A PRESENÇA DE DEUS
Essa disposição natural própria do Espírito eterno, desde sua criação, simples e ignorante, acompanha-o sempre. Quando resulta em busca constante constrói a sensibilidade e a fé, acumulando conhecimentos que o conduzem à certeza da existência de Deus. Mas quando não encontra uma fé que o satisfaça, depara--se com a necessidade de comprovar a si mesmo que o Deus procurado não existe. Resvala então para o niilismo, o ateísmo, a negação, procurando demonstrar a si mesmo o império do nada, do acaso. Esses dois estados de convicção atingem tanto o Espírito encarnado quanto o desencarnado, em diversos estágios evolutivos. Todas as religiões, em todos os tempos, têm procurado apoiar e orientar os homens na crença, na busca e na certeza da existência de Deus, o Criador, sob diferentes denominações. questão de se saber se Deus existe, ou não existe, acompanha o homem e a Humanidade desde sempre. A Revelação Espírita, a Mensagem do Cristo, a Revelação Mosaica e todas as revelações que serviram de base às religiões orientais referem-se a um Ser Superior – Deus –, sob denominações diversas. A idéia central religiosa é, pois, a da existência de Deus, independentemente de sua forma ou definição e dos argumentos teológicos de sua sustentação. Já o oposto, a negativa do Criador, parte dos que cultivam a denominada ciência positiva do mundo, essencialmente fundamentada na matéria, como único elemento do Universo. É evidente que há exceções entre os cultivadores das ciências, constituídas por aqueles que, a par de suas concepções relativas à matéria e às leis que a regem, admitem a existência de outro elemento no Universo – o espírito. A Doutrina Espírita oferece a seus seguidores e estudiosos total segurança, certeza e convicção na existência de Deus, o Criador, não o definindo propriamente, por ser Ele indefinível em sua natureza íntima, mas oferecendo as provas da sua existência, apropriadas à inteligência humana limitada. Ao responderem à indagação universal, de todos os estágios evolutivos humanos – “Que é Deus?” – os Espíritos Reveladores atenderam, de um lado, às limitações da inteligência humana para alcançar o que está além de sua capacidade de entendimento e, de outro lado, proporcionaram um juízo, uma compreensão de algo que está muito acima dessa aptidão. Para isso partiram os Reveladores de um axioma simples, aplicado às próprias ciências dos homens – “todo efeito tem uma causa”. Essa verdade axiomática, indiscutível no campo da matéria dominado pelos homens, é básica também no campo transcendente do espírito. Allan Kardec acrescenta, judiciosamente, ao esclarecimento dos Espíritos: “Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.” (O Livro dos Espíritos – q. 4, p. 52 – 70. ed. FEB.) ... No início de uma Nova Era, a Humanidade, apesar dos grandes problemas que a assolam, já vislumbra um Novo Tempo de paz e de fraternidade prescritos nas leis divinas. A idéia de Deus e de sua presença em toda a Criação faz-se imprescindível, basilar, fundamental, na transformação do nosso habitat em um mundo regenerado. Apesar das idéias materialistas, positivistas, niilistas, utilitaristas, que imperaram nos séculos XIX e XX, chegando ao ponto de proclamar “a morte de Deus”, o mundo evolui. O destino da Humanidade é progredir sempre, mesmo que lentamente. Essa evolução a conduz para uma fé superior para a qual já caminha. A própria Ciência, dominada atualmente pelo materialismo, na busca permanente da realidade deparará com a existência de Deus, que é a realidade maior. Os espiritualistas, em geral, e os espíritas em particular, que buscam sempre a verdade, seja no campo da matéria ou no do espírito, não se limitam à esfera experimental dos laboratórios das ciências do mundo. Nunca perdem de vista a escalada pela razão pura, que está além da materialidade. Se observarmos com atenção o que ocorre com a teoria dos Quanta, do físico alemão Max Planck, que modifica radicalmente os princípios da Física clássica, verificamos que muitas das verdades científicas são “verdades provisórias”, e que a verdadeira Ciência não pode ser materialista e servir ao erro, mas ser realista. A Verdade, objetivo da Ciência, não pode opor-se à realidade. Deus é a realidade essencial. A matéria é criação sua e, cedo ou tarde, a Ciência chegará à constatação da causa e não somente do efeito. A percepção da existência e presença de Deus ocorrem, muitas vezes, através dos sentimentos, mais que pelo intelecto das criaturas. Tem razão a Bíblia quando ensina que Deus é Amor, já que é através do sentimento do amor que podemos melhor perceber sua presença em todos os reinos da Natureza, em todo o Universo. O homem, que se dedica aos conhecimentos científicos, na busca das leis que regem a matéria, muitas vezes deixa seus sentimentos em plano secundário em relação à sua inteligência. O ideal será que inteligência e sentimento caminhem juntos na elevação de cada individualidade. Não é por outra razão que o Espírito Verdade recomenda aos seguidores da Terceira Revelação: “Espíritas – Amai-vos! Instruí-vos.” Assim, no Mundo Regenerado que esperamos se transforme a Terra, a educação do ser não poderá restringir-se à instrução em seus diversos níveis, como na atualidade, mas será muito mais abrangente, compreendendo também o aperfeiçoamento e educação dos sentimentos, tal como propôs o Cristo em sua Mensagem. Torna-se imprescindível, na transformação do mundo para melhor, derrubar o império do egoísmo, através da educação e da reeducação do homem e, sobre as suas ruínas, construir uma nova civilização com fundamento na fraternidade. “A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas”, como ensina Emmanuel. (Pão Nosso – cap. 141, 11. ed. FEB.) Realmente, todo aquele que se sente filho de Deus reconhece as outras criaturas humanas como suas irmãs. Percebe a necessidade de viver de acordo com as leis do Pai, proscrevendo a desconfiança, o despeito, a inveja, a ambição como inconciliáveis com a lei maior – o amor fraterno. ... Todas as grandes religiões reconhecem Deus como o Criador. O Cristo recomenda o amor a Deus como o primeiro e mais importante dos mandamentos superiores. O amor a nós mesmos, ao próximo, a toda a criação é decorrência natural do grande ordenamento. A fraternidade pura é, pois, o campo em que se integra toda a Criação com seu Criador. Deus é o tema permanente e central de cada Espírito criado, qualquer seja seu estágio evolutivo. Mesmo no negativismo de muitos que se desviam da trilha do Bem, Ele nunca deixa de estar presente em suas vidas. A presença do Criador faz parte da Vida de cada criatura. Manifesta-se Ele através de suas leis eternas, imutáveis, justas e amorosas. O homem é, assim, um reflexo da Paternidade Divina. No nosso mundo está Ele presente no Cristo de Deus, seu Filho, como todos nós. O Cristo, uno com o Pai, como Ele o declarou, é o executor de suas leis, de sua vontade. É o Governador Espiritual deste Orbe. Note-se que, declarando-se uno com o Pai, no sentido de plenamente de acordo com seu pensamento expresso nas leis divinas, jamais o Cristo se declarou Deus, conforme entenderam os judeus e os denominados cristãos, num engano de graves conseqüências que persiste até nossos dias. O Consolador, a Doutrina dos Espíritos, retificou esse erro interpretativo, removendo obstáculos para o bom e correto entendimento do Evangelho, em várias de suas passagens. “Que Deus está conosco, em todas as circunstâncias, é verdade indiscutível; todavia, se você não estiver com Deus, ninguém pode prever até onde descerá seu espírito, nos domínios da intranqüilidade e da sombra”, conforme nos alerta André Luiz, no último pensamento expresso em seu livro Agenda Cristã. (Francisco Cândido Xavier, cap. 50, p. 154 – 32. ed. FEB.)