AMIGOS ESPIRITUAIS

 

Providência Divina manifesta-se, incessantemente, em todas as situações e lugares, proporcionando vasta gama de recursos, com vistas à proteção, ao futuro e ao progresso das criaturas.

Esse amparo acontece de infinitos modos. Um deles dá-se por intermédio de tutores espirituais, conhecidos, no meio espírita, pelo nome de guias ou amigos espirituais.

É grandiosa e sublime a doutrina dos guias espirituais, pois revela a providência, a bondade e a justiça do Criador para com seus filhos, provendo-os de meios para o aperfeiçoamento.

Para efeitos didáticos, Kardec classificou os guias espirituais em três categorias: Espíritos protetores, Espíritos familiares e Espíritos simpáticos. (1)

O Espírito protetor, ou anjo guardião, é sempre um bom Espírito, mais evoluído. Trata-se de um orientador principal e superior.

Sua missão assemelha-se à de um pai com relação aos filhos: a de orientar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo em suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida. Os Espíritos protetores não constituem seres privilegiados, criados puros e perfeitos, mas sim “[...] Espíritos que chegaram à meta, depois de terem percorrido a estrada do progresso [...]”. (2)

São as almas que já trilharam as experiências de diferentes reencarnações – as mesmas pelas quais estamos passando –, e conquistaram, pelo próprio esforço, uma ordem elevada. (3)

A missão dos Espíritos protetores tem duração mais prolongada, pois estes acompanham o protegido desde o renascimento até a desencarnação, e muitas vezes durante várias existências corpóreas. Entretanto, a atuação do protetor espiritual não é de intervenção absoluta, pois, apesar de influir em nossa vontade, evita tomar decisões por nós e contra o nosso livre-arbítrio.

Sente-se feliz quando acertamos e sofre quando erramos, embora esse sofrimento não seja revestido das mesmas paixões humanas, porque ele sabe que, mais cedo ou mais tarde, o seu tutelado voltará ao bom caminho.

Os Espíritos protetores dedicam-se mais à orientação de uma pessoa, em particular, não deixando, entretanto, de velar por outros indivíduos, embora o façam com menos exclusividade. Exercem supervisão geral sobre nossas existências, tanto no aspecto intelectual, incluindo as questões de ordem material, (4) quanto moral, emprestando ênfase a esta última, por ser a que tem preponderância em nosso futuro de seres imortais.

Os Espíritos protetores, em realidade, jamais abandonam os seus protegidos, apenas se afastam ou “dão um tempo” quando estes não ouvem os seus conselhos.

Desde, porém, que chamados, voltam para os seus pupilos, a fim de auxiliá-los no recomeço.

Por isso, atentemos aos conselhos de Joanna de Ângelis:

Tem cuidado para que te não afastes psiquicamente do teu anjo guardião.

Ele jamais se aparta do seu protegido, mas este, por presunção ou ignorância, rompe os laços de ligação emocional e mental, debandando da rota libertadora.

Quando erres e experimentes a solidão, refaze o passo e busca-o pelo pensamento em oração, partindo de imediato para a ação edificante. (5)

Momento chega, porém, em que o aprendiz deixa de ser tutelado.

Isso acontece quando o Espírito atinge o ponto de guiar-se a si mesmo, estágio que, por enquanto, não se dá na Terra, planeta de expiação e provas. (6)

Os Espíritos familiares(7) são orientadores secundários. Embora menos evoluídos, igualmente querem o nosso bem. Podem ser os Espíritos de nossos parentes, familiares ou amigos. Seu poder é limitado e sua missão é mais ou menos temporária junto ao protegido.

Ocupam-se com as particularidades da vida íntima do protegido e só atuam por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores, como, por exemplo, quando o socorrido está recalcitrante e não ouve os conselhos superiores ou apresenta comportamento enigmático. Nessa hipótese, o Espírito familiar, por ter mais intimidade e vínculos sentimentais com o protegido, é aceito como colaborador, de modo a auxiliar na solução de problemas específicos.

Podem, por exemplo, influenciar na decisão de um casamento, (8) nas atividades profissionais(9) ou mesmo na tomada de decisões importantes que envolvam o cumprimento da lei de causa e efeito, (10) conforme a necessidade do atendido.

Já os Espíritos simpáticos podem ser bons ou maus, conforme a natureza das nossas disposições íntimas. Ligam-se a nós por uma certa semelhança de gostos, de acordo com nossas inclinações pessoais. A duração de suas relações, que também são temporárias, se acha subordinada a determinadas circunstâncias, vinculadas à persistência dos desejos e do comportamento de cada um. Se simpatizam com nossos ideais, com nossos projetos, procuram nos ajudar e,muitas vezes, tomam nossas dores contra nossos adversários, situação em que não contam com o beneplácito dos Espíritos protetores.

Portanto, ninguém, absolutamente ninguém, está desamparado.

Entretanto, Deus não nos atende pessoalmente, conforme nossos caprichos, mas por intermédio das suas leis imutáveis e de seus mensageiros, isto é, Deus auxilia as criaturas por intermédio das criaturas. Apesar disso, os orientadores espirituais não fazem por nós o trabalho que nos compete para o nosso crescimento moral e intelectual. Não existe parcialidade nem privilégio nas leis divinas, ou seja, cada um recebe de acordo com o seu merecimento, de conformidade com seus esforços.

O amigo espiritual comparece quando é invocado, por meio de uma simples prece.

Para ele, não há distância, lugar, tempo ou barreiras que o impeçam de atender a um apelo sincero, seja onde for: no lar, nos hospitais, nas ruas, no trabalho, nos cárceres e mesmo nas furnas da devassidão.

A ação dos orientadores espirituais é oculta, porque, se nos fosse permitido contar sempre com eles, seríamos tolhidos em nossa livre iniciativa e não progrediríamos.

Nisso também está a sabedoria divina, porque assim desenvolvemos melhor nossa inteligência e ganhamos mais experiência. Do contrário, permaneceríamos estacionados, como no caso de certos pais que sempre fazem tudo para os filhos, poupando-os de aborrecimentos e dificuldades, e, com isso, tirando deles a oportunidade do aprendizado e da experiência, com graves prejuízos para a sua formação moral.

Os Espíritos infelizes, ainda presos nas malhas da ignorância, que se empenham em nos desviar do bom caminho, por meio dos maus pensamentos e de outras estratégias que encontram motivação em nossas próprias fraquezas, não têm missão de fazer o mal.

Praticam esses atos por sua própria conta e responsabilidade e um dia terão que resgatar seus erros.

São Espíritos ainda atrasados moralmente, quais fomos um dia – de cujas mazelas também não nos libertamos integralmente –, e que, por sua vez, igualmente despertarão para o bem. Sua presença, entre nós, é útil, porque permite o adestramento de nossas faculdades, constituindo mesmo um campo de provas ou expiações, cujos obstáculos nos compete superar, na busca de caminhos alternativos para a libertação de nossas imperfeições que, na realidade, são o chamariz desses supostos adversários.

Como visto o Pai não nos cria a esmo, sem proteção, planejamento e finalidade. Dá-nos, em plenitude, todos os suprimentos necessários ao nosso desenvolvimento, tendo nos Espíritos protetores “[...] os mensageiros de Deus, encarregados de velar pela execução de seus desígnios em todo o Universo, que se sentem ditosos com o desempenho dessas missões gloriosas [...]”, (11) protetores esses que se utilizam do auxílio ou assessoramento dos guias espirituais das classes menos elevadas.

Os anjos ou protetores espirituais de hoje são os homens de ontem, que evoluíram, deixando para trás a animalidade. Essa ligação e interdependência entre os Espíritos das diversas faixas evolutivas, em permanente contato com o plano físico, formam o caleidoscópio da grande família universal, evidenciando as leis da unidade da Criação e da solidariedade entre os seres.

Deus, nosso Pai, não nos quer como autômatos, mas sim como parceiros, cocriadores, coparticipes, que temos a ventura de alcançar a perfeição pelas próprias forças, desfrutando o mérito da vitória sobre nós mesmos.

Lembremo-nos, finalmente, de que cada um de nós, encarnados, também pode e deve amparar o próximo, de acordo com a nossa capacidade e independente de nosso estágio evolutivo.

Assim procedendo, estaremos, por nossa vez, atuando como auxiliares dos guias espirituais, para o cumprimento dos desígnios divinos, na infinita escala que dá acesso aos cumes evolutivos.

 

(1) KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Q. 489-521.

(2) Idem. A gênese. 52. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 1, item 30.

(3)Idem. O céu e o inferno. 60. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 1, cap. 8.

(4)Idem. Obras póstumas. 40. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2207. P. 2, A minha primeira iniciação no Espiritismo, item Meu Guia espiritual, p. 304.

(5)FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos enriquecedores. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL, 1994.

(6)KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Q. 500.

(7)Entenda-se “familiares” num sentido mais amplo e não apenas no sentido da parentela corporal.

(8)XAVIER, Francisco C. E a vida continua... Pelo Espírito André Luiz. Ed. Especial. 1. Reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.Cap. 25.

(9)Idem. Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 34. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 15.

(10)Idem. Missionários da luz. 43. ed. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 12.

(11)KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. P. 1, cap. 1, item 2, p. 22.

 

CHRISTIANO TORCHI

Reformador Jun/09

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:56