REENCARNAÇÃO, SIMPLES QUESTÃO DOUTRINÁRIA
Em três passagens de sua vida, Jesus admitiu e confirmou a volta do Espírito a um novo corpo carnal. Fê-lo, não obstante, sem ter utilizado a palavra reencarnação. Este vocábulo, adotado por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (1857), para transmitir os ensinos dos Espíritos Superiores sobre a pluralidade das existências, que se contrapunham à crença oriental na Metempsicose, era naquela época subentendido como ressurreição.
A primeira dessas passagens em que admitiu o renascimento em outro corpo ocorreu quando Jesus respondeu a dois enviados de João Batista que Ele mesmo, ou seja, o próprio João “é o Elias que havia de vir”, segundo a anotação de Mateus no Novo Testamento.
Não foi sem razão que Jesus nesse episódio deixou de empregar a palavra reencarnação, embora tenha se referido expressamente ao fenômeno reencarnatório.
Da mesma forma, no Apocalipse, João Evangelista não poderia ter empregado a expressão bombardeio supersônico ou ogivas nucleares, posto que se tratava de conquistas não conhecidas da Humanidade, pelo que utilizou a expressão “pássaros desovando ovos de fogo”.
Ao dizer que João Batista “é o Elias que havia de vir”, explicitamente Jesus confirma o retorno do Espírito a um novo corpo, que nada tem a ver com o anterior.
O Messias, nessa declaração, confirmou tachativamente as profecias registradas no Velho Testamento acerca do retorno de Elias, como seu precursor.
É importante esclarecer que a última profecia a esse respeito encontra-se no capítulo 4, versículo 5, do Livro de Malaquias. A propósito, a Nota Explicativa desse texto na Bíblia, cuja tradução da Vulgata, realizada pelo Padre Matos Soares, e publicada pelas Edições Paulinas, aceita implicitamente que João Batista era a reencarnação de Elias, como se depreende de sua transcrição na íntegra:
“Elias: Jesus Cristo reconheceu em João Batista o Elias que devia vir (Mateus 11:10; Marcos 9:11). Na promessa de um filho a Zacarias, pai de João Batista, encontramos exatamente as palavras do profeta aplicadas precisamente a João (conforme Lucas: 1:17).”
Essa Nota Explicativa podemos inferir, visando a não deixar ambiguidade na interpretação dos fatos (a reencarnação de Elias como João Batista), remetemos ao Evangelho segundo Mateus e Marcos, onde nos deparamos com palavras
do próprio Jesus confirmando esse retorno.
A referida nota também faz alusão ao renascimento de Elias, quando aborda a revelação do Anjo a Zacarias, anunciando que o seu filho iria nascer e que deveria receber o nome de João. Revelou ainda a missão que ele iria desempenhar, ao dizer: “(...) ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu
Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias”. Esse filho de Zacarias foi justamente João Batista, que desempenhou a missão prevista pelo Anjo antes de ele nascer, acrescentando que ele teria o mesmo espírito e a virtude de Elias.
A segunda vez em que Jesus nos fala de reencarnação, foi no Monte Tabor, após a sua transfiguração, estando presentes Pedro, João e Tiago. Nessa oportunidade, segundo o relato de Marcos, Ele conversou com os Espíritos de Elias e Moisés.
Isso se deu quando os apóstolos, ao descerem do Monte Tabor, procuraram obter de Jesus um esclarecimento para a seguinte dúvida: se os fariseus e os escribas, intérpretes das escrituras, declaravam que Elias ao voltar desempenharia a missão de precursor do Messias, isto é, desempenharia sua missão antes de Jesus e que Elias estava no mundo espiritual, logo Jesus não seria o Messias esperado. Diante desse questionamento, o Mestre respondeu, sem rodeios:
“Mas digo-vos que Elias já veio, e fizeram dele quanto quiseram, como está escrito dele.”
Ao receberem essa resposta eles entenderam que o Espírito Elias havia reencarnado como João Batista, que, em virtude de ter sido degolado, a mando de Herodes, já havia retornado à espiritualidade. Tudo isso se confirma com o registro de Mateus sobre a conclusão a que chegaram “Então os discípulos compreenderam que Jesus tinha falado de João Batista.”
A terceira passagem na qual Jesus também se refere à reencarnação foi no diálogo estabelecido com Nicodemos. Ao ser questionado pelo Doutor da Lei sobre o que seria necessário para alcançar o “reino dos céus”, em outras palavras, a perfeição espiritual, Jesus sentenciou: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.”
Diante dessa resposta diz Nicodemos: “Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer pela segunda vez?”.
E Jesus redargüiu, entre outros esclarecimentos, afirmando: “Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo.”
Quanto ao fato de o apóstolo Paulo ter dito que “os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem o julgamento”, entendemos que ele, ao se expressar dessa forma, não pretendeu, de maneira alguma, negar a reencarnação, pois é evidente que estava se referindo à morte do corpo físico e não à da alma, pois ela, de fato, não morre nem uma vez, ele não poderia ter dito tal absurdo, levando em consideração que o Apóstolo dos Gentios tinha plena convicção da imortalidade.
A reencarnação, antes de ser mera questão doutrinária, assenta seu fundamento na palavra de Jesus e na própria Bíblia, sem falar na comprovação do fenômeno reencarnatório pela pesquisa científica, hoje de amplo domínio público.