Domingo , 11 de Abril DE 2010

A VERDADEIRA PROPAGANDA

EM LEMBRANÇA AOS 110 ANOS DO DESENCARNE DE ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI, OCORRIDA EM 11 DE ABRIL DE 1900, ÀS 11h30min.

 

Bezerra de Meneses

 

Pensem como quiserem os que entendem dever fazer a propaganda espírita por todos os modos, mesmo nas praças, sujeitando a divina Doutrina à galhofa do público, mesmo nos teatros, em meio do ridículo dos espectadores, e até nos alcouces, por entre os esgares desprezíveis de seres infelizes, seus freqüentadores.

Nem Jesus, o santíssimo modelo, nem os apóstolos, seus autorizados imitadores expuseram jamais à galhofa, ao ridículo e aos esgares da corrupção os ensaios de salvação.

Quer um, quer outros levaram a palavra da Verdade a todos os meios, é certo, porque o doente é que precisa do médico; porém, fizeram-no sempre guardando a compostura, severamente moralizadora, de ministros da mais pura, santa e veneranda Doutrina: ergueram a luz à altura de ser vista por toda a Humanidade, mas não a levaram aos antros.

Do que serve pregar o Espiritismo que é o Evangelho segundo o espírito e a verdade, dando àqueles que o pregam o exemplo do seu desrespeito pelo, modo irreverente de pregá-lo?

Sancta sancte tractanda sunt: as coisas sagradas devem ser com todo o respeito tratadas.

Por este modo, um que seja, que se colha para redil bendito, vem convencido da santidade da Doutrina, pelo acatamento com que a vê exposta, e será um convencido digno e dignificador da Santa Lei.

Pelo contrario, os que são trazidos como em folia, por milhares que sejam, virão crentes, pelo modo por que viram obrar os propagandistas, de que o Espiritismo é meio de distração, senão de brincadeira, e esses milhares nem aproveitara para si, nem concorrem de leve para o triunfo da boa Lei.

Propagar o Espiritismo por toda a parte, sim; mas propagá-lo com o respeito e o acatamento que requer o ensino da Divina Revelação.

 (Esta página foi escrita em 1896, quando Bezerra ainda estava encarnado  e, publicada na revista “Reformador”)
 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:50
Sexta-feira , 09 de Abril DE 2010

LIGEIRA RESPOSTA AOS DETRATORES DO ESPIRITISMO

 

 

 

É imprescritíveis o direito  de exame e de crítica e o Espiritismo não alimenta a pretensão de subtrair-se ao exame e à crítica, como não tem a de satisfazer a toda  gente. Cada um é, livre de o aprovar ou rejeitar;  mas, para isso, necessário se faz discuti-lo com conhecimento de causa. Ora, a crítica tem por demais provado que lhe ignora os mais elementares princípios, fazendo-o dizer precisamente o contrário do que ele diz, atribuindo-lhe o que ele desaprova, confundindo-o com as imitações grosseiras e burlescas do charlatanismo, enfim, apresentando, como regra de todos, as excentricidades de alguns indivíduos. Também por demais a malignidade há querido torná-lo responsável por atos repreensíveis ou ridículos, nos quais o seu nome foi envolvido incidentemente, e disso se aproveita como arma contra ele.

Antes de imputar a uma doutrina a culpa de incitar a um ato condenável qualquer, a razão e a equidade exigem que se examine se essa doutrina contém máximas que justifiquem semelhante ato.

Para conhecer-se à parte de responsabilidade que, em dada circunstância, caiba ao Espiritismo, há um  meio muito simples: proceder de boa fé a uma perquirição, não entre os adversários, mas na própria fonte do que ele aprova e do que condena. Isso é tanto mais fácil, quanto ele não tem segredos; seus ensinos são patentes e quem quer que seja pode verificá-los.

Assim, se os livros da Doutrina Espírita condenam explícita e formalmente um ato justamente reprovável; se, ao contrário, só encerram instruções de natureza a  orientar para o bem, segue-se que não foi neles que um indivíduo culpado de malefícios se inspirou, ainda mesmo que os possua.

O Espiritismo não é solidário com aqueles a quem apraza dizerem-se espíritas, do mesmo modo que a Medicina não o é com os que a exploram, nem a sã religião com os abusos a até crimes que se cometam em seu nome. Ele não reconhece como seus adeptos senão os  que lhe praticam os ensinos, isto é trabalham por melhorar-se moralmente, esforçando-se por vencer os  maus pendores, por ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais brandos, mais humildes, mais caridosos para com o próximo, mais moderado em tudo, porque  é essa a característica do verdadeiro espírita.

Esta breve nota não tem por objeto refutar todas as falsa alegações que se lançam o Espiritismo, nem lhe desenvolver e provar todos os princípios, nem ainda menos, tentar converter a esses princípios os que professem opiniões contrárias; mas, apenas,  dizer, em poucas palavras, o que ele é e o que não é,  o que admite e o que desaprova.

As crenças que propugna, as tendências que manifesta e o fim a que visa se resumem nas proposições seguintes:

 

  O elemento espiritual e o elemento material são dois princípios, as duas forças vivas da Natureza, as quais se completam umas a outra e reage incessantemente uma sobre a outra, indispensáveis ambas ao funcionamento do mecanismo do Universo.

Da ação recíproca desses dois princípios se originam fenômenos que cada um deles, isoladamente, não tem possibilidade de explicar.

À ciência,  propriamente dita, cabe a missão especial de estudar as leis da matéria.

O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material e aponta na união desses dois princípios a razão de uma imensidade dos fatos até então inexplicados.

O Espiritismo caminha ao lado da Ciência, no campo da matéria: admite todas as verdades que a Ciência comprova; mas, se detém onde esta última pára: prossegue nas suas pesquisas pelo campo da espiritualidade.

   Sendo o elemento espiritual um estado ativo da Natureza, os fenômenos em que ele intervém estão submetidos a leis e são por isso mesmo tão naturais quanto os que derivam da matéria neutra.

Alguns de tais fenômenos foram  reputados sobre-naturais, apenas por ignorância das leis que os regem . Em virtude desse princípio, o Espiritismo não admite o caráter de maravilhoso atribuído a certos fatos, embora lhes reconheça a realidade ou a possibilidade. Não há, para ele, milagres, no sentido de derrogação das leis naturais, donde se segue que os espíritas não fazem milagres e que é impróprio o qualificativo de taumaturgos que umas tantas pessoas lhes dão.

O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual prende-se de modo direto à questão do passado e do futuro do homem. Cinge-se a sua vida à existência atual ? Ao entrar neste mundo, ele vem do nada e volta para o nada ao deixá-lo ? Já viveu e ainda viverá ? Como viverá e em que condições ?  Numa palavra : donde vem  ele e para onde vai ? Por que está na Terra e por que  sofre aí ? Tais questões que cada um faz a si mesmo, porque são para toda gente de capital interesse e às qual ainda nenhuma doutrina deu solução racional.  A que lhe dá o Espiritismo, baseada em fatos,  por satisfazer às exigências da lógica e da mais rigorosa justiça, constitui uma das causas principais da rapidez da sua propagação.

O Espiritismo não é uma concessão pessoal, nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas sobre todos os pontos do globo e que convergiram para um centro que os coligiu e coordenou. Todos os seus princípios constitutivos, sem nenhuma exceção de nenhum, são deduzidos da experiência. Esta precedeu sempre a teoria.

Assim, desde o começo, o Espiritismo lançou raízes por toda parte. A História nenhum exemplo oferece de uma doutrina filosófica ou religiosa que, em dez anos, tenha conquistado tão grande número  de adeptos. Entretanto, não empregou, para se fazer conhecido. Nenhum dos meios vulgarmente em uso; propagou-se por si mesmo, pelas simpatias que inspirou.

Outro fato não menos constante é que, em nenhum país, a sua doutrina não surgiu das íntimas camadas sociais; em todos os lugares ela se propagou de cima  para baixo na escala da sociedade e ainda nas classes esclarecidas que se acha quase exclusivamente espalhadas, constituindo insignificante minoria, no seio de seus adeptos, as pessoas iletradas.

Verifica-se também que a disseminação do Espiritismo seguiu, desde os seus primórdios, marcha sempre ascendente, a despeito de tudo quanto fizeram seus adversários para entravá-las e para lhe desfigurar a ele o caráter, com o fito de desacreditá-lo na opinião pública. É mesmo de notar-se que tudo o que  hão tentado com esse propósito lhe favoreceu  a difusão; o arruído que provocaram por ocasião do seu advento fez que  viessem a a; quanto mais procuraram denegri-lo ou ridiculizá-lo, tanto mais despertaram as curiosidades gerais e, como todo exame só lhe pode ser proveitoso, o resultado foi que seus opositores se constituíram, sem o quererem, ardorosos propagandistas seus. Se as diatribes nenhum prejuízo lhe acarretaram, é que os que o estudaram em suas legítimas fontes o reconheceram muito diverso do que o tinham figurado.

Nas lutas que precisou sustentar, os imparciais lhe testificaram a moderação; ele nunca usou de represálias com os seus adversários, nem respondeu com injúrias as injúrias.

O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos  religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é  uma religião constituída, visto que não culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Estes qualificativos são de puras invenções da crítica.

É-se espírita pelo só fato de simpatizar com os princípios da doutrina e por conformar com esses princípios o proceder. Trata-se de uma opinião como qualquer outra, que todos têm o direito de professar, como têm o de ser judeus, católicos, protestantes, simonistas, voltairiano, cartesiano, deísta e, até, materialista.

O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; reclama-a para seus adeptos, do mesmo modo que para toda a gente. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade.

Da liberdade de consciência decorre o direito de livre exame em matéria de fé. O Espiritismo combate à fé cega, porque ela impõe ao homem que abdique da sua própria razão; considera sem raiz toda fé imposta, donde o inscrever entre suas máximas : NÃO É INABALÁVEL, SENÃO A FÉ QUE PODE ENCARAR A RAZÃO EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE.

Coerente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a quem quer que seja; quer ser aceito livremente e por efeito de convicção. Expõe suas doutrinas e acolhe os que voluntariamente o procuram.

Não cuida de afastar pessoa alguma das suas  convicções religiosas; não se dirige aos que possuem uma fé e a quem essa fé basta; dirige-se aos que, insatisfeitos com o que lhes dá, pede alguma coisa melhor.

 

                                                                                                   Allan  Kardec

                                                                                      Livro  Obras  Póstumas

 

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:37
Quinta-feira , 08 de Abril DE 2010

ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS

Livro “A GÊNESE” cap. XI

 

  1. - O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.

Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre unia modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.

Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atraí por uma força irresistível, desde o momento da concepção. A medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.

Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.

Dado que, um instante após a morte, completa é a integração do Espírito; que suas faculdades adquirem até maior poder de penetração, ao passo que o princípio de vida se acha extinto no corpo, provado evidentemente fica que são distintos o princípio vital e o princípio espiritual.

2. - O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.

3. - Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra cm estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.

4. - Mas, ao mesmo tempo que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga de como empregou o tempo, se bem ou mal.

5. - Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida pela matéria.

6. - Tomando-se a Humanidade no grau mais ínfimo da escala espiritual, como se encontra entre os mais atrasados selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto inicial da alma humana.

Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal.

Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade, atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria animal, como o fruto não é a raiz, como o sábio não é o feto informe que o pôs no mundo.

Mas, este sistema levanta múltiplas questões, cujos prós e contras não é oportuno discutir aqui, como não o é o exame das diferentes hipóteses que se têm formulado sobre este assunto. Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado, tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral e de livre-arbítrio, começa a pesar-lhe a responsabilidade dos seus atos.

7. - A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.

8. - Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre.

No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para a frente no caminho do progresso, um a espécie de escola de aplicação.

9. - Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir. (O Céu e o Inferno, cap. III, nos 8 e seguintes.)

À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio, pode ele, por negligência ou má-vontade, retardar o seu avanço; prolonga, consequentemente, a duração de suas encarnações materiais, que, então, se lhe tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele permanece nas categorias inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito abreviar, pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do período das encarnações.

10. - O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes. Ora, sendo incessante, como é, a criação dos mundos e dos Espíritos e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude. Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros orbes, havendo-os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo ditoso.

11. - Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação cm corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, em a qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.

Assim, qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do Universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil.

A coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a alma do Universo. Por toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis.

12. - Quando a Terra se encontrou em condições climáticas apropriadas à existência da espécie humana, encarnaram nela Espíritos humanos. Donde vinham? Quer eles tenham sido criados naquele momento; quer tenham procedido, completamente formados, do espaço, de outros mundos, ou da própria Terra, a presença deles nesta, a partir de certa época, ê um fato, pois que antes deles só animais havia. Revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às suas aptidões, e que, fisionomicamente, tinham as características da animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades, esses corpos se modificaram e aperfeiçoaram é o que a observação comprova. Deixemos então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação. Mau grado a analogia do seu envoltório com o dos animais, poderemos diferençá-lo destes últimos pelas faculdades intelectuais e morais que o caracterizam. como, debaixo das mesmas vestes grosseiras, distinguimos o rústico do homem civilizado.

13. - Conquanto devessem ser pouco adiantados os primeiros que vieram, pela razão mesma de terem de encarnar em corpos muito imperfeitos, diferenças sensíveis haveria decerto entre seus caracteres e aptidões. Os que se assemelhavam, naturalmente se agruparam por analogia e simpatia. Achou-se a Terra, assim, povoada de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso. Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral (n.º 11). Continuando a encarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, das raças e dos povos, caráter que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso deles. (Revue Spirite, julho de 1860, página 198: «Frenologia e fisiognomia».)

14. - Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de emigrantes de origens diversas, que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios.

15. - Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, mesmo sem se levar em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo encarnar na Terra juntamente com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a diferença em matéria de progresso. Fora, com efeito, impossível atribuir-se a mesma ancianidade de criação aos selvagens, que mal se distinguem do macaco, e aos chineses, nem, ainda menos, aos europeus civilizados.

Entretanto, os Espíritos dos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para encarnar noutro mais elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passar a mundos mais avançados. (Revue Spirite, abril de 1862, pág. 97: «Perfectibilidade da raça negra».)

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:36
Quarta-feira , 07 de Abril DE 2010

INTOLERÂNCIA

 

Manifesta-se geralmente no indivíduo intransigente. Não tolera faltas alheias e vive reclamando obrigações dos outros.

Quando em funções de mando é por demais severo, repreendendo severamente o subalterno.

É muito rígido em suas determinações, e apegado ao desejo de que as coisas, o mundo, as pessoas fossem qual ele gostaria que fossem. O senso de análise e de crítica neste tipo de pessoa é muito forte. Sofre porque não perdoa as falhas humanas; falta-lhe a moderação nas apreciações para com o próximo.

 

COMO SUPERAR

O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, e consiste em não se ver superficialmente os defeitos alheios, mas em se procurar salientar o que há de bom e virtuoso no próximo. (ESE, Cap. XVII, item 18)

Precisamos romper em nós as algemas do apego à imagem que idealizamos com relação ao mundo e às pessoas. Não podemos pretender exigir de outrem aquilo que ele não pode nos oferecer. Importa aceitar e respeitar as criaturas mesmo dentro de suas limitações, mesmo quando corrompidas, criminosas ou viciadas. O amor universal a que a verdadeira caridade nos convida, consiste em vivendar o amor em si mesmo, independente de preconceitos ou discriminações.

Aquele que só é justo com os bons, generoso com os pródigos, misericordioso com os mansos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com as pessoas boas. Se a tolerância é uma virtude, ela vale por si mesma, e sobretudo para com as pessoas mais difíceis. Virtude que discrimina, não o é.

Tolerar consiste em não exigir, compreender e respeitar as condições ou limitações das pessoas. Mais do que isso, tolerar não é suportar, mas encarar a todos com o pressuposto de que possuem uma essência espiritual, e enquanto tal são necessariamente dotadas de bons sentimentos, e com infinitas potencialidades latentes a serem manifestas.

Ser tolerante consiste, portanto, em eliminar a intransigência em nossas análises críticas em relação ao próximo; evitar comentários desairosos; afastar sentimentos de mágoa ou inconformação por algo contrário à nossa vontade.

Sede indulgentes, meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita. (E.5.E., Cap. X, item 16).

Tolerar não consiste, porém, em desprezar o rigor e a disciplina, mas antes desvincular a exigência de rigor do eu pesssoal. Geralmente não toleramos nada que possa contrariar a vontade do Eu. No entanto, ser tolerante consiste justamente em libertar-se das amarras do querer pessoal, do querer para si, do satisfazer a si mesmo. Tolerar é aceitar o outro como é, sem esperar ou exigir que seja como idealizamos. Severidade exagerada, austeridade, são excessos que revelam autoritarismo sobre o próximo e não amor compreensivo. Por isso, por vezes os tiranos são os mais respeitados, mas também os mais odiados. A tolerância só o é quando por renúncia a si mesmo.

Por outro lado, todos seríamos muito mais tolerantes e indulgentes com os demais, se considerássemos quanta tolerância e indulgência necessitamos. Somos todos portadores de erros e fraquezas; perdoemo-nos reciprocamente nossos defeitos, é esta a lei que recomenda um amor universal. Por isso que jamais conseguiremos tolerar, se não formos humildes. Humildade e misericórdia andam juntos, e é esse conjunto que conduz à tolerância.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:50
Terça-feira , 06 de Abril DE 2010

PROPOSTA INFUNDADA

"Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares". - (Mateus, 4:9)

 

Dificilmente, uma pessoa de bom senso pode aceitar, em seu sentido literal, a proposta feita a Jesus pelo utópico Satanás.

Em primeiro lugar, a crença na existência do chamado "príncipe dos demônios" já está muito desgastada, devendo ser enquadrada no rol das lendas mais ridículas.

Em segundo, se ele fosse um personagem real, não se conceberia que pudesse enfrentar, face a face, o Cristo de Deus, ainda mais para lhe fazer proposta desarrazoadas e de cunho profundamente material:

"Os reinos da Terra em troca de sua submissão", esquecendo-se de que Jesus proclamou, solenemente, que o seu reino não era deste mundo.

O texto evangélico encerra um ensinamento bastante profundo: se o Messias tivesse, no curso da sua missão terrena, entrado em conluido com os poderes temporais, o que, na realidade, é uma verdadeira tentação para muitos Espíritos menos vigilantes, imperioso seria convirem que a sua trajetória não teria sido tão íngreme e, certamente, não teria o seu epílogo no cimo do Calvário.

Se Jesus se tivesse mancomunado com os principais dos sacerdotes, com Herodes e as autoridades romanas, teria adquirido as comodidades que as boas posições sociais proporcionam, porém, em compensação, os seus ensinamentos não representariam senão uma doutrina de bitola estreita, que serviria aos propósitos dos potentados e corruptos, mas, em nada, contribuiria para acalentar as almas dos pobres e das massas sofredoras, daqueles que buscam merecer a misericórdia infinita de Deus.

Se o Meigo Nazareno cedesse à trama dos agentes do poder terreno, em vez de ter por companheiros alguns humildes pescadores do mar da Galiléia, teria à sua volta um pugilo de bajuladores com refinados recursos verbalísticos, acompanhados de intransigentes e falazes filósofos.

Não repousaria nas humildes e obscuras cabanas da Palestina, pois teria para o seu descanso o aconchego macio dos palácios.

Não seria insultado, vilipendiado e agredido por fanáticos, e, talvez, recebesse os aplausos de uma reduzida minoria, sendo colocado em posições culminantes no âmbito das convenções terrenas.

No entanto, falharia no desempenho da excelsa missão que viera desempenhar, deixando de transmitir o sublime legado que o Pai Celestial lhe confiara.

A sua passagem pela Terra seria registrada meramente como o são as passagens dos oportunistas, dos falsos profetas e dos conspurcadores de todos os matizes.

Judas Iscariotes, o Apóstolo invigilante, preocupado mais com o seu bem-estar material, trocou a amorável companhia de Jesus Cristo por trinta moedas de prata.

Em vez de acompanhar o Mestre, edificando o Reino de Deus dentro do seu coração, tornando-se merecedor das benesses espirituais na vida futura, preferiu o ato de traição, que o levou ao suicídio.

Ensinando que não se pode servir, simultaneamente, a dois senhores, Jesus deixou bem claro que o homem, quando é colocado no mundo, tem diante de si dois caminhos: entregar-se ao delírio das coisas banais do Terra, prendendo-se aos interesses rasteiros da subserviência aos poderes políticos ou transitórios do mundo, ou, então, dedicar-se às coisas edificantes, fazendo-o com amor, pois isso lhe proporcionará a oportunidade ímpar de aproximar-se cada vez mais do seu Criador.

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:38
Domingo , 04 de Abril DE 2010

EVANGELIZAÇÃO AOS DESENCARNADOS

 

São-nos gratas a todos nós que já nos libertamos da cadeia material, as vossas reuniões de evangelização. A alguém poderá parecer que, com essa preferência, criamos também, para cá dos limites da Terra, um círculo vicioso, onde eternamente nos debatemos. Tal opinião, porém, será erradamente emitida, porquanto, desconhecendo o nosso "modus vivendi", muitas vezes não considerais que o homem, acima de tudo, é espírito, alma, vibração e que esse espírito, somente em casos excepcionais, não se conserva o mesmo, após a morte do corpo, com idênticos defeitos e as mesmas inclinações que o caracterizavam na face do mundo.

Conduzimos, portanto, freqüentemente, até o vosso meio, afim de se colocarem em contacto com a verdade da sua nova situação, aqueles dos nossos semelhantes que aqui se encontram ainda impregnados das sensações corporais.

 

 

 

A SITUAÇÃO DOS RECÉM-LIBERTOS DA CARNE

 

Identificados por tal forma com a matéria, sentindo tão intensamente as suas impressões, não se encontram aptos a compreender a nossa linguagem e precisam ouvir a voz materializada daqueles que, cumprindo os desígnios do Alto, ainda se conservam no exílio, aguardando a alvorada de sua redenção

É ainda reduzido o número dos que despertam na luz espiritual, plenamente cônscios da sua situação, porque diminuta é a percentagem de seres humanos que se preocupam sinceramente com as questões do seu aprimoramento moral. A maioria dos desencarnados, nos seus primeiros dias da vida além do túmulo, não encontra senão os reflexos dos seus péssimos hábitos e das suas paixões que, nos ambientes diversos de outra vida, os aborrecem e deprimem. O corpo das suas impressões físicas prossegue perfeito, fazendo-lhes experimentar acerbas torturas e inenarráveis sofrimentos.

 

 

 

AS EXORTAÇÕES EVANGÉLICAS

 

As exortações evangélicas são, pois, lenitivos de muitos padecimentos morais, de muitas dores amaríssimas que acompanham as almas, após a travessia da morte, cheia de sombras ou de claridades. Há sofrimentos a aliviar, ignorantes a instruir, sedentos de paz e de amor. Quando assim acontece, é natural que o tempo seja dedicado à nobre tarefa de espalhar a luz do ensino e do conforto espiritual.

Numa assembléia dos que se consagram ao estudo das ciências, é natural a discussão sobre a matéria cósmica, sobre a onda hertziana, mas, ao lado da turba dos infelizes, é preciso mostrar a estrada da regeneração e da verdadeira ventura.

O Espiritismo não é somente o antídoto para as crises que perturbam os habitantes da Terra; os seus ensinamentos salutares e doces reerguem nos desencarnados as esperanças desfalecidas à falta de amparo e de alimento; é aí que a doutrina edifica os transviados do dever e os sofredores saturados desses acerbos remorsos que somente as lágrimas fazem desaparecer.

 

 

 

A LIÇÃO DAS ALMAS

 

Cada alma que se vos apresenta e que leva até aos vossos ouvidos o eco das suas palavras, trás em sua fronte o estatuto da verdade que vos compele aos atos puros e meritórios e aos pensamentos elevados que enobrecem a consciência.

Não regressaríamos da morte, sem um alto e nobre objetivo.

O escopo das nossas atividades é a demonstração da realidade insofismável de que vivemos e regressamos do plano invisível para vos dizer que o Espaço, como um livro misterioso, encerra toda a nossa vida. Uma intenção, uma lágrima oculta, uma virtude nobilitante estão patentes nas suas páginas prodigiosas que, por uma disposição, inacessível ainda à vossa compreensão, registra os mais recônditos pensamentos e ações da nossa existência.

Objetivamos, portanto, cultivar em vossos corações a certeza consoladora da crença pura, trabalhando para que a tolerância, a meditação e a caridade sejam as vossas companheiras assíduas.

 

 

ENSINAR E PRATICAR

 

Todas as ciências estão ricas de especulações teóricas, todas as religiões que se divorciaram do amor estão repletas de palavras, quase sempre vazias e incompreensíveis.

As predicações são ouvidas, por toda parte; mas a prática, esta é rara e daí a necessidade de se habituar a ela com devotamento, para que os atos revelem os sentimentos, operando com o espírito de verdadeira humildade.

Caminhai, pois, nos pedregosos caminhos das provações. À medida que marchardes, cheios de serenidade e de confiança, mais belas provas colhereis da luminosa manhã da imortalidade que vos espera, além do silêncio dos túmulos.

 

Retirado do livro "Emmanuel - Dissertações Mediúnicas Sobre Importantes Questões 
Que Preocupam a Humanidade", " -  Chico Xavier/Emmanuel..

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:17
Sexta-feira , 02 de Abril DE 2010

CENTENÁRIO DE CHICO XAVIER - 1910 - 2010

Francisco de Paula Cândido Xavier reencarnou em Pedro Leopoldo, modesta cidade de Minas Gerais, em 2 de abril de 1910. Desde os 4 anos de idade o menino Chico Xavier teve a sua vida assinalada por singulares manifestações. Seu pai chegou, inclusive, a crer que o seu verdadeiro filho havia sido trocado por outro... Aquele seu filho era estranho! O garoto orava com extrema devoção, conforme lhe ensinara D. Maria João de Deus, a querida mãezinha, que o deixaria órfão aos 05 anos. Dentro de grandes conflitos e extremas dificuldades, o menino ia crescendo, sempre puro e sempre bom, incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência. Tendo clarividência e clariaudiência intensas, mantinha contato direto com os espíritos amigos, sendo que conversava com a mãezinha desencarnada e ouvia vozes confortadoras. Na escola, sentia a presença delas, auxil iando-o nas tarefas habituais. O certo é que os seus primeiros anos o marcaram profundamente; ele nunca os esqueceu... A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi, em sua vida, conforme ele mesmo disse, "uma bênção indefinível".

Em 7 de maio de 1927 participou de sua primeira reunião espírita. Até 1931 recebeu muitas poesias e mensagens, várias das quais saíram a público, estampadas à revelia do médium em jornais e revistas, como de autoria de Francisco Xavier. Nesse mesmo ano, vê, pela primeira vez, o Espírito Emmanuel, seu inseparável mentor espiritual. Francisco Cândido Xavier - Chico Xavier - iniciou, publicamente, seu mandato mediúnico em 08 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo. Contando 17 anos de idade, recebeu as primeiras páginas mediúnicas. Em noite memorável, os Espíritos deram início a um dos trabalhos mais belos de toda a história da humanidade. Dezessete folhas de papel foram preenchidas, celeremente, versando sobre os deveres do espírita-cristão.

Depoimento de Chico Xavier: (...) "Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas, no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite.

Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo, animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer."

Emmanuel, nos primórdios da mediunidade de Chico Xavier, deu-lhe duas orientações básicas para o trabalho que deveria desempenhar. Fora de qualquer uma delas, tudo seria malogrado. Eis a primeira. - "Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus? - Sim, se os bons espíritos não me abandonarem... - respondeu o médium. - Não será você desamparado - disse-lhe Emmanuel - mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem. - E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? - tornou o Chico. - Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o Serviço... Porque o protetor se calasse o rapaz perguntou: - Qual é o primeiro? A resposta veio firme: - Disciplina. - E o segundo? - Disciplina. - E o terceiro? - Disciplina". A segunda mais importante orientação de Emmanuel para o médium é assim relembrada: - "Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo".

Em 1932 a FEB (Federação Espírita Brasileira) publicou seu primeiro livro, o famoso "Parnaso de Além-Túmulo"; hoje, as obras que psicografou vão a mais de 400. Várias delas estão traduzidas e publicadas em castelhano, esperanto, francês, inglês, japonês, grego, etc. De moral ilibada, realmente humilde e simples, Chico Xavier jamais auferiu vantagens, de qualquer espécie. Sua vida privada e pública tem sido objeto de toda especulação possível, na informação falada, escrita e televisionada. Críticas ferinas têm-no colhido de miúdo, sabendo suportá-las com verdadeiro espírita, ou seja, como verdadeiro cristão. Viajou com o médium Waldo Vieira aos Estados Unidos e à Europa, onde visitaram a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha e Portugal, sempre a serviço da Doutrina Espírita.

Chico Xavier é uma figura de projeção nacional e internacional; suas entrevistas despertaram a atenção de milhares de pessoas, mesmo alheias ao Espiritismo; apareceu em programas de TV, respondendo a perguntas as mais diversas, orientando as respostas pelos postulados espíritas. Recebeu o título de Cidadão Honorário de várias cidades, dentre elas, São José do Rio Preto, São Bernardo do Campo, Franca, Campinas, Santos, Catanduva, todas no Estado de São Paulo; Uberlândia, Araguari e Belo Horizonte, em Minas Gerais; Campos, no Estado do Rio de Janeiro, etc. Dos livros que psicografou já se venderam mais de 12 milhões de exemplares, só dos editados pela FEB, em número de 88.

"Parnaso de Além-Túmulo", a primeira obra publicada em 1932, provocou e comprovou a questão da identificação das produções mediúnicas, pelo pronunciamento espontâneo dos críticos, tais como Humberto de Campos, ainda encarnado na época, Agripino Grieco, severo crítico literário de renome nacional, Zeferino Brasil, poeta gaúcho, Edmundo Lys, cronista, Garcia Júnior, etc.

Prefaciando "Parnaso de Além-Túmulo", escreveu Manuel Quintão: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'".

Romances históricos formam a série Romana, de Emmanuel, composta de: "Há 2000 Anos...", "50 Anos Depois", "Ave, Cristo!", "Paulo e Estevão", provocando a elaboração do "Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel", de Roberto Macedo, estudo elucidativo dos eventos históricos citados nas obras. "Há 2000 Anos..." é o relato da encarnação de Emmanuel à época de Jesus.

O festejado escritor brasileiro Humberto de Campos, desencarnado em 1934, iniciou, em espírito, a transmissão de várias obras de crônicas e reportagens pela mediunidade de Chico Xavier, todas editadas pela Federação Espírita Brasileira, dentre as quais cita-se "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de 1938, o qual narra a história de nossa pátria e dos fatos e ela ligados em dimensão espiritual .

A série do espírito André Luiz é reveladora, doutrinária e científica; com obras notáveis no tocante à vida depois da desencarnação, a série nos traz: "Nosso Lar", "Os Mensageiros", "Missionários da Luz", "Obreiros da Vida Eterna", "No Mundo Maior", "Agenda Cristã", "Libertação", "Entre a Terra e o Céu", "Nos Domínios da Mediunidade", "Ação e Reação", "Evolução em dois Mundos", "Mecanismos da Mediunidade", "Conduta Espírita", "Sexo e Destino", "Desobsessão", "E a Vida Continua...".

De parceria com o médium Waldo Vieira, Chico Xavier psicografou 17 obras. A extraordinária capacidade mediúnica de Chico Xavier está comprovada pela grande quantidade de autores espirituais, da mais elevada categoria, que por seu intermédio se manifestaram. Vários de seus livros foram adaptados para encenação no palco e sob a forma de radionovelas e telenovelas. O dom mediúnico mais conhecido de Francisco Xavier é a psicografia Não é, todavia, o único. Ele manifestava e exercitava constantemente, na Terra, outras mediunidades, tais como: psicofonia, vidência, audiência, e outras.

Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares, e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro.

Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas, e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não, e em livros dos quais podemos citar: o opúsculo intitulado "Pinga-Fogo, Entrevistas", obra publicada pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras; "Trinta Anos com Chico Xavier", de Clóvis Tavares; "No Mundo de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Lindos Casos de Chico Xavier", de Ramiro Gama; "40 Anos no Mundo da Mediunidade", de Roque Jacinto; "A Psicografia ante os Tribunais", de Miguel Timponi; "Amor e Sabedoria de Emmanuel", de Clóvis Tavares; "Presença de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Chico Xavier Pede Licença", de Irmão Saulo, pseudônimo de Herculano Pires; "Nosso Amigo Xavier", de Luciano Napoleão; "Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias" e "O Prisioneiro de Cristo", de R. A. Ranieri; "Chico Xavier - Mandato de Amor", da U.E.M.; "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, dentre outros.

Eis então quando, em 1944, a viúva de Humberto de Campos ingressa em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "é ou não do ‘Espírito’ de Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, se apliquem as sanções previstas em Lei.

O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo, ocupou espaço nos principais periódicos do País. Para que tenhamos uma idéia do que representou o referido processo na divulgação dos postulados espíritas, resumimos aqui alguns dos principais depoimentos da época extraídos da obra do Dr. Miguel Timponi, o principal advogado que trabalhou na defesa do médium e da FEB. Antes, porém, sintamos a beleza das palavras a seguir, enfeixadas no livro A Psicografia ante os Tribunais:

"Entretanto, lá do Nordeste, desse Nordeste de encantamentos e de mistérios, a voz cheia de ternura e de emoção, de uma velhinha santificada pela dor e pelo sofrimento, D. Ana de Campos Veras, extremosa mãe do querido e popular escritor, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: 'Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão.
Conforme se vê da edição de 'O Globo' de 19 de julho de 1944, essa exma. senhora confirma que o estilo é do seu filho e assegura ao redator de 'O Povo' e 'Press Parga': "- Realmente - disse dona Ana Campos - li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada c om a de meu filho."

Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro "A Psicografia ante os Tribunais". Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários quando encarnado.
A Autora, D. Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal.

Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. E Chico continuou trabalhando incessantemente para Jesus!
Depoimento de Chico Xavier: "(...) Deus nos permita a satisfação de continuar sempre trabalhando na Grande Causa d'Ele, Nosso Senhor e Mestre. Desde criança, a figura do Cristo me impressiona. Ao perder minha mãe, aos cinco janeiros de idade, conforme os próprios ensinamentos dela, acreditei n'Ele, na certeza de que Ele me sustentaria. Conduzido a uma casa estranha, na qual conheceria muitas dificuldades para continuar vivendo, lembrava-me d'Ele, na convicção de que Ele era um amigo poderoso e compassivo que me enviaria recursos de resistência e ao ver minha mãe desencarnada pela primeira vez, com o cérebro infantil sem qualquer conhecimento dos conflitos religiosos que dividem a Humanidade, pedi a ela me abençoasse segundo o nosso hábito em família e lembro-me perfeitamente de que perguntei a ela: - Mamãe, foi Jesus que mandou a senhora nos buscar? Ela sorriu e respondeu: - Foi sim, mas Jesus deseja que vocês, os meus filhos espalhados, ainda fiquem me esperando... Aceitei o que ela dizia, embora chorasse, porque a referência a Jesus me tranqüilizava. Quando meu pai se casou pela segunda vez e a minha segunda mãe mandou me buscar para junto dela, notando-lhe a bondade natural, indaguei: - Foi Jesus quem enviou a senhora para nos reunir? Ela me disse: - Chico, isso não sei... Mas minha fé era tamanha que respondi: - Foi Ele sim... Minha mãe, quando me aparece, sempre me fala que Ele mandaria alguém nos buscar para a nossa casa. E Jesus sempre esteve e está em minhas lembranças como um Protetor Poderoso e Bom, não desaparecido, não longe, mas sempre perto, não indiferente aos nossos obstáculos humanos, e sim cada vez mais atuante e mais vivo".

Neste ínterim, não se pode negar o sentimento de veneração que envolve a nobre figura de Ismael, guia espiritual do Brasil enviado por Jesus. A responsabilidade que detém, na condição de mentor da Federação Espírita Brasileira suscita, da parte da comunidade espírita nacional, um profundo respeito, aliado a um imenso carinho e uma suave ternura. Certa vez, indagaram a Chico Xavier: - Como se processam os encontros, nas esferas resplandecentes da Espiritualidade, de Emmanuel com Ismael? Qual a postura do admirável Espírito do ex-senador romano, diante da também luminosa entidade a quem confiou Jesus os destinos do Brasil? Resposta do médium, curta, serena e firme: De joelhos!

Chico Xavier cursou somente o primário e, posteriormente, foi caixeiro de armazém e modesto funcionário público, aposentado em 1958. A partir de 1959 passou a residir em Uberaba (Minas Gerais)."A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinqüenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier - e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre suas páginas -, é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito - 'Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho' - seguida de uma panorâmica da História universal - 'A Caminho da Luz' e de alguns manuais do maior valor: 'Emmanuel, Dissertações Mediúnicas', 'O Consolador', 'Roteiro', etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranqüilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho". Francisco Thiesen, então Presidente da Federação Espírita Brasileira
"...Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico. Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo 'obras', refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de espíritos."
"Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude sentí-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens.

Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai." Quando fez 40 anos de mediunidade, Chico disse: "Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo, encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares, irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as mãos, os corações.

Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos, procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol, fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco, pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente, esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros, agora cento e dois livros, lemb ro este quadro que nunca me saiu da memória, para declararvos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento, já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou".

Na tarefa mediúnica: "Pergunta - Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais? Resposta - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: 'Temos algo a realizar.' Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu: 'Trinta livros pra começar!' Considerei, então: como avaliar esta informação se somos uma família sem maiores recursos, além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda tanto dinheiro!... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei: será que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel respondeu: 'Nada, nada disso. A maior sorte grande é a do trabalho com a fé viva na Providência de Deus. Os livros chegarão através de caminhos inesperados!'
Algum tempo depois, enviando as poesias de 'Parnaso de Além-Túmulo" para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grata surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros.

Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: 'Agora, começaremos uma nova série de trinta volumes!' Em 1958, indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciência: 'Você perguntou, em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a você que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.' Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: 'Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência, do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.'

Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: 'Sim, não temos outra alternativa!' Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: 'A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!' Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de 'Desígnios de Cima.' "

Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos segmentos. Psicografou mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais, abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura.

Dias e noites foram por ele ofertados aos seus semelhantes, com sacrifício da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza. Cabe observar que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedeceu e obedece a uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação exclusiva e constante com a felicidade do próximo.

Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto ao século XX, enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão, com milhares de mensagens psicográficas que, em catadupas de paz e luz, amor e esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito Emmanuel.

Chico desencarnou em 30 / 06 / 2002. Antes, porém, deitado, perguntou a um amigo se a seleção brasileira de futebol havia ganhado a copa do mundo. Tendo uma resposta afirmativa, Chico disse algo do tipo: "agora que todos estão alegres com a vitória do Brasil, eu posso ir em paz porque, neste momento de festa, ninguém vai ficar triste com a minha desencarnação". Novamente Chico, mesmo fisicamente enfermo, preocupava-se com o bem estar do próximo. Logo após teve uma parada cardíaca e, assim, voltou ao Mundo Espiritual, no qual foi recebido por Jesus.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 02:41
Quinta-feira , 01 de Abril DE 2010

AÇÃO COMPLEXA



Autor: Guillon Ribeiro

O Espiritismo é, em sua pujante força reveladora, a própria ação do Cristianismo, na plenitude de suas verdades eternas, lutando por desobrigar o homem de sua escória de sombras e sublimizar a Vida.

Abraça, desta forma, esforços dignificantes, amparando o presente e construindo um futuro melhor.

Promove a libertação das consciências para que o homem voe mais alto, buscando novos horizontes de equilíbrio e luz.

Facilita a especulação fenomênica a fim de que o exame fidedigno do intercâmbio entre as duas esferas de existência conduza à certeza plena da vida eterna, proporcionando novos climas de moralidade nas paisagens humanas.

Deixa-se inquirir por laboratórios ou gabinetes pesquisadores, evidenciando os círculos vibratórios em que a Vida se manifesta para apresentar, ao final, suas conclusões doutrinárias capazes de desalgemar as criaturas do cárcere da negação onde a crença se deprime.

Ensina que a morte física é seqüência normal nos círculos evolutivos onde a natureza presta serviços.

Mostra que o Espírito liberto prossegue nos empenhos depuradores buscando novas lutas na carne onde o aprendizado se enfatiza.

Em nome de Jesus, liberta obsidiados, cura enfermidades, multiplica favores às angústias do mundo, renova ensinamentos distribuindo a linfa preciosa que dessedenta os viajores nos desertos das provações...

Entretanto, convém notar que o Comando Divino não nos prodigalizou as bênçãos do Espiritismo sem objetivos transcendentes, qual se fora vaidoso monarca, espalhando, entre súditos extasiados, demonstrações e testemunhos de sua glória e poder.

Detendo-nos em exame mais rigoroso em torno da ação espírita, observando-lhe as tarefas desenvolvidas nos núcleos de serviços ao próximo, onde interesses afins dos dois planos da vida se harmonizam na conjugação de esforços, notaremos que duas frentes principais de realizações sublimes, amplas e entrosadas, se evidenciam em nome de Jesus.

A primeira, em regime de urgência, revela a misericórdia de Deus, socorrendo este enorme hospital, como a Terra se nos revela. A segunda, não menos urgente, revitaliza o ensino do Cristo de Deus com vistas ao futuro do homem.

Assim, Missionários do Amor Divino aprestam-se em mitigar o sofrimento e a lágrima, a dor e o desconforto dos endividados do caminho, convocando médiuns para o apostolado da fraterni- dade.

Resulta, daí, toda ação terapêutica com que o Espiritismo busca lenir os tormentos humanos. Médicos e enfermeiros do Além engajados nos encontros da mediunidade, atendendo ao serviço de passes, à fluidificação de águas, à cirurgia trans- cendental, ao receituário fraterno, à visita às famílias em crise e aos lares em desvalimento moral, desenvolvem amplas tarefas de assistência espiritual e dilatado auxílio desobsessivo com abrangências tais que, muitos de nós, os desencarnados mais vinculados ao orbe, quanto os companheiros encarnados, ainda não ousamos avaliar.

Estimula, também, em evidente prática do alívio ao sofrimento, os companheiros encarnados a promover a assistência material, onde a filantropia bafejada pelo amor cristão realiza prodígios de atendimento.

imensuráveis os valores da praxioterapia que algumas instituições Espíritas desenvolvem, favorecendo a valorização do tempo pelo bom emprego das horas, entre as habilidades que se aprimoram nos aparentemente incapacitados.

A Caridade, em todas as suas expressões, revela Jesus à nossa frente, espalhando conforto e bom ânimo.

Destacamos, todavia, a atividade espírita que olha à frente e perscruta o porvir, desejosa de iluminar o futuro. Planta agora para colher amanhã, sem titubear ante as borrascas injuriosas ou os agravos do terreno hostil que lhe espicaçam o devotamente e a esperança, trazendo o Cristo revitalizado na divulgação da Boa Nova.

Dizemos que aí se acha a ação preventiva do Espiritismo, preservando o futuro do homem, eliminando sombras do passado, reduzindo desequilíbrios de agora com vistas à iluminação do amanhã.

Benfeitores da Vida Maior não dispensam, também neste caso, o concurso de médiuns da palavra e do exemplo, inspirando os serviços de evangelização das gerações novas, aconchegando crianças e jovens aos ensinos de Jesus, quanto proporcionando à madureza valiosa incursão pela aprendizagem nobilitante, seja em palestras e conferências ou na intimidade dos estudos mediúnicos, seja nas reuniões entre pais e orientadores religiosos de infância e mocidade ou nas tertúlias e confraternizações onde as idades dos participantes se diluem na homogeneidade do todo fraternal integrado no exame de temas doutrinários.

Também, aqui, destacamos os postos avança- dos da tarefa de divulgação eficaz através de periódicos mais singelos aos jornais e revistas mais volumosos, da distribuirão de mensagens e páginas avulsas, ou da circulação do livro doutrinário, serviços que, de ordinário, se estribam nos Centros Espíritas orientados sob a Divina Inspiração.

Fácil entendermos a Codificação em seu tríplice aspecto, refletindo a operosidade do Cristo pela redenção do homem. Espiritismo, assim, é luz nos caminhos da Vida.

O Centro Espírita, entretanto, como célula primeira do movimento libertador de almas, é uma complexa oficina de realizações, as mais diversificadas, consolando hoje e construindo o amanhã, onde as forças dos céus estimulam o homem a organizar-se no Bem para avançar com a Luz.

(Mensagem psicografada pelo médium Júlio Cezar Grandi Ribeiro, na noite de 5-10-1970,
em reunião pública da Casa Espírita Cristã, Ibes, Vila Velha-ES.)
Reformador N°1806 – Setembro, 1979

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:24

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