PROPOSTA INFUNDADA
"Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares". - (Mateus, 4:9)
Dificilmente, uma pessoa de bom senso pode aceitar, em seu sentido literal, a proposta feita a Jesus pelo utópico Satanás.
Em primeiro lugar, a crença na existência do chamado "príncipe dos demônios" já está muito desgastada, devendo ser enquadrada no rol das lendas mais ridículas.
Em segundo, se ele fosse um personagem real, não se conceberia que pudesse enfrentar, face a face, o Cristo de Deus, ainda mais para lhe fazer proposta desarrazoadas e de cunho profundamente material:
"Os reinos da Terra em troca de sua submissão", esquecendo-se de que Jesus proclamou, solenemente, que o seu reino não era deste mundo.
O texto evangélico encerra um ensinamento bastante profundo: se o Messias tivesse, no curso da sua missão terrena, entrado em conluido com os poderes temporais, o que, na realidade, é uma verdadeira tentação para muitos Espíritos menos vigilantes, imperioso seria convirem que a sua trajetória não teria sido tão íngreme e, certamente, não teria o seu epílogo no cimo do Calvário.
Se Jesus se tivesse mancomunado com os principais dos sacerdotes, com Herodes e as autoridades romanas, teria adquirido as comodidades que as boas posições sociais proporcionam, porém, em compensação, os seus ensinamentos não representariam senão uma doutrina de bitola estreita, que serviria aos propósitos dos potentados e corruptos, mas, em nada, contribuiria para acalentar as almas dos pobres e das massas sofredoras, daqueles que buscam merecer a misericórdia infinita de Deus.
Se o Meigo Nazareno cedesse à trama dos agentes do poder terreno, em vez de ter por companheiros alguns humildes pescadores do mar da Galiléia, teria à sua volta um pugilo de bajuladores com refinados recursos verbalísticos, acompanhados de intransigentes e falazes filósofos.
Não repousaria nas humildes e obscuras cabanas da Palestina, pois teria para o seu descanso o aconchego macio dos palácios.
Não seria insultado, vilipendiado e agredido por fanáticos, e, talvez, recebesse os aplausos de uma reduzida minoria, sendo colocado em posições culminantes no âmbito das convenções terrenas.
No entanto, falharia no desempenho da excelsa missão que viera desempenhar, deixando de transmitir o sublime legado que o Pai Celestial lhe confiara.
A sua passagem pela Terra seria registrada meramente como o são as passagens dos oportunistas, dos falsos profetas e dos conspurcadores de todos os matizes.
Judas Iscariotes, o Apóstolo invigilante, preocupado mais com o seu bem-estar material, trocou a amorável companhia de Jesus Cristo por trinta moedas de prata.
Em vez de acompanhar o Mestre, edificando o Reino de Deus dentro do seu coração, tornando-se merecedor das benesses espirituais na vida futura, preferiu o ato de traição, que o levou ao suicídio.
Ensinando que não se pode servir, simultaneamente, a dois senhores, Jesus deixou bem claro que o homem, quando é colocado no mundo, tem diante de si dois caminhos: entregar-se ao delírio das coisas banais do Terra, prendendo-se aos interesses rasteiros da subserviência aos poderes políticos ou transitórios do mundo, ou, então, dedicar-se às coisas edificantes, fazendo-o com amor, pois isso lhe proporcionará a oportunidade ímpar de aproximar-se cada vez mais do seu Criador.