a coragem de dizer:

“Somente negam os fenômenos espíritas, aqueles que não se deram ao trabalho de os estudar. Eu não conheço um só exemplo de alguém que os haja estudado, que não se tenha rendido à sua evidência”.

Não. Não precisa tornar-se espírita. Mas estude o espiritismo antes de criticá-lo.

E lembremo-nos que todos, independentemente de religiões, somos filhos do mesmo Deus e devemos irmanarmo-nos, unirmo-nos pelo bem comum, pelo amor ao próximo, pelos atos de solidariedade humana.

Ninguém é dono da Verdade Absoluta. Todas as religiões sérias são de Deus. Deus se manifesta de muitas formas e através de diversas religiões. Respeitemo-nos mutuamente, cheguemo-nos mais pertos um do outro, só assim seremos dignos de sermos chamados filhos de Deus.

Para encerrar, leiamos a letra abaixo, musicada pelo admirável católico-cantor Padre Zezinho, que é um hino ao respeito e à união dos seguidores das mais diversas religiões:

CANÇÃO ECUMÊNICA:

 

“Que todos nós,
que acreditamos em Deus,
saibamos viver em paz e dialogar!
Que todos nós,
que cremos que Deus é Pai,
saibamos nos respeitar e nos abraçar!
Filhos do Universo,
filhos do mesmo amor,
saibamos ouvir uns aos outros,
ouvir o que o outro nos tem a dizer.
E, sem combater,
sem desmerecer,
primeiro escutar,
depois discordar,
por fim celebrar e orar.
E adorar e servir a Deus.
E ajudar e ajudar as pessoas...
e respeitar os ateus!
... pra sermos filhos de Deus”.

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 23:50

ASPECTO RELIGIOSO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Divaldo Pereira Franco

O homem, herdeiro dos seus próprios atos, chega à atualidade, assinalado pela decepção, pela amargura e vencido pelo egoísmo.

Os séculos que varreram povos e edificaram civilizações foram, também, responsáveis pela quedas das suas construções, que hoje remanescem como escombros desolados, documentando a fragilidade das conquistas de natureza material.

Os avanços tecnológicos dos últimos tempos não se fizeram acompanhar pelas realizações de natureza moral, decorrendo disto os descalabros e desatinos que se observam em toda parte.

Ao lado das imensas conquistas da Ciência aliada à Tecnologia permanecem as indiferenças pelo homem, em si mesmo, mergulhando nas ambições desmedidas e na caça ao poder exacerbado, que respondem pela miséria social e econômica, que domina o Planeta em todas as direções. Centenas de milhões de vidas se estiolam ao abandono e os índices de crimes, de violência e de loucura parecem informar que o homem se perdeu a si mesmo...

Tal ocorrência resulta do fracasso do materialismo, que acenou à criatura a ilusão de mundo de mentira e propôs-lhe uma felicidade imediata, não maior do que uma quimera

As guerras sucessivas e os desajustes humanos provaram que as realizações não estavam dispostas a conduzir o individuo para o bem. Equipadas com dogmas e cerimônias complexas, nas quais, igualmente se fizeram vítimas dos seus pastores desalmados, mais interessados nos valores terrestres do que nos bens espirituais ou na felicidade das ovelhas.

Fomentadoras de interesses servis, lançaram-se, umas contra as outras, promovendo mais aflições do que consolos, e desligando de Deus, ao largo do tempo, as mentes humanas.

Neste báratro, surgiu a Doutrina Espírita, desde 1857, com propostas novas, alicerçadas nos fatos demonstrados em laboratório, e portadora de uma filosofia comportamental excelente, tendo como apoio o Cristianismo primitivo, que revive em toda a sua potencialidade.

Ciência que investiga, filosofia que esclarece e religião que conduz, o Espiritismo vem, no momento próprio, quando a cultura o pode assimilar e do homem vivê-lo, a fim de resgatar o Espírito do Cristo das Igrejas ortodoxas apaixonadas, cujos fieis, com raras e justas exceções, não O vivem nem O amam...

Momento este, altamente significativo e decisivo para o homem, de retorno ao Cristianismo, que o Espiritismo explica e desvela, abrindo as portas ao amor e à caridade, como propostas libertadoras para a consciência e o coração, até este momento ergastulados nos calabouços das paixões primitivas, destruidoras.

Atraindo milhões de pessoas, aos seus postulados, "Consolador" ilumina a mente e arranca, pelas raízes, os males que geram aflições, evitando que futuras lágrimas de dor venham aljofrar os olhos dos homens.

Fixando a atenção na sua feição religiosa, exaltamos a sabedoria do mestre Allan Kardec que no-lo ofereceu, escoimado de superstições e místicas, fórmulas e sacerdócios organizados, muito comuns a outras religiões, o que, todavia,não o exonera de ser vivido religiosamente, face às possibilidades de mudar os rumos atuais pelos quais segue a Humanidade, na busca da plenitude.

Nas sua grandeza, a Doutrina Espírita abarca o conhecimento gera, que nela jaz, em síntese, esplendendo na lição da Caridade, fora da qual, não há salvação.

Podemos, assim, constatar que em toda a Codificação está presente o espírito religioso, completando os conteúdos científicos e filosóficos, nos quais se apóia toda a Revelação.

Ao iniciar o colossal trabalho de interrogação aos Espíritos, a primeira questão apresentada por Allan Kardec é a respeito de Deus, e a última, prosseguindo em torno das indevassadas proposições do Infinito, defrontando-se, na problemática, a criatura e o seu Criador, para concluir, magistralmente, a Obra, com uma análise sobre o reino do Cristo nos corações e a predominância do bem no relacionamento social. Assim, ressalta a tese da destinação humana, cuja etapa final é a sua plenitude, a perfeição relativa que lhe está reservada. ("O Livro dos Espíritos" – Questões 1 e 1018/19.).

Nesse processo de evolução, conforme acentuam os Espíritos, tudo marcha na direção de Deus. "desde o átomo até o arcanjo" (Questão 540 – "O Livro dos Espíritos"), apresentando o mecanismo da "Progressão dos Espíritos", a todos facultando, a Soberana Lei, a oportunidade de desenvolver as potencialidades que lhes jazem inatas e alcançarem a felicidade, conforme as promessas de Jesus.

Deus, no Espiritismo,deixa de ser o Criador antropomórfico, para tornar-se a "inteligência suprema e causa primeira do Universo" (Questão 1 – "O Livro dos Espíritos") acessível à compreensão relativa dos homens, que lhe penetram a justiça, segundo as lições apresentadas pelo Nazareno.

O Evangelho, nessa obra fundamental, ressurge com toda a sua pujança, a partir do debate sobre os "anjos e demônios", que se inicia na Questão nº 128 e prosseguem em diversas outras.

Exalando, no seu texto, o odor religioso, na sua mais elevada qualidade, Kardec enfrenta o materialismo e o combate com lógica, apoiado pelos reveladores Espirituais, culminando com a questão a respeito do ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia, e que obteve a resposta, sintética e insuperável: Jesus. (Questão 625, de "O Livro dos Espíritos").

Na análise das "Leis Morais", a de adoração se apresenta como aquele que propicia ao homem a perfeita compreensão da sua pequenez diante da Majestade do seu Criador, elucidando que a verdadeira adoração é do coração (Questão 653 de "O Livro dos Espíritos"), anulando qualquer tipo de culto exterior e cerimonial que descaracterizaria a grandeza e o valor do seu compromisso com a razão e a lógica.

Aprofundando o assunto, explica, Allan Kardec, posteriormente: "Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da Natureza... Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade." ("A Gênese" – Cap. XVII, item 32.).

Por essência, o homem é um ser religioso. O seu atavismo antropológico-sociológico indu-lo ao culto religioso, à adoração natural a Deus, aos elementos essenciais da fé e, depois, da razão, na busca da conscientização da sua imortalidade. Este sentimento ressalta na prece, na ação da caridade, no exercício das virtudes, na superação da sua animalidade, no sacrifício para superar os próprios limites humanos.

A prece é-lhe de vital importância, a fim de se sintonizar com Deus, louvando-O, pedindo-Lhe e agradecendo-Lhe, em uma submissão racional e em uma libertação plena, ao entender as Leis que governam a vida.

Em "O Livro dos Espíritos", Parte Terceira (Das Leis Morais), Allan Kardec encara os desafios morais que esperam pelo indivíduo e analisa as grandezas e misérias humanas,suas paixões e ideais, seus vícios e virtudes em um formoso caleidoscópio de informações lúcidas quão atuais.

Em toda a metodologia de "O Livro dos Médiuns", encontramos a preocupação dos Espíritos e de Kardec, no que diz respeito à conduta moral dos intermediários e à sua responsabilidade em torno da vida futura que a todos nos aguarda.

Após a análise profunda das questões pertinentes ao intercâmbio entre os Espíritos e os homens, as conseqüências do bom ou mau uso da mediunidade, dos perigos da obsessão, são apresentadas comunicações que facultam uma melhor compreensão na natureza das criaturas após a desencarnação, que a ninguém modifica de golpe, e, por fim, as excelentes advertências e orientações das Entidades Venerandas, entre as quais, as oportunas palavras de Santo Agostinho: Confiai na bondade de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da vida nova que ele vos destina."

"O Evangelho segundo o Espiritismo", no seu Prefácio, abre as suas páginas com a extraordinária mensagem do Espírito de Verdade:

"Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

"Eu vos digo, em verdade, que são chegados em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

"As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.

"Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos juntos de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus."

Fundamentando-se nas mesmas questões abordadas por todas as religiões, e a que Kardec se referirá, posteriormente: "A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral..." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. I, nº 8.) E, logo depois, no Capítulo XXIV, item 16, da obra referida, volta a dizer: "Pois que a doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo."

Detendo-se em uma análise mais profunda a respeito dos vínculos entre a Ciência e a Religião, no livro acima referido (Cap. 1), assevera o Codificador, ainda, no Item 8:

"A Ciência e Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem se contradizer. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provêm apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.

São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm que ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos."

No Capítulo IX, Item 8, do mesmo livro,explica o Codificador: "A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas (...) O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes."

A seguir, no Capítulo XV, Itens 8 e 9, considera.

(...) "Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade (...) consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência (...) os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros."

Fora da Verdade

Ainda no Capítulo I, da referida obra, no item 6, Kardec assevera: "O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus" e prossegue no de número 7: "Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la, também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã; mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra."

Ao estudar O Cristo Consolador, no Capítulo VI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", toda a floração evangélica estende o perfume da esperança, fazendo-se ouvir novamente o conteúdo sublime da palavra de Jesus, qual ocorreu nos memoráveis dias da Sua jornada terrestre. E, ao final do item 5, deste notável Capítulo, o Espírito de Verdade orienta: "Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo."

No Capítulo XXVI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", no Item 10, com imensa propriedade, escreve o Codificador: "A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente." Estudava o mestre a questão da Mediunidade gratuita, objetivando o sentido superior do seu ministério e o faz de forma elevada, que a torna uma bênção a ser repartida religiosamente, desinteressadamente.

"O Céu e o Inferno", de Allan Kardec, é toda uma obra religiosa, na qual o extraordinário pensador propõe um Código penal da vida futura – 1a. Parte – Cap. VII, 33 itens extraordinários, dignos de figurar em qualquer legislação que dignifique a criatura humana. Ademais, as comunicações repetem os estados dos Espíritos, nos diferentes estágios do processo depurador, esclarecendo os velhos conceitos sobre o inferno, o purgatório e o céu, afirmando a justiça e a bondade de Deus em todos os seus transcendentes aspectos.

Nos dezoito capítulos de "A Gênese", uma terça parte deles aborda questões palpitantes e sempre oportunas da lições e ensinamentos de Jesus, fazendo ressaltar a tarefa do Espiritismo, na sua condição de "O Consolador" (João: 14: 16 e seguintes), elucidando, com as luzes que o projeta, as passagens obscuras e traçando um roteiro formoso a respeito da sociedade do futuro e da criatura humana regenerada, antecipando a Era Nova que dominará a Terra.

Em um momento extraordinário, ("A Gênese", Cap. 1, 42) afirma Kardec: "(...) reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador."

No mesmo Capítulo, Item 12, elucida: "O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, sua relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção cientifica da palavra."

No Item 13, informa: "Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica", prosseguindo, no de número 55: "As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus", acrescentando que: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará".

Anteriormente, afirmara o mestre, na Questão número 24 de "O Livro dos Médiuns": O Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião...", naturalmente confirmando o que se encontra exposto em "O Livro do Espíritos", na conclusão V: "O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da Religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras"; concluindo: " ... O Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus."(-Idem, Conclusão VIII)".

Estes argumentos já foram explicitados em "O que é o Espiritismo", quando o Codificador com segurança expõe: "O Espiritismo possui, porém, uma outra utilidade, mais positiva: é a natural influencia moral que exerce. Ele é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade, da sua sorte futura; é, pois, a destruição do materialismo..." (Segundo Diálogo – O Cético – Utilidade prática das manifestações – pág. 71.) E mais adiante: " O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestas conseqüências, fornecendo provas patentes da existência da alma e da vida futura. (...) os que têm uma fé religiosa e a quem esta fé satisfaz, dele não têm necessidade." (Terceiro Diálogo – O Padre – pág.84)

Na singela e bem elaborada obra "O Espiritismo na sua expressão mais simples" (Ed. FEB, 1921, pág. 14), afirma Kardec: Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e recompensas futuras; mas independe de qualquer culto particular." (Pág. 15)

E, na "Revista Espírita", de janeiro de 1863, à pág. 18, assevera: "Pelas provas patentes que ele (O Espiritismo) dá da existência da alma e da vida futura, base de todas as religiões, é a negação do materialismo..."

Ainda na Revista Espírita de 1860, pág. 308, na Resposta do Sr. Allan Kardec ao Sr. Redator da Gazeta de Lyon, afirma o Codificador: "O Espiritismo é inteiramente baseado no dogma da existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade após a morte, sua imortalidade, as penas e as recompensas futuras. Não só sanciona estas verdades pela teoria; sua essência é de lhes dar provas patentes. Eis por que tanta gente que em nada acreditava foi reconduzida às idéias religiosas. Toda a sua moral é apenas o desenvolvimento das máximas do Cristo (...) Romperam eles com toda crença religiosa, eles que se apóiam na base mesma da religião?" E dando prosseguimento aos seus notáveis argumentos, esclarece: "Entre eles (os operários), muitos maldiziam seu trabalho penoso; hoje, o aceitam com a resignação do cristão, como uma prova..."

Em "Obras Póstumas" (Manifestação dos Espíritos, Item 7 – pág. 39), confirma: "O Espiritismo, que se funda no conhecimento de leis até agora incompreendidas não vem destruir os fatos religiosos, porem sancioná-los, dando-lhes uma explicação racional." E acrescenta (pág. 235 da mesma obra): "O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote." (Ligeira resposta aos detratores do Espiritismo.)

Não havendo culto no Espiritismo, como se expressam os Espíritas? Através da comunhão mental e interior com Deus, com Jesus, com os Espíritos Superiores, sem a utilização de quaisquer utensílios materiais, indumentárias ou cerimônias. É, conforme a expressão de Bérgson, a "Religião psíquica", consoante a denominou A. Conan Doyle (Herculano Pires – Introdução à sua tradução de "O Livro dos Espíritos" pág. 24 – Edicel). Ainda, Herculano Pires ("Boletim Informativo" da União Municipal Espírita de Bauru, - SP – Edição Especial – O Caráter Religioso do Espiritismo) acentua:

"A partir desse momento (quando Kardec indaga "Que é Deus?") não temos apenas a Religião Espírita, mas também a sua Teologia. O Estudo da Natureza de Deus iniciado em "O Livro dos Espíritos" traz a solução dos problemas que aturdem neste momento os teólogos do Mundo. Os teólogos foram confundidos por Deus e já criaram até mesmo a Teologia da Morte de Deus. Mas a Teologia Espírita surge no horizonte em sua nova luz. São chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, como diz o prefácio mediúnico de "O Evangelho segundo o Espiritismo".

"Como vemos, a tese religiosa é fundamental no Espiritismo. Negar a existência da Religião Espírita é negar a lei de adoração e suas manifestações objetivas em todo o Mundo, em todas as épocas. Negar a existência de uma teologia Espírita é negar auxílio, o indispensável auxílio do Espírito de Verdade aos teólogos atormentados do nosso tempo. A Terra, dizia Pitágoras, é a morada da opinião. É muito fácil opinar sobre as coisas e não faltam opiniões pessoais sobre os mais graves problemas do Espiritismo. Mas não são as opiniões pessoais que resolvem. Temos que enfrentar cada tema Espírita nos textos da Codificação. Só eles nos dão a verdade que buscamos."

Magistralmente, Kardec reportou-se aos verdadeiros espíritas, ao enunciar: "Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências." (...) "A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos." (os destaques são de Allan Kardec.) (... Ce sont là les vrais spirites ou mieux les spirites chrétiens.") ("O Livro dos Médiuns", Primeira Parte, Cap. III – Do Método – Item 28, 3..) ("Reformador", 10/1977 – Ed. FEB.)

Posteriormente, Kardec volta a comentar: "Não empaneis esse clarão por sentimento e atos indignos dos verdadeiros Espíritas, de espíritas cristãos." (... "n’em termissez pás l’éclat par des sentiments et des actes indignes do vrais Spirites, de Spirites Chrétiens." ("Viagem Espírita em 1862" – O Clarin, 1º edição, 1968, pág 92; edição francesa da Union Spirite Kardeciste Belge, s/d, p. 63.) Idem, idem, pág.10.)

Mais tarde, ele anota: "Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana." – ("Obras Póstumas" – Segunda Parte – Livro da Previsões Concernentes ao Espiritismo, comunicação obtida em Ségur, aos 9/8/1863, a propósito da elaboração de "O Evangelho segundo o Espiritismo".) (Idem, Idem.)

Igualmente significativo é o conceito: "... a Doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. XXIV, Item 16.)

Por fim, na tese É o Espiritismo uma Religião?, extraímos do discurso de Allan Kardec, em 1º de novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, estampado na "Revue Spirite", de dezembro do mesmo ano, págs. 353 a 362 e traduzido por Júlio Abreu Filho, Edicel, págs. 356/360, ano XI, nº 12:

"Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigo de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônimo de opinião; implica uma idéia particular; a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política."

"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvidas senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós no glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da Natureza.

Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com o seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral."

"Crer num Deus todo-poderoso soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento moral e felicidade crescente com à perfeição; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na do bem e do mal conforme o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada pela imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provações, em vista do futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade de pensamentos, palavras e obras na mais larga acepção da palavra; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim nas descobertas da Ciência a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar com todos os cultos, isto é com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal."

"Religião – É palavra de origem latina: a) vem de relegere, recolher, tratar com cuidado (oposto de neglegere, deixar de lado, descuidar), porque o homem religioso zela, com máximo empenho e profundo respeito, pelas coisas referentes ao culto de Deus. É a etimologia que dá Cícero; b) outros autores, como Lactâncio, S. Jerônimo, S. Agostinho pensam que vem de religare, ligar, porque a religião tem, como base, os laços que unem o homem a Deus.

" A etimologia, aliás, pouco influi. Usamos a palavra religião com diversas acepções: Doutrina. Professar a religião cristã é admitir a doutrina, os ensinos de Nosso Senhor Jesus-Cristo: é crer nas verdades que nos revelou e observar os mandamentos que nos deu." – Boulanger – "A Doutrina Católica".

Após comentar o conceito apresentado por Boulanger, expondo os pontos básicos do Espiritismo, perfeitamente concordes com o Cristianismo, concluiu o erudito escritor Carlos Imbassahy:

"Pelas leis morais do Cristo, que segue; pela parte do Cristianismo, que representa; pela obrigação que se impôs de divulgar o Evangelho; pelo dever, que mantém, de colocar as leis divinas acima de tudo, como a fonte do progresso humano, o Espiritismo reivindica a parte que lhe cabe no seio das religiões." ("Religião" – págs. 91 a 105 – O Cristianismo.)

Voltando a "A Gênese", diz Allan Kardec (cap. 1):

"21. Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de Deus único...

22. O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana...

"30. O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina." – (Págs. 23 e 30.)

O "Petit Larousse – Illustré", edição de 1975, define Religião como: "a culto prestado à Divindade; doutrina religiosa; religião cristã". (Salvador Gentile – Espiritismo e Religião – "Reformador", Ed. FEB, 1986m págs 20 e 21.)

O "Dicionário Escolar do Professor", organizado por Francisco da Silva Bueno, edição 1962, elucida que Religião significa: conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade; doutrina religiosa. (Idem, Idem.)

O Diccionário de la Lengua Española, de la Real Academia Espanõla, 1970, informa: Religião significa: conjunto de crenças e dogmas acerca da divindade, de sentimentos de veneração e temor para com ela, de normas morais para a conduta individual e social e de práticas rituais, principalmente a oração e o sacrifício para prestar-lhe culto. (Idem, Idem.)

"A Grande Enciclopédia Delta Larousse" edição de 1978, define Religião: "Culto praticado a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. Conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa. Crença, devoção, piedade. Reverência às coisas sagradas."

Igualmente, a "Enciclopédia Brasileira Mérito", edição de 1967, assinala: Religião – Lat. Religio. Culto a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal; doutrina, crença ou sistema religioso; reverência ou acatamento às coisas sagradas; fé, crença, devoção, piedade; estado de pessoas reunidas por voto para seguirem prontamente certa regra da Igreja; ordem ou congregação religiosa; ordem de cavalaria; tudo aquilo que se considera dever sagrado ou obrigação indeclinável; reunião de princípios de moral comuns às nações civilizadas e independentes de revelação; escrúpulos; santidade ou virtude que se atribui a alguma coisa e pela qual se lhe presta reverência."

Diz Humberto Mariotti: "O Espiritismo, ao ser a ciência espiritual mais positiva da imortalidade da alma dentro do processo histórico, abarca, como é lógico, todas as necessidades da evolução humana; por conseguinte, não somente oferece ao homem a religião universal, mas, também, a Sabedoria Divina integral já que suas bases se desenvolvem sobre os três grandes instrumentos do saber. A Ciência – A Filosofia e A Religião. ("Codificação Espírita superada?" Federação Espírita do Paraná editora, 1964.)

Na sua obra "O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas" afirma Deolindo Amorim: "A adoração exterior pode ser útil, se não consistir num vão simulacro, se houver sinceridade, mas o Espiritismo faz sentir que o homem, quanto mais espiritualizado, menos necessidade de exteriorização ou de posturas convencionais para render culto a Deus. É a Religião pura e simples, a religião da consciência."

Por sua vez, González Soriano, in "El Espiritismo es la filosofia", acentua: "O Espiritismo – Ciência, Filosofia e Religião – faculta ao homem, neste atribulado fim de século, percorrer todo o caminho a que alude o filósofo na citação inicial deste artigo; porque é, sem dúvida, "a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade".

Fazendo-se uma análise insuspeita quão impessoal da questão, conclui-se com nítida claridade mental que o Espiritismo é religião cuja tarefa essencial foi confirmar, à luz da Ciência contemporânea, a legitimidade dos princípios nos quais se fundamentam todas as religiões: Deus, a alma, a justiça divina, a pluralidade dos mundos habitados, os deveres morais para consigo mesmo e para com o próximo, de cuja conduta deflui uma filosofia otimista, encarregada de ensejar ao homem a compreensão dos acontecimentos da vida e lutar, apoiado em uma ética moral superior, qual aquela que Jesus viveu e pregou, pelo auto- aprimoramento, libertando-se das paixões que o escravizam e infelicitam.

O Espiritismo é a Religião do amor em todas as suas dimensões e da caridade nas suas mais variadas expressões, dignificando a criatura e harmonizando-a em relação às Leis Soberanas que regem a vida.

O Espiritismo é a Religião dinâmica, sem dogmas, sem rituais, sem sacerdócio, sem limites, sem misticismo, sem superstição, encarregada de preparar a Era Nova da Humanidade ideal conforme preconizada por Jesus e referendada por São Luís, ao terminar a Questão de número 1019, de "O Livro dos Espíritos".

"Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções! Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias."

E Santo Agostinho, na Conclusão, Item IX do grandioso "O Livro dos Espíritos", estabelece: "O Espiritismo é o laço que um dia os (aos homens) unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade,onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do Mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até Ele."

Conquanto as dificuldades existentes no Mundo terrestres e a persistência do homem, na preservação dos seus "instintos agressivos", mantendo o desequilíbrio, promovendo a guerra, a Religião Espírita propicia-lhe a renovação dos valores íntimos e convida-o a uma reativação de interesses em favor do bem, do belo, do nobre, abrindo-lhe espaço para a conquista de si mesmo, prenúncio da aquisição da felicidade que aguarda.

Bibliografia:

  • "O Espiritismo na sua expressão mais simples", de Allan Kardec – Edição da FEB, 1912.
  • "O que é o Espiritismo", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "Obras Póstumas", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – 29ª Edição da FEB.
  • "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec – 28ª Edição da FEB, 1964.
  • "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec – 52ª Edição da FEB.
  • "O Céu e o Inferno", de Allan Kardec – 19ª Edição da FEB, 1963.
  • "A Gênese", de Allan Kardec – 14ª Edição da FEB, 1962
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – Edição da LAKE – tradução de Herculano Pires – Ed. 47ª - 1988.
  • "Religião", de Carlos Imbassahy – 3ª Edição da FEB, 1981.
  • "Revista Espírita", de Allan Kardec – janeiro de 1868 e outubro de 1860 – EDICEL, 1965.

(Extraído da Revista Reformador, maio,1990, pgs; 30-31-32-33-34 e 35, Digitação, Otto – Sociedade Espírita Fraternidade).

(...) equivaleria ao Fora da Igreja (...) e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade (...) O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independe de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da Verdade... pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos."

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 23:45

O CONSOLADOR PROMETIDO

 

 
 
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Consolador Prometido
3. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, por que ele ficará convosco e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17; 26).
4. Jesus promete outro consolador: é o Espírito da Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que Cristo disse. Se, pois, o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não pôde dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo. O Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Cristo disse: "que ouçam os que têm ouvidos para ouvir". O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu propositalmente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre?
O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Não Vim Trazer a Paz, Mas a Espada.
 
 
16. Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz, mas a divisão _ seu pensamento era o seguinte:
“Não penseis que a minha doutrina se estabeleça pacificamente”. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo na terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.
Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só carreta desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranqüilidade. “Nesse momento, todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos ensinei”.
 
"A Gênese"
Capítulo I
Caracteres da Revelação Espírita
26. Entretanto, o Cristo acrescenta: "Muitas das coisas que vos digo, vós não as podeis ainda compreender, e eu tenho muitas outras a vos dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo em parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito da Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará" (Jo 14.16; Mt 17).
Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que ele acreditava deveria deixar certas verdades na sombra até que os homens estivessem em estado de compreendê-las. Ele mesmo disse que o seu ensinamento era incompleto, pois anunciou a vinda daquele que deveria completá-lo; previa, assim, que a suas palavras não seriam bem interpretadas, que o seu ensino seria desviado; numa palavra, que seria desfeito o que ele fizera, desde que todas as coisas deveriam ser restabelecidas; ora, não se restabelece senão aquilo que foi desfeito.
27. Por que denomina ele Consolador ao novo Messias? Este nome significativo e sem ambigüidades é toda uma revelação. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolo, o que implica a insuficiência das consolações que encontrariam na crença que estavam formulando. Jamais o Cristo poderia ser mais claro e mais explícito como nestas últimas palavras, às quais poucos deram a atenção necessária, talvez porque evitaram mesmo esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético.
28. Se o Cristo não pode desenvolver o seu ensino de maneira completa, é porque faltava aos homens o conhecimento que eles não poderiam adquirir senão com o tempo e sem o qual não o poderiam compreender; há coisas que teriam parecido sem sentido, de acordo com os conhecimentos de então. Completar o seu ensinamento deve ser interpretado no sentido de explicar e de desenvolver e não o de adicionar verdades novas, porque ali tudo se encontra em germe; somente faltava a chave para abrir o sentido de suas palavras.
"A Gênese"
Anunciação do Consolador
35. Se vós me amais, guardai meus mandamentos _ e pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: _ o Espírito de Verdade, que este mundo não pode receber, pois não o vê; mas vós o conhecereis, pois ficará convosco, e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará recordar de tudo quanto vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vers. 15, 16, 17 e 26. _ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI).
36. Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu vá; pois se eu não me for, o Consolador não virá a vós; porém eu vou, e eu vo-lo enviarei, _ e quando ele vier, convencerá o mundo no que respeita ao pecado, à justiça e ao julgamento: _ no que respeita ao pecado, porque eles não terão acreditado em mim; _ no que respeita à justiça, porque eu vou a meu Pai e vós não me vereis mais; no que respeita ao julgamento, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não as podeis suportar agora.
Quando este Espírito de Verdade vier, ele vos ensinará toda a verdade, pois não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
Ele me glorificará, porque receberá do que está em mim e vo-lo anunciará. (S. João, cap. XVI, vers. 7 a 14).
37. Esta predição, sem contradita, é uma das mais importantes do ponto de vista religioso, pois ela prova de maneira inequívoca que Jesus não disse tudo aquilo que tinha a dizer, pois não o compreenderiam mesmo seus apóstolos, pois era a estes que ele se dirigia. Se lhes houvesse dado instruções secretas, eles teriam mencionado isso no Evangelho. Então, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos, os sucessores destes não poderiam ter sabido mais que aqueles; poderiam, pois, ter-se enganado sobre o sentido das suas palavras, dar uma falsa interpretação a seus pensamentos, freqüentemente velados sob forma simbólica. As religiões fundadas sobre o Evangelho não podem, pois, dizer que estão na posse de toda a verdade, pois que ele se reservou o direito de completar ulteriormente suas instruções. O princípio de imutabilidade das religiões está, pois, desmentido pelas próprias palavras de Jesus.
Ele anuncia sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, aquele que deve ensinar todas as coisas e fazer recordar o que ele dissera; de onde se diz que seu ensinamento não estava completo; além disso, ele previa que haviam de esquecer o que ele dissera, e que haviam de desnaturar seu ensinamento, pois o Espírito de Verdade lhes devia fazer recordar, e de acordo com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, segundo o verdadeiro pensamento de Jesus.
38. Quando deverá vir este novo revelador? É bem evidente que, se na época em que Jesus falava os homens não estavam em estado de compreender aquilo que lhe restava dizer, não seria em alguns anos que poderiam adquirir as luzes necessárias. Para compreensão de certa parte do Evangelho, excetuados os preceitos da moral, seriam necessários conhecimentos que unicamente o progresso da ciência poderia dar, e que deviam ser a obra do tempo e de diversas gerações. Se, portanto, o novo Messias tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, teria encontrado o terreno também pouco propício, e não teria feito mais que ele. Ora, desde Cristo até os nossos dias, não se produziu nenhuma grande revelação que haja completado o Evangelho, e haja elucidado suas partes obscuras, o que constitui índice seguro de que o Enviado ainda não aparecera.
39. Qual deverá ser esse Enviado? Ao dizer Jesus: "Orarei a meu Pai e ele vos enviará um outro Consolador," isto indica claramente que não se trata dele mesmo, senão teria dito: "Voltarei a completar o que vos tenho ensinado." Depois, ele acrescenta: "A fim de que permaneça eternamente convosco, e estará em vós." Isto não poderia dizer respeito a uma individualidade encarnada que não pode permanecer eternamente conosco, e ainda menos estar em nós; compreende-se bem que pode ser uma doutrina a qual, com efeito, desde que tenha sido assimilada, pode estar eternamente em nós. O Consolador é, pois, no pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador deve ser o Espírito de Verdade.
40. O Espiritismo realiza, conforme foi já demonstrado (Cap. I, nº. 30), todas as condições do Consolador prometido por Jesus. Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer que foi seu criador. É o produto do ensinamento coletivo dos Espíritos, ensino ao qual preside o Espírito de Verdade. Nada suprime do Evangelho: ele o completa e elucida; com o auxílio das novas leis que revela juntas às da ciência, faz compreender o que era ininteligível, admitir a possibilidade do que a incredulidade considerava como inadmissível. Teve seus precursores e seus profetas, que lhe pressentiram a vinda. Por seu poder moralizador, prepara o reino do bem sobre a Terra.
A doutrina de Moisés, incompleta, permaneceu circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, espalhou-se por toda a Terra, pelo cristianismo, porém não converteu todo o mundo; o Espiritismo, mais completo ainda, tendo raízes em todas as crenças, converterá a humanidade. (1)
41. Quando Jesus dizia a seus apóstolos: "Um outro virá mais tarde, que vos ensinará aquilo que não posso vos dizer agora," proclamava por isso mesmo, a necessidade da reencarnação. Como poderiam estes homens aproveitar o ensinamento mais completo que deveria ser dado ulteriormente? Como seriam eles mais aptos a compreendê-lo, se não deviam reviver? Jesus teria dito uma inconseqüência, se os homens futuros devessem, segundo a doutrina vulgar, ser homens novos, almas saídas do nada no seu nascimento. Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens de seu tempo tenham vivido depois; que eles revivem ainda hoje; então, a promessa de Jesus se encontra justificada; sua inteligência, que deve ter-se desenvolvido ao contato do progresso social, pode suportar agora aquilo que então não o poderia. Sem a reencarnação, a promessa de Jesus teria sido ilusória.
42. Se se dissesse que essa promessa foi realizada no dia de Pentecostes pela descida do Espírito Santo, a resposta seria de que o Espírito Santo os inspirou que ele pode abrir sua inteligência, desenvolver neles às aptidões mediúnicas que deviam facilitar suas missões, mas que nada lhes ensinou além do que Jesus ensinara, pois nenhum traço se encontra, de um ensinamento especial. O Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara, do Consolador: de outro modo os apóstolos teriam elucidado, enquanto viviam, tudo quanto permaneceu obscuro no Evangelho, até nossos dias, e cuja interpretação contraditória deu lugar às inúmeras seitas que dividiram o cristianismo desde os primeiros séculos.
(1) Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora; o mosaísmo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina.
Bibliografia:
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.6 e 23
KARDEC, A. Gênese. Cap. 1 e 17
 
 
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 23:25
Quinta-feira , 14 de Janeiro DE 2010

A TRAIÇÃO DE JUDAS - UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

 
 
 
 
                                           “Afaste-se da boca enganosa e fique longe dos lábios falsos” (Pv 4, 24)
Introdução
É interessante como alguns temas bíblicos não resistem a uma análise mais profunda. Vários deles, que já tratamos em outros textos, nos levam a uma certeza que muitos trechos constantes da Bíblia trata-se de uma deliberada, mas sutil, montagem para se chegar a um objetivo previamente traçado. Daí, muitos textos foram amoldados a esse objetivo, passando por cima da verdade histórica que deveria conter tais escritos.
Muitas pessoas se chocam com atitudes como essa, a de uma análise crítica. Entretanto, não abrimos mão de fazer uso da inteligência com a qual nos dotou o Criador. Nós seres humanos racionais, que efetivamente somos, temos que usar esse dom, pois, não usá-la é abdicar da única capacidade que nos difere dos animais, por isso, acreditamos que só ofendemos a Deus, quando não utilizamos a nossa inteligência plenamente.
Reconhecemos, entretanto, ser muito difícil a inúmeras pessoas, principalmente as que não pesquisam, abandonar conhecimentos adquiridos, especialmente quando foram passados como verdades divinas sob coação ideológica. Ou seja, o simples questionamento da veracidade das mesmas já era, por si só, considerado como grave ofensa à divindade. Essa possibilidade de heresia acaba gerando um bloqueio mental em função do medo do conseqüente castigo por esse tipo de pecado. Assim, aceitamos sem o mínimo questionamento o que nos foi imposto como verdade absoluta. Com o tempo, passamos a defender idéias que nunca analisamos ou criticamos, como se nossas fossem.
O assunto que iremos tratar, desta vez, está relacionado a uma suposta traição a Jesus, que teria sido realizada por Judas Iscariotes, um de seus discípulos. Inclusive, tudo que consta na Bíblia sobre ele está somente nas passagens que iremos ver a seguir.
Análise das narrativas
Em Lucas 22,3-6, está escrito que, após satanás ter entrado em Judas, ele foi procurar os sacerdotes para ver de que maneira entregaria Jesus. Os sacerdotes ficaram tão satisfeitos com isso que combinaram em dar-lhe dinheiro, uma vez que eles desejavam, de há muito, eliminar esse herético. Tal acontecimento se deu, na versão de Lucas, antes da festa dos Ázimos, evidentemente, antes da ceia de páscoa, cujo prato principal eram os cordeiros que matavam especificamente para essa finalidade, entretanto, segundo João, esse fato se deu após a ceia (Jo 13, 26-29), apesar de que, um pouco antes, ele ter dito: Enquanto ceavam, tendo o diaboposto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o traísse” (Jo 13,2), sendo, por conseguinte, omisso sobre qualquer combinação anterior entre Judas e os sacerdotes. Portanto, podemos verificar que há conflito entre as narrativas.
Quanto à questão dessa combinação com os sacerdotes, Mateus (26,15) diz que Judas pediu dinheiro para entregar-lhes Jesus, enquanto que Marcos (14,11) e Lucas (22, 5) afirmam que foram os sacerdotes é quem tomaram a iniciativa de retribuir ao discípulo, dando-lhe dinheiro como recompensa pelo seu ato ignominioso. Um bom observador irá perceber que, pelas suas narrativas, Mateus teve uma evidente preocupação, qual seja a de relacionar Jesus com as profecias, inclusive, muito mais que os outros Evangelistas. Daí ser ele o único que diz sobre o quanto Judas teria recebido, dando como certa a importância de trinta moedas de prata (Mt 26,15; 27,3). Essas passagens que falam disso são relacionadas a Zc 11,12-13, no pressuposto de que ela seja uma profecia, entretanto, os fatos ali narrados se referem ao próprio profeta Zacarias, não é, por conseguinte, uma revelação sobre algo que viesse a ocorrer no futuro.
Ao narrar os acontecimentos durante a ceia, Mateus relata que Jesus, ao responder aos discípulos sobre quem o iria trair, teria dito: Quem vai metrair, é aquelequecomigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escriturafala a respeito dele..." (Mt 26,23-24). Passagem relacionada ao Sl 41,10, onde Davi reclama sobre um amigo que o trai. O que nos leva a concluir que tal passagem não é uma profecia, assim, não poderia estar relacionada a Jesus, como querem os que buscam, nas Escrituras, apoio para seus dogmas. Davi foi traído por um amigo, seu próprio conselheiro, de nome Aquitofel, conforme narrativa em 2Sm 15,12.31. O final trágico da vida desse “amigo da onça” foi enforcar-se (2Sm17,23), por isso, querem, igualmente, atribuir esse mesmo destino a Judas, como iremos ver mais à frente.
Outra coisa que nos parece sem nenhum sentido, principalmente por tudo que Ele fez, é que Jesus tenha realmente se preocupado em delatar o seu traidor, conforme narra Jo 13,26, quando, para identificar quem o trairia, diz aos que o acompanhava, naquela ceia, que seria a quem desse um pão molhado, dito isso, imediatamente, entrega-o a Judas. Talvez a preocupação aqui seja buscar mais uma forma de relacionar tal episódio a uma suposta profecia sobre esse acontecimento.
Mateus (26,48) e Marcos (14,44) dizem que Judas havia combinado com os sacerdotes um sinal – o beijo – para que pudessem identificar quem era Jesus. Lucas, apesar de não relatar absolutamente nada sobre esse sinal, diz que Judas aproximando-se de Jesus o saúda com um beijo (Lc 22,47). Enquanto que João não fala de ter havido uma combinação de sinal, nem que Jesus teria dito algo a respeito e nem mesmo coloca Judas beijando a Jesus, já que, para ele, foi o Mestre que se adiantou aos guardas acompanhados de Judas se identificando a eles como sendo Jesus, o Nazareno, a quem procuravam (Jo 18,3-5). Fatos novamente conflitantes.
Nenhum outro evangelista, a não ser João, coloca Judas como sendo aquele que, entre os discípulos, cuidava da “bolsa” (Jo 13,29). Vai mais longe ainda, o acusa de ladrão (12,6). Como uma acusação grave dessa não foi feita por mais ninguém? Se Judas fosse realmente ladrão, por que motivo o deixaram tomando conta do dinheiro? Alguém colocaria um ladrão como seu administrador financeiro? Não seria, evidentemente, para colocar a honra desse discípulo em jogo, fórmula encontrada para se justificar que, por ser assim, ele não teria também nenhum escrúpulo em trair o seu próprio Mestre?
Não bastassem os que já encontramos, aparecem-nos agora mais dois evidentes conflitos.
O primeiro está relacionado à forma pela qual Judas deu cabo à sua vida, movido, segundo relata Mateus, por profundo remorso. Estranhamente ele é o único evangelista que fala disso, nenhum outro apresenta uma linha sequer sobre Judas ter se arrependido. Continuando seu relato Mateus diz que Judas enforcou-se (27, 5), entretanto em Atos (1,18) está se afirmando que ele “precipitando-se, caiu prostrado e arrebentou pelomeio, e todas as suasentranhas se derramaram”, mudando-se, desta maneira, a versão anterior a respeito de sua morte. Encontramos a seguinte explicação para esse passo: “Possivelmente a narração da morte de Judas enforcando-se, está inspirada na história da morte de Aquitofel (cf. 2Sm 17,23)” (Bíblia Sagrada Santuário, p. 1463). Conforme citamos anteriormente Aquitofel enforcou-se, mas querer daí, apenas por inspiração, atribuir a Judas uma morte semelhante é lamentável, pois os fatos bíblicos deveriam relatar fielmente o ocorrido, não como o autor quer que tenha acontecido, o que nos coloca diante de uma mera suposição.
O segundo diz respeito ao destino dado às moedas. Mateus menciona que Judas as teria devolvido, atirado-as dentro do santuário, que recolhidas pelos sacerdotes foram, por deliberação, destinadas à compra do campo do oleiro, para servir de cemitério aos estrangeiros (27,3-10). Citando que isso aconteceu para se cumprir o que dissera o profeta Jeremias. Mas essa história parece-nos mal contada, pois em Atos se diz que o próprio Judas teria comprado um campo (At 1,18), que até poderia ser esse do oleiro, mas de qualquer forma está em conflito com a versão anterior.
Na maioria das Bíblias em que consultamos, dizem que as profecias relacionadas a Mt 27,9: “Cumpriu-se, então, o que foi ditopeloprofeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata,, preço do que foi avaliado, a quemcertosfilhos de Israel avaliaram e deram-nas pelocampo do oleiro, assimcomome ordenou o Senhor”, seriam: Zc 11,12-13 e Jr 32,5-16, ou Jr 18,1-4 e 19,1-3, havendo, portanto, sérias dúvidas quanto à identificação da profecia especifica relacionada ao episódio. Como já falamos sobre a citação de Zacarias, fica-nos, por conseguinte, apenas as de Jeremias para dizermos alguma coisa. Em notas explicativas sobre elas encontramos que: “A citação é uma combinação artificial de Jr 32,6-9 e Zc 11,12-12” (Bíblia do Peregrino, p. 2386), isso deixa-nos diante da realidade de que, por se admitir que seja “uma combinação artificial”, estamos, sem dúvida, diante de mais uma tentativa de se relacionar acontecimentos no Novo Testamento com ocorrências registradas no Antigo Testamento tidas como se fossem verdadeiras profecias.
Quem tiver a curiosidade de consultar a passagem citada de Zacarias não encontrará nela nenhum aspecto de profecia, são apenas fatos relacionados àquele momento vivido por esse profeta. E quanto a Jeremias, não se encontra absolutamente nada que ele tenha comprado alguma coisa por trinta moedas. Sobre a compra de um terreno, sim, como podemos ver em 32,1-44, mas uma situação circunstancial, explicada da seguinte forma:
“À primeira vista se trata de um incidente: a compra e venda de um terreno segundo as normas e o procedimento da legislação judaica. O narrador se compraz em registrar todos os detalhes, mostrando que a lei foi estritamente cumprida e que o ato é juridicamente válido. O surpreendente dessa compra-e-venda é que se realiza às vésperas da catástrofe inevitável. Que sentido tem nesse momento comprar um terreno para que fique em poder da família? Tudo já está perdido. Mas o absurdo do ato é a chave do seu sentido. Para efeitos legais imediatos, a compra nada servirá; para efeitos proféticos, é admirável ato de esperança no futuro. É um oráculo em ação, Jeremias profetiza ao vivo: não só palavras, nem ação simbólica, mas ato real jurídico. Esse ato significa o futuro que ele antecipa: a jarra de barro onde se guarda o contrato é um penhor que Deus concede. Apesar do que está para acontecer, a terra continua sendo propriedade dos judaítas: a terra prometida aos patriarcas e possuída durante séculos...” (Bíblia do Peregrino, p. 1928).
Podemos ainda confirmar isso com a seguinte explicação: “A citação [Mt 27,9] é tirada na realidade de Zacarias (11,12-13). Mas, ele lembra também diversos versículos de Jeremias onde se faz menção do campo e do oleiro (32,6-6; 18,2-12)”. (Bíblia Ave Maria, p. 1319). Ressaltamos que a expressão “ela lembra”, é uma afirmativa que depõe contra o próprio texto que, positivamente, diz ser de Jeremias essa profecia.
Conclusão
Percebemos que as narrativas possuem diversos fatos conflitantes entre si, deixando-nos na convicção que tudo não passa de um ajuste dos textos para se chegar a um objetivo pré-determinado, conforme já falávamos, desde o início. Para se ter uma idéia mais exata sobre isso, colocaremos a passagem Mateus 27,1-26, que, para tornar a explicação mais fácil de ser entendida, iremos dividi-la em três partes:
I) 1-2: De manhãcedo, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram umconselhocontra Jesus, para o condenarem à morte. Eles o amarraram e o levaram, e o entregaram a Pilatos, o governador.
II) 3-10: EntãoJudas, o traidor, ao verque Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: "Pequei, entregando à mortesangueinocente". Eles responderam: "E o que temos nóscomisso? O problema é seu". Judas jogou as moedas no santuário, saiu, e foi enforcar-se. Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: "É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue". Então discutiram emconselho, e as deram emtrocapeloCampo do Oleiro, parafazer o cemitério dos estrangeiros. É porissoqueessecampoatéhoje é chamado de "Campo de Sangue". Assim se cumpriu o quetinhadito o profeta Jeremias: "Eles pegaram as trinta moedas de prata - preçocomque os israelitas o avaliaram - e as deram emtrocapeloCampo do Oleiro, conforme o Senhorme ordenou".
III) 11-26: Jesus foi postodiante do governador, e este o interrogou: "Tu és o rei dos judeus?" Jesus declarou: "É vocêque está dizendo isso". E nada respondeu quando foi acusado peloschefes dos sacerdotes e anciãos. Então Pilatos perguntou: "Não estás ouvindo de quantacoisaeleste acusam?" Mas Jesus não respondeu uma palavra, e o governador ficou vivamente impressionado. Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiroque a multidão quisesse...”
Para o que queremos colocar não é necessário citar toda a narrativa, assim omitimos o restante da seqüência dessa última (vv. 16-26), pois até aqui, no versículo 15, já encontramos o suficiente para entendermos e percebermos que os versículos de 3-10 nada têm a ver com o contexto geral daquilo relatado na passagem. Inclusive, no versículo 3 está dito que Judas viu que Jesus havia sido condenado, quando, no desenrolar do texto, esse fato ainda não havia acontecido, que só veio acontecer mais à frente. A quebra brusca na seqüência dessa narrativa, não deixou de ser percebida pelo tradutor da Bíblia do Peregrino, conforme nos explica:
“O episódio da morte de Judas interrompe estranhamente o curso do relato, como se a entrega de Jesus ao governador ultrapassasse suas previsões. Sabemos que a figura de Judas alimentou desde cedo fantasias legendárias. Lucas dá versão diferente (At 1,18-20). A morte violenta do perseguidor ou culpado é tema literário conhecido (p. ex. Absalão, 2Sm 18: Antíoco Epífanes, 2Mc9; em versão poética vários oráculos proféticos, p.ex. Is 14; Ez 28). Antes de morrer, Judas acrescenta seu testemunho sobre a inocência de Jesus. Confessa o pecado, mas desespera do perdão...” (pp. 2385-2386).
Isso vem confirmar todas as nossas suspeitas de que tudo foi um calculado arranjo visando ajustar os textos às conveniências dos interessados para que eles tivessem referências às suas idiossincrasias. E em relação ao assunto tratado, temos fortes suspeitas que vários outros trechos foram intercalados às narrativas bíblicas, para se amoldá-los ao propósito determinado. Podemos citar, como exemplo, Mt 26,14-16, 21-25, Mc 10,10-11; 14, 18-21, Lc 22,3-6, 21-23, para que você, caro leitor, faça uma análise mais aprofundada.
Ficamos a pensar como se sentiu e como ainda pode estar se sentido Judas sobre tudo quanto lhe imputaram como procedimento. O pobre coitado ainda é julgado e condenado, anos após anos, pelos ditos “cristãos”, que, com certeza, não cumprem: Não julgueis os outrosparanão serdes julgados, porquecom o julgamentocomque julgardes, sereis julgados e com a medidaque medirdes sereis medidos” (Mt 7,1-2). Não bastasse isso ainda é humilhado, malhado e, ao final, é espetacularmente “detonado”. Infelizmente esse nos parece ser o seu destino cruel, que se perpetua anualmente nas comemorações da Semana Santa realizadas por determinadas religiões cristãs tradicionais.
 
Bibliografia
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino.São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada - Edição Pastoral.São Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Sagrada. Aparecida, SP: Santuário,1984.
Bíblia Sagrada. Brasília, DF: SBB, 1969.
Bíblia Sagrada. São Paulo: Ave Maria, 1989.
  

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 14:29
Terça-feira , 12 de Janeiro DE 2010

ESPÍRITOS SE COMUNICAM NA IGREJA

Um dos segredos guardados pela Igreja Católica acaba de ser desvendado: os espíritos se comunicam no seio da própria Igreja. A revelação veio à tona através do pesquisador de fenômenos paranormais baiano Clóvis Nunes, que conseguiu filmar e fotografar o Museu das Almas do Purgatório, em Roma, e constatou que há pelo menos 104 anos ali estão registradas marcas que legitimam a comunicação e aparições de pessoas mortas.


Tudo começou com um misterioso incêndio na inauguração de um altar, em 1897. Os fiéis, ao apagarem o fogo, perceberam no mármore a marca de um rosto atormentado de um homem. O curioso, segundo Clóvis, é que não havia qualquer combustível no local. Padre Victory Juet e outros entenderam que a materialização daquele rosto, cujos resíduos estão intactos até hoje, se tratava de um fenômeno paranormal insólito.


Com o tempo, o acervo foi se ampliando, com peças vindas de outras igrejas. As relíquias são imagens surpreendentes e revelam que as comunicações espirituais na Igreja são evidentes e acontecem em diferentes épocas. Em entrevista exclusiva, ele nos relata detalhes de sua ousadia em driblar a segurança para desvendar os mistérios. Cita casos de padres que admitem a comunicabilidade com os espíritos, escrevem livros e fazem conferências sobre o assunto.
Revela o depoimento do papa João Paulo II, no dia de finados de 1983, na Praça de São Pedro, em Roma, para mais de 20 mil pessoas: "O diálogo com os mortos não deve ser interrompido porque, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo". Este foi relatado pelo padre Gino Concetti, diretor do Observatório Romano, ao publicar uma série de informações oficiais do Vaticano, que legitima o intercâmbio entre vivos e mortos, desde que esteja vinculado a uma ética adequada de uma postura positiva, dentro da construção de valores espirituais para com os interesses da religião.


"Essa frase legitima, de uma forma muito clara, a posição do papa, com relação ao diálogo com os mortos, e a atual posição da igreja que ao longo do tempo vem sofrendo modificações", conclui Clóvis.


Museu esconde o mistério
O Museu das Almas do Purgatório foi criado pela Igreja no início do século passado pelo padre Victory Juet, que pertencia à Ordem do Sagrado Coração de Jesus, fundada em 1854 pelo padre Chevalier, com a finalidade de proferir missa e orações em sufrágio das almas em sofrimento. Esta organização se desenvolveu em Roma a partir do trabalho de Juet que se transformou numa das maiores personalidades de sua época. Foi procurador de Roma, amigo pessoal e de extrema confiança do Papa Pio X.


Em 15 de novembro de 1897, quando se havia adornado o altar para uma festa, em comemoração às conquistas para construção do grande santuário, que é hoje a igreja, aconteceu o incêndio misterioso. Victory Juet e os fiéis deduziram que seriam almas do purgatório pedindo preces para aliviar seus sofrimentos no Além, uma vez que a igreja estava sendo construída para isso, além de uma demonstração real de que a Igreja seria necessária. A partir daí, o padre, impressionado, comunicou ao papa e às autoridades eclesiásticas, empreendeu muitas viagens pelos países europeus, buscando testemunhos, provas e sempre investigando para inserir outras comunicações semelhantes.


Depois de algum tempo e de uma grande quantidade de material selecionado ele fundou o primeiro Museu Cristão de Além Túmulo, com autorização do papa, para legitimar todas as peças que registram aparições de comunicação espírita entre padres e freiras. "Hoje o museu tem a quantidade de peças resumidas, mas é o registro dessas aparições durante muitos anos em diversas igrejas e diversas partes do mundo", destaca Clóvis.


Segundo ele, a igreja admite, através do museu, a comunicação entre os vivos e os mortos. "Ali está uma testemunha autêntica da imortalidade, da comunicabilidade com os espíritos, muito embora 90% ou mais dos padres desconheçam este museu, pois foi instituído por uma Ordem e somente os padres que estão ligados a ela, o Sagrado Coração de Jesus, sabe da sua existência. Mas se o papa Pio X autorizou sua criação e se o fenômeno aconteceu ali é porque desde aquela época a Igreja admite a comunicação com os mortos. Não explicitamente para o público, mas entre as autoridades eclesiásticas, acreditamos que isso é um fato de algum tempo. Portanto, mais de 100 anos que estas peças registram silenciosamente fatos incontestáveis de que os espíritos se comunicam dentro do seio da Igreja Católica", analisa.


O teor das mensagens
Algumas das comunicações destes padres eram o mal uso, por exemplo, das ofertas da missa e depois com a consciência culpada vinham dizer onde estava este dinheiro guardado. Outras foram de freiras que vinham dizer às irmãs que a vida continuava depois da morte. Também uma grande parte de casos de espíritos em sofrimento que voltavam pedindo para celebrar missa para alívio das dores e das perturbações da alma.


Como a Igreja Católica tem a leitura do Além em três níveis de realidades, explica Clóvis: os bons vão para o Céu; os maus vão para o Inferno e os que não são totalmente nem bons nem totalmente maus ficam temporariamente no Purgatório, como a maioria das comunicações vieram solicitando preces, a Igreja atribuiu este nome de Museu das Almas do Purgatório, após a morte do padre Victory Juet, porque o nome original era Museu Cristão de Além Túmulo.
No começo do século passado, o padre Victory Juet abriu o museu para o público no mesmo período que a igreja foi aberta ao culto, em 1917. A partir de então, o museu passou a despertar muita curiosidade, interpretações precipitadas e equivocadas e a Igreja resolveu então reservar estas informações porque a maioria das interpretações que se dava ao Museu das Almas do Purgatório era relacionada com o satanismo. Os leigos interpretavam as comunicações como algo demoníaco. Isso perturbou não só a fé dos fiéis como também contribuiu para uma má informação do pensamento da doutrina cristã da Igreja. Daí a igreja não liberar mais a visitação, para preservar a contextualização religiosa.


Papa legitima diálogo
O papa João Paulo II não foi o único que se pronunciou sobre o assunto. Clóvis Nunes afirma que muitos outros testemunhos, por parte das autoridades eclesiásticas, admitem a possibilidade de comunicação dos espíritos. Desde o período da transcomunicação (comunicação com os espíritos através de meios eletrônicos) que a Igreja tem se inclinado a uma posição favorável na comunicação com o Além. O Papa Pio XII foi informado destes contatos. Atualmente são muitos padres envolvidos. O padre suíço Léo Schmid publicou o livro Quando os Mortos Falam, resumindo cerca de 12 mil comunicações de espíritos por vozes paranormais, registradas em gravador por k-7.


Também o padre karl Pfleger foi liberado de suas obrigações tradicionais da Igreja para pesquisar o assunto e resultou em opiniões claras e definidas de que a comunicação era uma realidade. Na França, o padre François Brune escreveu o livro Os Mortos nos Falam, traduzido em 11 idiomas e vendido em livrarias católicas. Em parceria com um pesquisador da Universidade de Sourbone, escreveu o livro Linha Direta com o Além. Na Bélgica, Jean Martan escreveu o livro Milhares de Sinais, que resume evidências de comunicação e faz conferências legitimando estas possibilidades. E por aí vai.


"O Espiritismo existe"
E a comunicação entre vivos e mortos será que existe? O padre Gino Concetti, de viva voz, respondeu à reportagem do Fantástico: "Eu acredito que sim. Eu acredito e me baseio num fundamento teológico que é o seguinte: todos nós formamos em Cristo um corpo místico, do qual Cristo é o soberano. De Cristo emanam muitas graças, muitos dons, e se somos todos unidos, formamos uma comunhão. E onde há comunhão, existe também comunicação".


Padre Gino Concetti foi mais além, ao afirmar que "o espiritismo existe, há sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. Mas não é do modo fácil como as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar o espírito de Michelangelo, ou de Rafael. Mas como existem provas na Sagrada Escritura, não se pode negar que exista esta possibilidade de comunicação".


Concetti recebeu ainda eco ou reforço do teólogo Sandro Register: "A Igreja acredita que seja possível uma comunicação entre este mundo e o outro mundo. A Igreja já tem convicção de que esta comunicação existe. A Igreja se sente peregrina, porque vive na terra e possui uma pátria no céu".


Ao admitir a possibilidade do diálogo espiritual, padre Concetti faz questão de ressaltar que este ato não será pecado desde que sob a inspiração da fé e que se evite a prática de idolatria, a necromancia, a superstição e o esoterismo. Justifica que não se pode brincar com as "almas dos trespassados" e nem evocá-las por motivos fúteis, para obter por exemplo número de loterias Isso tudo de acordo com entrevista publicada no Jornal Ansa, em Itália – novembro de 1996.


A sustentação do Cristianismo
O parapsicólogo Clóvis Nunes observa que o Museu das Almas representa para os cristãos a certeza da fé no Além, e analisa: "O mistério do Cristianismo nasceu desta comunicação com o Além. Desde o nascimento de Cristo, anunciado por um espírito, até mesmo a sustentação do Cristianismo, porque este só se tornou sustentável quando Jesus ressurgiu dos mortos, no terceiro dia. A partir daí, o Cristianismo se legitimou e outros fenômenos incríveis da história foram legitimados pela comunicação entre vivos e mortos".


"Outro aspecto importante, prossegue o pesquisador, foi a conversão de Paulo de Tarso, na estrada de Damasco, quando se deparou com o espírito de Jesus, que perguntou-lhe: 'Saulo, Saulo, por que me persegues?' Ele caiu cego do cavalo. O Cristo já havia morrido quando este contato aconteceu. Então, o mistério do Cristianismo é o ressurgimento de Jesus do Além e a convicção dos cristãos, dos discípulos, dos apóstolos somente foram construídos depois da certeza inabalável que Jesus vivia após a morte. Isso foi a redenção do Cristianismo, que começa depois da cruz".


A relação disso tudo com o museu, para Clóvis, é que ele faz a ponte, porque durante todos estes séculos houve um grande muro de silêncio entre vivos e mortos por parte da Igreja e que acaba de ser derrubado, demonstrando que a imortalidade da alma é a continuidade da vida e que este silêncio que as religiões cristãs fizeram, mesmo falando de eternidade, nunca criaram as condições possíveis para o diálogo com esta eternidade. "O museu mostra que o diálogo pode ter sido evitado, mas foi natural. Agora com a revelação daquele local, acredito que muitos cristãos vão pensar um pouco mais", prevê.


Programa mostrou tudo
Durante cerca de quinze minutos, Clóvis mostrou no programa Fantástico, da Rede Globo, pela primeira vez no Mundo, imagens surpreendentes que revelam que as comunicações de espíritos. "Acredito que devem ter havido muito mais comunicações. Só o padre Victory obteve mais de 240 peças. A maioria das imagens do museu é original. Há resíduos reais das peças, inclusive a do incêndio ainda está lá, escondida por três pequenas portas de madeira e pintado uma amadona com dois anjos, mas conseguimos filmar", detalha Clóvis e arremata.


"As peças são registros insólitos de fatos paranormais, exclusivos, maravilhosos e extraordinários. Enfim, o museu é a concentração de evidências indiscutíveis de que a morte não nos mata, a vida continua e podemos nos comunicar com aqueles que se foram na frente". Clóvis Nunes é consultor da Rede Globo de Televisão para assuntos paranormais. Foi ele quem enfrentou o padre Quevedo no quadro dominical "O Caçador de Enigmas", no Fantástico.


O acesso às informações
Clóvis Nunes teve acesso às informações através de dois grandes amigos. Um pesquisador muito importante do mundo da ciência paranormal, que é o parapsicólogo mineiro Henrique Rodrigues, que lhe falou a primeira vez sobre o museu. Posteriormente leu alguma coisa na literatura de parapsicologia e mais tarde outro grande amigo, um padre da Ordem de São Sulplício, escritor que vivia em Paris e uma autoridade no mundo das pesquisas, o padre François Brune (foto), lhe certificou que o museu existia. De passagem à Itália, há uns seis anos atrás visitou o museu de uma forma muito rápida, os padres não explicaram detalhes, mas ele insistiu e arremata os resultados.


"Foi tudo de forma passageira sem dar muita importância, mas nós que fazemos pesquisas sobre paranormalidade vimos naquele museu que se ocultava um tesouro de formações maravilhosas de comunicações com o Além e a certeza da eternidade. Vim com o projeto de voltar ali para registrar e documentar as suas peças e somente agora isso foi possível".


Publicado no jornal Tribuna Espírita - Dezembro 2001
 

Frases Marcantes
"O diálogo com os mortos não deve ser interrompido porque, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo". Papa João Paulo II
"O pronunciamento do papa legitima, de uma forma muito clara, a atual posição da igreja, com relação ao diálogo com os mortos, que ao longo do tempo vem sofrendo modificações".Clóvis Nunes
"O espiritismo existe, há sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. Não se pode negar que exista esta possibilidade de comunicação". Gino Concetti
"A Igreja acredita que seja possível uma comunicação entre este mundo e o outro mundo. A Igreja se sente peregrina, porque vive na terra e possui uma pátria no céu".Sandro

RegisterFonte: LarSantissimaTrindade

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 22:11
Quinta-feira , 07 de Janeiro DE 2010

Ocupações e missões dos Espíritos

 

Os Espíritos desencarnados também exercem ocupações em benefício da Humanidade?

Christiano Torchi

Ocupações e missões dos Espíritos Como acontece todos os anos, a imprensa divulgou, no mês de outubro de 2009, o nome dos ganhadores dos prêmios Nobel de Física, Química, Medicina, Literatura e Paz (diplomacia), sendo que este último recaiu na pessoa de Barack Obama, atual presidente dos Estados Unidos da América. Segundo o comitê organizador do certame, Obama teria sido escolhido por “dar ao mundo a esperança de um futuro melhor”.

O Prêmio Nobel foi instituído pelo químico, industrial e inventor da dinamite, o sueco Alfred Nobel (1833-1896), que deixou grande soma em dinheiro, com o objetivo de criar-se uma fundação, à qual cabe recompensar, anualmente, pessoas que se destaquem em suas especialidades, como forma de estimular o progresso da Humanidade.

Outros encarnados conhecidos, muito embora não tenham sido laureados com estas ou outras distinções terrenas, têm dado contribuição inestimável ao progresso da Humanidade.

O exemplo apresentado ilustra algumas das centenas de missões exercidas pelo homem na Terra. Quanto às demais pessoas, muitas vezes anônimas, entre as quais nos encontramos: até que ponto podemos contribuir para tornar nosso mundo melhor? E os Espíritos desencarnados também exercem ocupações em benefício da  umanidade?

No capítulo X do Livro Segundo, de O Livro dos Espíritos, questões 558 a 584a, encontramos um dos mais belos ensinamentos dos benfeitores espirituais: “Ocupações e Missões dos Espíritos”.

Tendo sido criados simples e ignorantes, nós, os Espíritos – encarnados ou desencarnados –, sujeitamo- nos, para evoluir, sem exceção, à vida em sociedade, e necessitamos de múltiplas experiências e do trabalho, devendo, nas sucessivas encarnações, habitar em toda parte e adquirir todo o conhecimento possível das coisas.

Para tanto, Deus nos concede ocupações e recursos que variam ao infinito, conforme as condições e necessidades individuais. Deus é justo.Todos têm que estagiar nas diferentes escalas para se aperfeiçoar. Ninguém progride sem esforço: As missões dos Espíritos têm sempre por objetivo o bem.

Seja como Espíritos, seja como homens, são incumbidos de auxiliar o progresso da Humanidade, dos povos ou dos indivíduos, dentro de um círculo de idéias mais ou menos amplas, mais ou menos especiais, de preparar os caminhos para certos acontecimentos e velar pela execução de determinadas coisas. Alguns  desempenham missões mais restritas e, de certo modo, pessoais ou inteiramente locais, como assistir os enfermos, os agonizantes, os aflitos, velar por aqueles de quem se fizeram guias e protetores e dirigi-los, pelos conselhos que lhes dão ou pelos bons pensamentos que inspiram.

Pode- se dizer que há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a resguardar, quer no mundo físico, quer no mundo moral. O Espírito se adianta segundo a maneira pela qual desempenha a sua tarefa.

Especificamente quanto aos desencarnados, cada um deles é incumbido de realizar missões de acordo com seu mérito, capacidade e elevação. Há missões mais simples, também conhecidas como tarefas, e outras de maior complexidade, que têm por finalidade amparar e educar outros Espíritos situados nas escalas inferiores do aprendizado.

Todos os trabalhos realizados são importantes, desde os mais humildes até os mais elevados. O conjunto deles concorre para a harmonia e o equilíbrio da Humanidade dos planos visível e invisível. Além da missão especial de Jesus, Governador espiritual do Planeta, temos, por exemplo, sob os auspícios do Espírito Ismael, missão coletiva de grande responsabilidade: conduzir o Brasil em sua vocação de “Pátria do Evangelho”, conforme planos detalhados no livro ditado pelo Espírito Humberto de Campos.

O que consideramos sublime em nosso mundo não passa de infantilidade, em comparação ao que há de perfeito e belo em globos mais adiantados, atividades e produções desconhecidas do homem na Terra. Por isso, não se pode dizer que os Espíritos superiores admirem as obras humanas,muito distantes ainda da arte e da beleza cultivadas nos mundos depurados. Nem por isso, entretanto, eles deixam de se interessar pelas atividades terrenas, sejam elas quais forem, desde que isso constitua uma oportunidade de nos auxiliarem, almas que nos elevamos para Deus.

Existem Espíritos que se conservam ociosos, que vivem para si mesmos, como acontece com muitos homens na Terra, entretanto, esse estado é temporário, dependendo do desenvolvimento de suas inteligências e de sua elevação moral. Chegará a hora em que essa ociosidade lhes causará grande desconforto e, cedo ou tarde, o desejo de progredir lhes despertará na consciência. Chegados às ordens mais elevadas, os Espíritos não permanecem inativos, o que lhes seria um suplício.

Vivem pelo pensamento, por meio do qual plasmam, com o auxílio da vontade, o mundo à sua volta. Por isso se diz que continuam ativos, pois incessantes são suas atividades, que muito se diferenciam das ocupações materiais dos homens. Sentem-se ditosos por trabalhar, conscientes de que são úteis aos seus semelhantes, contribuindo para o crescimento destes. A natureza de suas ocupações é “receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las ao Universo inteiro e velar por sua execução”.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 17:41

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